Desigualdade sem igual


 
Desigualdade sem igual  -    
Seminário   discutiu dilemas da  segregação social brasileira
Carlos Haag
Edição Impressa 169 - Março 2010
© Tuca Vieira/Folha Imagem
Mar de desigualdade: prédio no Morumbi e favela em Paraisópolis









O escritor americano F. Scott Fitzgerald não tinha dúvidas em afirmar que nós, os pobres mortais, éramos diferentes dos ricos, porque, afinal de contas, eles tinham mais dinheiro do que nós. Mas será que apenas o dinheiro basta para explicar tudo? Os indicadores de desigualdade e da renda têm mostrado que essa diferença entre ricos e pobres no Brasil vem caindo, mas será que apenas eles bastam para nos dar um painel preciso do que é a segregação social nacional? “A renda é uma dimensão muito relevante para a análise da pobreza e da desigualdade e não é à toa que as comparações internacionais focam esta dimensão. Entretanto, nosso esforço no Centro de Estudos da Metrópole (CEM) tem se orientado a examinar a pobreza e a desigualdade em suas múltiplas facetas, porque a situação de pobreza de um indivíduo é resultado da combinação de diferentes aspectos, além da renda. Estes são: seu acesso ao mercado formal de trabalho, aos serviços públicos e a vínculos sociais e associativos. A situação de desproteção de um indivíduo é resultado dessas múltiplas dimensões”, explica a diretora do CEM, a cientista política Marta Arretche.
Assim, continua a pesquisadora, embora seja importante que nos pautemos por trabalhos recentes que mostram que a distribuição recente tenha melhorado como forma de entender o que acontece no país, não se pode deixar de levar em conta outras facetas da pobreza e desigualdade que têm igualmente um grande impacto no bem-estar das pessoas, e os estudos do CEM se preocupam exatamente em ampliar essa visão. 
Daí o seminário internacional Metrópole e Desigualdades que aconteceu entre os dias 24 e 26 deste mês, mais uma etapa no processo de internacionalização desse Cepid (Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão) da FAPESP, que também é um INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia). O seminário discutirá justamente esses três eixos de pesquisa e as peculiaridades do processo brasileiro de desenvolvimento recente.
 “Nossas pesquisas partem do pressuposto teórico de que o trabalho, os serviços sociais e a sociabilidade são mecanismos decisivos para a superação de atenuação das situações de pobreza. Você pode ter dois indivíduos com a mesma renda nominal, mas, se um deles tem acesso a habitação subvencionada pelo Estado, saúde etc. e o outro não tem, um é mais pobre e segregado do que o outro. É preciso analisar sempre além da renda e é isso que o seminário propõe. Isso, aliás, está em sintonia com os estudos internacionais mais recentes”, analisa Marta. “A pobreza até pode estar sendo atenuada, mas por outro lado a desigualdade pode estar sendo reproduzida.” 
O primeiro eixo do seminário tratará do acesso ao mercado de trabalho e se inicia com uma leitura inusitadamente “otimista” do estado atual da metrópole paulistana. “Os fluxos migratórios mudaram de sinal já nos anos 1990, quando passaram a apresentar sinais líquidos negativos após décadas de crescimento acelerado, uma tendência que se explica tanto por fatores locais, como a perda de dinamismo do mercado de trabalho de menor qualificação e o alto custo da moradia, quanto por fatores externos como o surgimento de novos polos de desenvolvimento em outras regiões do país”, explica o sociólogo Álvaro Comin, do CEM. 
Ou seja, São Paulo, ao contrário do que se dizia, parou de crescer e de receber migrantes, com mais gente saindo que entrando, em especial a força de trabalho de menor qualificação. “Está havendo uma redução na participação relativa da parcela mais pobre e menos escolarizada da população.” Mais: segundo o pesquisador, entre 2003 e 2007 o crescimento do emprego formal foi da ordem de 4,15% ao ano e pela primeira vez em duas décadas o número de pessoas com carteira assinada supera os 50%. 
“A cidade está ganhando em serviços mais sofisticados e a demanda de mão de obra foi em força de trabalho dita mais elitizada, o que sugere que será uma metrópole com perfil mais ‘classe média’”, explica Comin. Ao mesmo tempo, acompanhando essa evolução, cresce também o nível de escolaridade. “Os indivíduos formalmente empregados têm muito mais chances de se manter atualizados em suas áreas de atuação, reduzindo os riscos de desemprego e aumentando suas oportunidades de progressão profissional.” Até aí tudo parece indicar um mundo ideal. Mas é nesse ponto que surge a inflexão da desigualdade com o aparecimento  de um novo padrão de segregação: os mais pobres que não se encaixam nessa nova estrutura, mas ainda dependem da cidade para sobreviver (empregadas domésticas e outros tipos de empregado), são obrigados a morar cada vez mais longe, porque a cidade não os comporta, seja pelo preço da moradia, seja pelo novo perfil exigido. 
“É um ciclo complexo: a cidade fechou suas portas para um determinado tipo de trabalhador, que se vê obrigado a morar em municípios próximos ou regiões próximas, expulso da metrópole. Agora problemas como transporte, enchentes etc. viram questões imensas. O que havia para ‘comemorar’ num primeiro momento é motivo de grande preocupação quando se pensa melhor”, observa o pesquisador. Afinal, as questões ganham esfera metropolitana, já que as mazelas englobam áreas mais distantes e com certeza mais pobres e com menores condições de resolução do que uma metrópole como São Paulo, pondera Comin. “Além disso, você só trabalha com duas esferas: o Estado de São Paulo e as prefeituras, que não colaboram entre si, basta lembrar da guerra fiscal e das questões dos  partidos políticos.” 
Até mesmo o perfil industrial de São Paulo está alterado, embora o estado continue a concentrar os mesmos 50% da produção industrial em sua área. “As indústrias tradicionais que usavam trabalhadores comuns estão indo para o interior e a cidade está com a indústria que usa mais tecnologia. A economia da cidade está mais intensiva em capital e menos intensiva em força de trabalho.”
© MARCOS D’PAULA/AGÊNCIA ESTADO
Reflexos: trabalho, redes sociais e serviços públicos para explicar a segregação 


Expulsão - “No geral, a pobreza está sendo convidada a se retirar da cidade e estamos exportando problemas como favela, miséria, falta de saúde, entre outros. Ao mesmo tempo, os ‘expulsos’ estão sendo impedidos de usar sistemas de serviços públicos de outros lugares, porque pedem a eles comprovantes de trabalho e residência. Daqui a 20 anos, quando olharmos São Paulo, pode-se até pensar que tudo está bem, mas os problemas vão estar na nossa frente, logo adiante do rio, nas cidades em torno, com a diferença de que essas cidades têm pouca chance, como nós, de fazer política e mudanças”, avisa Comin. 
As pesquisas de Nadya Guimarães, do CEM, mostram outra realidade cruel. “Agora se pede diploma de segundo grau ou universitário para qualquer função. Um gari da prefeitura, por exemplo, precisa apresentar diploma de segundo grau, tamanha a distorção. É um efeito perverso dessa ‘elitização’ da cidade. Um auxiliar de escritório precisa apresentar diploma universitário, sabe-se lá de que faculdade, mas precisa. A pergunta que fica é: qual é a recompensa de se ter estudado para acabar fazendo telemarketing e ganhar tão pouco? Confirmando o que já está na nossa cultura de que o estudo não leva a nada.” “Tudo o que parece bom da imagem de São Paulo parece, na verdade, trazer um quê de ruim”, nota Comin. 
Um outro eixo da desigualdade estudado pelo CEM está nas chamadas redes de sociabilidade. “A pobreza tem uma dimensão territorial: pessoas pobres podem estar segregadas espacialmente, mas podem estar unidas espacialmente, combatendo exatamente esse efeito da segregação. A questão da desigualdade de acesso a políticas de sociabilidade faz indivíduos terem condições e futuros diferentes”, explica o sociólogo Eduardo Marques, do CEM. 
A partir de mapas que mostram as redes de sociabilidade de indivíduos, Marques mostrou que essas relações com vizinhos, familiares, amigos, colegas etc. importam muito, acima de escolaridade e outros fatores, se o indivíduo está ou não empregado, a qualidade do emprego e a sua renda. A partir desses dados, o pesquisador formulou propostas para o Estado que poderiam aproveitar essa relação inevitável entre indivíduos e suas relações interpessoais, uma forma eficiente de auxiliar na hora de tentar encontrar emprego. 
Afinal, uma pesquisa de Nadya Guimarães feita junto a desempregados que procuravam trabalho em agências públicas e privadas revelou que 80% dos entrevistados conseguiram ocupação por meio de sua rede de amigos em outra ocasião em detrimento das agências (o que, é claro, não os impede de tentar os organismos como reforço). “Isso revela que pessoas com amigos têm muito mais chances de ter um emprego e, assim, ampliar a renda e, logo, diminuir a desigualdade, por meio de suas relações pessoais, mostrando que essas redes de relações são mais efetivas do que as políticas públicas”, analisa Marta. 
“O combate à pobreza não pode de forma alguma prescindir das políticas sociais tradicionais, assim como de políticas macroeconômicas que promovam empregos de boa qualidade e em grande quantidade. Mas dado que algumas redes apresentam padrões importantes de penetração no tecido relacional das comunidades, a sua integração às políticas do Estado pode ajudar a lhes dar maior resolubilidade, tanto fazendo as políticas chegarem aos seus usuários de forma mais precisa quanto ajudando a customizá-las, inclusive em termos de linguagem, mediando culturalmente as relações entre o Estado e as comunidades”, observa Marques. 
“No caso específico do emprego, o desenvolvimento de agências de emprego que disponibilizem informação integrada sobre trabalho, mas se localizem de forma radicalmente descentralizada nas comunidades, poderia auxiliar na redução do efeito do mecanismo da localização inicial do migrante e de entrada de jovens no mercado de trabalho, distribuindo mais equitativamente acessos a informações e estruturas relacionais pouco locais.”  
Favor - Se o emprego ainda depende daquela informação amiga de um amigo, a boa notícia está no terceiro eixo de pesquisas do seminário sobre os serviços públicos. “Se você pegar alguém numa situação bem difícil: ele está desempregado numa metrópole. Como estará a vida dele? Apesar de todas as dificuldades, hoje os filhos dele podem continuar na escola e ele continuará contando com os serviços de saúde. Tudo isso sem precisar de favores ou benesses de nenhum político”, conta Marta Arretche. “A situação dele numa metrópole, com certeza, é bem melhor do que se não estivesse nela.” 
Segundo a pesquisadora, as regiões metropolitanas não são os piores lugares do Brasil. “Classifiquei todas as cidades nacionais segundo essa perspectiva ampliada da pobreza que caracteriza os estudos do CEM: renda, saúde, educação e habitação. Todas foram classificadas segundo um índice que varia de 1 a 6, no qual 1 indica as cidades com melhor situação e 6 as cidades com a pior situação de renda e social. A grande maioria das cidades das regiões metropolitanas está entre 1 e 2, ou seja, entre aquelas com os melhores indicadores”, explica.  Para ela, os principais problemas parecem ser as condições de mobilidade urbana, isto é, infraestrutura urbana e transporte. Outro dado positivo levantado por Nadya Guimarães é que 98% das pessoas nas grandes metrópoles (Rio, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo) têm acesso aos serviços públicos diretamente, o que indica a quase extinção do clientelismo nesse campo. Estudos comparados indicam que a desigualdade de acesso a serviços públicos no mundo vem caindo, ao passo que a desigualdade de renda vem aumentando. 
“Nessa perspectiva, o Brasil parece estar seguindo uma trajetória particular, pois a democracia brasileira tem conseguido produzir redução da desigualdade de renda combinada à redução da desigualdade de acesso a serviços públicos”, pondera a diretora do CEM. A desigualdade também pede uma reflexão política, e não apenas econômica. 
“A expectativa da maior parte dos cientistas sociais no início da década de 1990 era de que o Estado brasileiro seria incapaz de atender às demandas da dívida social herdada do regime militar. A ampliação da participação política combinada à incapacidade do Estado para atender às demandas por integração social constituiriam uma séria ameaça à democracia”, diz Marta. “Essas expectativas se mostraram infundadas, pois a democracia brasileira tem revelado paulatina capacidade de incorporação social, ou seja, o Brasil está seguindo a trajetória clássica das democracias modernas nas quais a participação política cria oportunidades e incentivos institucionais para uma progressiva integração social das massas.” 
Foram as instituições políticas brasileiras que permitiram a incorporação do eleitorado e a entrada das demandas. “Inclusive das camadas mais baixas. Os governos que se seguiram à ditadura levaram cada vez mais adiante na agenda da redemocratização o resgate da dívida social deixada pela ditadura. Não há dúvida de que a concentração de renda e o acesso limitado das camadas mais baixas da sociedade tiveram origem na configuração de forças políticas e nas políticas públicas priorizadas pelos governos de plantão”, afirma a cientista política Argelina Figueiredo. “Desde a redemocratização nos anos 1980 esse quadro social começou a mudar e vem mudando com intensidade cada vez maior. A dimensão dessa mudança mostraria que ela foi significativa se compararmos com o timing de processos de mudança social equivalentes nos países hoje com democracia considerada ‘consolidada’.” 

Fonte: Fapesp

FALTA “NEURÔNIO” AO ENSINO SUPERIOR, DIZ FHC



FALTA “NEURÔNIO” AO ENSINO SUPERIOR, DIZ FHC

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Ana Okada
Em São Paulo

Para que haja uma reinvenção do atual ensino superior brasileiro, "falta neurônio", afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante palestra na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), ocorrida na quarta-feira (24). Para ele, as universidades devem ser as responsáveis por trazer novos modelos culturais de pensamento para a sociedade e, assim, gerar mudança e progresso no país.
"Se a universidade não for capaz de criar modelos de convivência eficientes, nós não vamos ter uma sociedade decente. E vamos ter uma economia horrorosa", disse o político e acadêmico que governou o Brasil entre 1995 e 2002.
FHC explica que a universidade no Brasil ainda tem dificuldades em participar ativamente das decisões e mudanças da sociedade. "A capacidade da universidade [brasileira] de dialogar e difundir valores é muito ruim. A produção acadêmica brasileira cresce muito, já estamos superando Espanha e Itália, mas em patentes a situação ainda é complicada", diz. Ele cita os Estados Unidos como um país em que a atuação dos acadêmicos é bastante valorizada. 
Meritocracia
O ex-presidente aponta o incentivo pelo mérito como uma das ações para a melhoria da educação. Ele cita o sucesso do ensino na China e o salto econômico dado pelo país como exemplo: "A China virou uma escola [para o mundo], em que todo mundo tenta aprender".
Ele contrasta a escola chinesa e a brasileira: enquanto a primeira tem a família do aluno como ponto de apoio e o incentiva a ser o melhor; no ensino brasileiro, boa parte dos pais não têm como ser base dos estudantes, uma vez que eles não foram à escola.
Para FHC, o fato de ser recente é a razão para que sistemas de avaliação do ensino ainda sejam rejeitados pelos docentes: "Hoje se tem uma greve em São Paulo em parte contra isso. Até hoje não se aceita que haja incentivo pecuniário para quem for melhor", diz.
"Não acredito que a meritocracia possa substituir a democracia, mas acho que é preciso prestar atenção, pois ela pode significar um grande desafio que além de ter uma força econômica, baseia suas grandes decisões num sistema de mérito", afirmou. 
Gasto melhor
O ex-presidente também defende que o formato ensino superior e o prestígio dele na sociedade precisam ser revistos. "Nas universidades da Inglaterra e da França a situação econômica não é tão diversa daqui, o que é diferente é a posição na sociedade, o professor é valorizado", aponta.
 "Se quisermos pensar estrategicamente, temos que ter um gasto melhor. Não é aumento de salário, mas um gasto para melhorar a cabeça das pessoas. É preciso olhar o qualitativo."

Conduta Anatomia do terror

Conduta
Anatomia do terror


Os impulsos que movem alguns indivíduos e os impelem aos crimes hediondos, como os imputados aos serial killers, continuam sendo um dos maiores desafios para criminalistas, psiquiatras e profissionais psi alguns indivíduos e os impelem aos crimes hediondos, como os imputados aos serial killers, continuam sendo um dos maiores desafios para criminalistas, psiquiatras e profissionais psi

Por Fernando Savaglia

O mais famoso assassino em série, talvez tenha sido Jack, o Estripador. Sua verdadeira identidade permanece sendo um dos grandes mistérios das investigações criminais de todos os tempos. Cinco mulheres foram assassinadas de maneira brutal, o que chocou a Londres vitoriana no final do século XIX.
De 1966 a 1974, foi a vez da Califórnia estremecer com os crimes daquele que ficou conhecido como “O Zodíaco”. Narcisista, gostava de desafiar a polícia por meio das cartas que enviava aos principais jornais de São Francisco. Atribui-se a ele o assassinato de 37 pessoas. Sua alcunha se deve à prática de desenhar símbolos astrológicos ao lado de suas vítimas. Como Jack, nunca teve sua identidade revelada.
De mal a pior
Uma dica para quem tem o canal Discovery Channel é o seriado Índice da Maldade. Nele, somos apresentados à história dramatizada de um determinado serial killer por capítulo, mostrando sua infância e os eventos que ocasionaram seu comportamento assassino. Especialistas comentam os acontecimentos e, no final de cada episódio, o criminoso é enquadrado em uma escala de 0 a 16 de periculosidade, sendo a décima sexta posição a de maior perigo.
O famoso filme Psicose, do diretor Alfred Hitchcok, foi inspirado nos crimes de Eddie Gleinn. Com 54 anos de idade, depois da morte da mãe repressora e fanática religiosa, o fazendeiro deu início a uma série de crimes hediondos. Na época de sua captura, a morbidez revelada chocou o País. Foi encontrada na sua casa uma extensa coleção de objetos confeccionados com pele humana, um corpo decapitado e o cadáver de sua mãe empalhado.
Já o ucraniano Andrei Chikatilo matou e mutilou dezenas de pessoas por vinte anos na ex-União Soviética. Violento e angustiado, tinha como hábito extirpar os testículos de suas vítimas. Foi fuzilado em 1994.
A história de John Wayne Gacy Junior talvez seja a mais curiosa dentre os criminosos conhecidos como serial killers. Quando criança era a principal vítima de seu pai, um violento alcoólatra. Aos trinta anos começou a matar homens e garotos. Uma curiosidade: Gacy era palhaço amador nas horas vagas, o que o tornou muito querido pelas crianças do bairro em que morava em Chicago. Na sua casa foram encontrados corpos de 27 pessoas.
Estes e outros casos foram descritos e analisados minuciosamente no inquietante livro Perfil de Uma Mente Criminosa, de Brian Innes, publicado no Brasil pela Editora Escala.
Quando nos deparamos com mortes aparentemente sem sentido como estas, que de alguma maneira escancaram nossa vulnerabilidade no mundo, é natural que busquemos explicações científicas, filosóficas ou psíquicas, na ânsia de, ao menos, ordenar e padronizar os motivos de tais atos. A história da humanidade está repleta de crimes hediondos. Nas próximas páginas vamos averiguar porque tais crimes são cometidos e tentar responder a esta questão.



Imagem: Shutterstock

Psicooatia ou Pscose?

Relatos de crimes aterrorizantes são tão antigos quanto a própria civilização. A personalidade dos criminosos que os perpetram passou a ser estudada de maneira mais aprofundada a partir de 1930 na Alemanha. Na ocasião, o psiquiatra Karl Berg empreendeu aquela que é considerada a primeira entrevista com um serial killer, no caso Peter Kürten, descrito como uma pessoa amável que, entretanto, ficou conhecido como o Vampiro de Düsseldorf por ter assassinado e mutilado oito mulheres, entre elas, crianças e adolescentes.
O termo “serial killer” foi criado pelo criminalista norte-americano Robert Ressler, especialista em crimes violentos que, após décadas atuando no FBI, ainda hoje presta consultoria à policia federal norte-americana.
Ressler dividiu esses criminosos em três categorias: a primeira seria daqueles que sofrem de psicoses e apresentam sintomas de esquizofrenia, como escutar vozes e sofrer de alucinações, que a partir daí partiriam para a execução dos crimes. O ex-agente do FBI coloca em outro grupo aqueles que sentem um prazer sádico em planejar de maneira metódica o que antecede e o que sucede à morte de suas vítimas. Na terceira categoria estariam os criminosos que apresentam de maneira simultânea as duas características descritas nos grupos anteriores.
Outros pesquisadores buscaram, também, classificações que pudessem auxiliar na diferenciação do perfil psicológico dos assassinos. O psiquiatra James de Burguer, por exemplo, acrescenta uma outra categoria à lista de Ressler: os que acreditam que estão livrando a sociedade de algum grupo que representa um desvio de conduta moral, como prostitutas ou homossexuais, ou que personifique alguma ameaça à comunidade.
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Reprodução: PERFIL DE UMA MENTE CRIMINOSA
Com traumas de infância, John Wayne Gacy Junior cresceu perturbado pela humilhação que sofria do pai. Foi preso ao ter relações sexuais com um garoto em um banheiro público. Liberto, anos depois, tornou-se palhaço. Conquistou a confiança da comunidade de Chicago, principalmente das crianças. Descobriu-se que ele matava e mutilava os jovens em sua casa
É importante ressaltar que, apesar da palavra “psicopata” ser comumente relacionada com os assassinos seriais, nem todos podem ser classificados como tal, porque a grande maioria dos psicopatas não apresenta impulsos violentos.
Comumente usada no jargão psiquiátrico, a classificação das psicopatias gera discussão entre profissionais dessa especialidade médica.
Considerado uma das maiores autoridades da Psiquiatria Forense no Brasil, o médico Guido Palomba há muito anos deixou de usar a palavra, por não achá-la adequada, “de acordo com a etimologia, psicopatia quer dizer uma psique patológica, mas qualquer psicose também significa uma psique com patologias. Acho que o termo mais apropriado é ‘condutopata’. É uma conduta patológica”.
Palomba ressalta a diferença de comportamento entre aqueles a quem chama de condutopatas e os psicóticos. “De um lado, você tem os condutopatas, que não deliram nem sofrem vidade alucinações, mas têm distúrbios de conduta comportamental. Do outro, os que sofrem de psicoses. Estes últimos normalmente apresentam delírios de perseguição, escutam vozes, etc. Psicoses como esquizofrenia e paranoia possuem essas características. Infelizmente, entre o delírio e a realidade, o doente mental fica com a alucinação. Assassinos em série podem ser de ambos os tipos”, explica o médico.




Em série e em massa
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De acordo com o psiquiatra Kurt Schneider, que cunhou o termo “psicopata” nos anos 1940, estes indivíduos teriam como traço mais marcante o uso praticamente exclusivo de suas faculdades racionais em detrimento da afetividade, isto é, um sujeito que não possui a mínima empatia por outras pessoas, as quais serão sempre usadas para que ele obtenha poder, status, diversão, etc. “O condutopata tem de anormal um distúrbio na vontade, ele tem um ‘querer’ patológico. O sentimento é todo voltado para si mesmo, por isso não há culpa. Se você perguntar para o sujeito que tenha cometido algum crime se está arrependido do que fez, ele vai dizer que sim, pois está preso. No entanto, não demonstrará nenhuma ressonância com a sorte da vítima”, esclarece Palomba. Segundo ele, uma a cada 25 pessoas possui algum traço de psicopatia e destes, para cada grupo de quatro indivíduos classificados como tal, apenas um seria mulher. A ciência ainda não tem uma explicação razoável para esta maior incidência entre o sexo masculino.
Mulheres apaixonadas
Não são poucas as mulheres que se apaixonam por psicopatas reclusos. Informação divulgada sobre a quantidade de cartas de mulheres apaixonadas que Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”, recebia na prisão gerou perplexidade em muita gente. A psicanalista Josefina Rovira Prunor credita o fato ao delírio onipotente de algumas mulheres: “a pessoa acredita que o amor dela seria capaz de curá-lo e fazer emergir nele um lado afetuoso”. Outra teoria, que explicaria também esse encantamento, pode estar vinculada à “pulsão de morte” – descrita por Freud no livro Além do Princípio do Prazer, de 1920 – que por sua vez levaria à perversão masoquista. “Tudo é uma questão de encaixe. O masoquista será sempre atraído pelo sádico”, arremata a também psicanalista Rosana Ferreira Machado
Também não há consenso, ainda, sobre qual o mais eficaz método para avaliação do acometimento da disfunção. Entrevistas ou testes, como o desenvolvido pelo psicólogo Robert Hare, atualmente o mais usual, ainda geram alguma discussão nos meios acadêmicos.
A comprovação da existência do Transtorno de Personalidade Social (TPS) em algumas pessoas vem servindo nos últimos anos como principal pista para um diagnóstico. Porém, alguns especialistas afirmam que mesmo a comprovação da presença da patologia não é suficiente para o enquadramento do indivíduo como psicopata, dada a dificuldade de se estabelecer uma diferenciação dos sintomas comuns ao TPS com os de um paciente com traços esquizoides, por exemplo.



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O psiquiatra norte-americano Michael Stone empreendeu extensa pesquisa sobre o assunto com criminosos seriais. Os resultados obtidos dão uma noção de quão árdua pode ser a tarefa de se enquadrar essas pessoas em um diagnóstico descrito em manuais como o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). De acordo com o estudo de Stone, cerca de 86% dos serial killers podem ser classificados como psicopatas a partir do teste proposto por Hare. Já 9% apresentaram alguns sintomas da patologia, porém não suficientes para serem diagnosticados como tal. A partir da descrição do DSM é possível enquadrar 50% dos entrevistados também como portadores de personalidade esquizoide, em que o principal sintoma é a hipervalorização do mundo interior em detrimento da realidade externa.
Este perfil, segundo alguns pesquisadores, se enquadra mais nas características dos mass murders (assassinatos em massa), nos quais os criminosos matam indiscriminadamente o máximo de pessoas possível numa única investida. Ainda que ocorram em todo o mundo, o país de maior ocorrência destes eventos aterrorizantes são os Estados Unidos. O caso mais recente, ocorrido em abril de 2007 na Universidade Técnica da Virginia, deixou um saldo macabro: 32 mortos e o suicídio do autor dos crimes, o estudante Seug Cho. O perfil psicológico destes criminosos, segundo descrição de peritos, na maioria dos casos inclui baixa autoestima, tendência a culpar os outros por fracassos e isolamento social.
Criminosos na literatura
Perfil de uma mente criminosa Por Brian Inmes Editora Escala 114 páginas R$ 49,90
O perfil psicológico de assassinos do mundo inteiro é o principal foco do livro Perfil de uma Mente Criminosa (Editora Escala, 2009). A obra aborda a questão histórica da Medicina em busca de uma característica física que pudesse apontar a natureza criminosa. Também analisa a inserção da Psicologia nas investigações que contam com a ajuda das teorias de famosos pensadores como Gustav Jung e o pai da Psicanálise, Freud, para entender as mentes criminosas e a importância desta ciência na resolução dos crimes. O leitor poderá conhecer em detalhes as histórias de diversos criminosos, entre eles, Jack, o estripador; O vampiro de Düsseldorf e o Estripador de Yorkshire, entendendo desde o processo de descoberta dos assassinos até a descrição de suas motivações para as atrocidades. Toda a obra vem repleta de imagens, fotos dos incidentes, cartas, fotografia dos assassinos, das vítimas, das armas, entre outras curiosidades.
No Brasil, o caso mais famoso foi do ex-estudante de medicina Mateus da Costa Meira que, armado com uma submetralhadora de 9 mm, disparou diversos tiros contra uma plateia de cinema do Morumbi Shopping (zona sul de São Paulo) em 1999 e matou três pessoas. Em entrevista publicada na Revista Época em 2000, a mãe Alina da Costa Meira relata que o filho começou a apresentar quadro de depressão e agressão excessiva a partir dos 13 anos, sem motivo aparente. Ainda nesta época, comentava que não tinha amigos e que queria se suicidar. Chegou a passar por tratamentos psicológicos e internações. Na sentença do crime, a alegação de que sofre de desvio mental e que seria semiimputável (ou seja, que possui apenas consciência parcial dos fatos) não foi aceita. Essa alegação da defesa poderia resultar na diminuição da pena em até dois terços. Laudos envolvendo características mentais dos criminosos sempre geram polêmica.








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Crianças assassinas
Um estudo estadunidense revela que crianças que maltratam, torturam ou matam animais tem um grande potencial para se tornarem assassinas na vida adulta. A pesquisa foi realizada pelo Federal Bureau of Investigation (FBI, a polícia federal norte-americana), que analisou a história de vida de diversos criminosos nos Estados Unidos. Outro estudo realizado na terra do Tio Sam verifica o perfil dos casos de crueldade animal. Conduzido pela Humane Society of the United States (HSUS), descobriu que 94% da crueldade animal intencional foi cometida por homens e que 31% dos responsáveis tinham 18 anos ou menos.
O quebra-cabeça
Mas qual fator seria o predominante para desencadear a formação de uma personalidade doentia, capaz de cometer crimes hediondos?
“Todos os processos são endógenos”, afirma Guido Palomba. As causas biológicas, segundo o psiquiatra forense, podem ser inúmeras. O médico explicaque algum comprometimento do lobo frontal, parental, meningite, anóxia no parto, etc, podem predispor o sujeito a cometer crimes.
Patologias como a epilepsia, por exemplo, são comumente relacionados a crimes hediondos, principalmente aqueles que têm como principais características a ausência de motivos plausíveis para serem cometidos e a ferocidade na execução. Especializado em diagnósticos, Palomba explica, “a epilepsia não é só aquela que normalmente as pessoas conhecem dos quadros em que há desmaio e uma convulsão epilética. Esta é simples de se diagnosticar. Existem as epilepsias psicóticas, que não se refl etem nos músculos, mas atacam o lobo frontal, o que leva, inclusive, o individuo a ter delírios”.
Fatores genéticos também devem ser levados em conta nesta equação, segundo o especialista. “Muitas pessoas nascem com a propensão de se tornarem criminosas. Porém, é obvio que não é porque a pessoa possui uma disfunção endógena que vai trilhar este caminho, assim como acredito que apenas uma vivência dolorosa no passado não tem força para criar indivíduos capazes de praticar crimes monstruosos”.
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Crimes na sétima arte
O cinema recorre constantemente a personagens psicopatas para montar tramas densas e enigmáticas. Quem não se lembra do massacre na escola americana de Columbine, quando dois adolescentes metralharam colegas e professores. Essa tragédia foi traduzida para a arte do cinema sob o nome de Elefante, dirigido por Gus Van Sant. O filme mostra a vida cotidiana dos alunos da escola que se tornou palco de uma das mais sangrentas páginas dos Estados Unidos. Assistimos a dois amigos que compram uma metralhadora e resolvem acertar contas com as pessoas que tinham desavenças. Ainda falando de jovens, o filme Anjo Malvado, estrelado por Macaulay Culkin, mostra um garoto de 12 anos que começa a praticar atos de maldade gratuita após a morte de sua mãe. A frieza e o grau das maldades praticadas pela criança assustam e impressionam. No ano de 1993, outro filme impressionante chega aos cinemas: Encaixotando Helena. Trata-se da história de um cirurgião que se apaixona por uma prostituta e não é correspondido.
Para impedir que a garota fuja, ele é capaz de levar tudo às últimas consequências, e começa a amputar membros de sua amada. Como não falar então do clássico filme Psicose, do mestre do cinema Alfred Hitchcock, que apresenta a história de uma mulher que se hospeda em um hotel de beira de estrada e conhece o misterioso dono que, na verdade, é um psicótico esquizofrênico. Contudo, o prêmio de maior serial killer da história do cinema está entre dois personagens: Hannibal Lecter e Jigsaw. O primeiro protagoniza uma trilogia iniciada pelo filme
Silêncio dos Inocentes. Hannibal é um serial killer preso que presta ajuda a uma policial iniciante para desvendar a mente de outro assassino desconhecido. Enquanto isso, Jigsaw é o homem por detrás do boneco bizarro do sangrento filme Jogos Mortais, onde pessoas são obrigadas a realizar tarefas que envolvem raciocínio, muita dor e escolhas difíceis para sobreviverem. Um filme de tanto sucesso que já está em sua sexta continuação, sempre trazendo pontos da história do serial killer e mostrando suas motivações para os assassinatos em série.



Palomba faz coro com a hipótese mais aceita atualmente entre especialistas: a de que o que faz de uma pessoa um verdadeiro criminoso, capaz de atos hediondos, são inúmeros fatores que ocorrem simultaneamente. “Estes processos devem ser analisados a partir de uma ótica biopsicossocial. Se você tem uma predisposição biológica, talvez o fato de contar com aspectos psíquicos, afetivos, sociais e culturais positivos, não seja suficiente para conter aquela pulsão. Por outro lado, às vezes, a predisposição biológica até é pequena e, no entanto, os processos afetivos e sociais são tão negativos que o sujeito parte para o crime”.
O psiquiatra alude, ainda, ao fato facilmente observável de que mesmo que criados em uma comunidade violenta e sem o afeto e os cuidados de uma família, a maioria dos indivíduos sem predisposição biológica não se envolvem com crimes.



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Baseado em teorias freudianas, que afirmam que o caráter e o comportamento da pessoa se determinam a partir da infância, psicólogos descobriram – entrevistando mais de 30 criminosos – que todos sofreram maus-tratos quando crianças, até mesmo abusos sexuais

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Testes criminais
Robert D. Hare, famoso pesquisador na área de Psicologia Criminal, desenvolveu o controverso teste Psychopathy Checklist-Revised (PCL-R) para diagnosticar níveis de psicopatia. Trata-se de uma escala de avaliação clínica de 20 itens. Cada um marcado em uma escala de três pontos de acordo com critérios específicos por meio de informações de arquivo e uma entrevista semiestruturada. Além do estilo de vida e comportamento criminoso, a lista avalia a superficialidade da pessoa; necessidade de estimulação; tendência a mentir, enganar e manipular; a falta de remorso; insensibilidade; controle comportamental; impulsividade, falta de aceitar a responsabilidade por suas próprias ações e assim por diante. As pontuações são usadas para prever o risco de reofensa criminal e a probabilidade de reabilitação
Afeto e limites
A psicanalista Rosana Ferreira Machado compartilha da opinião de que apontar apenas um único fator que explique os comportamentos desses criminosos é insuficiente. “Precisa ter uma série de fatores simultâneos para o sujeito passar a agir como serial killer”, opina. A analista indica um conceito defendido por Melanie Klein como pista para se entender o processo psíquico desses criminosos: “acredito que estas pessoas sofram de uma fixação gravíssima na fase esquizoparanoide, na qual a criança possui uma raiva muito grande que precisa ser dissipada pela mãe”. Rosana ressalta que uma atuação falha da genitora em dotar a criança de uma segurança afetiva, por si só, não explicaria a conduta desses criminosos, mas aponta um dado relavante, “muitas crianças, para poder dar conta de suas angústias, desenvolvem acentuada racionalidade, uma das características da psicopatia”.
É importante frisar que a psicopatia, dentro da nosografia da Psicanálise, não está enquadrada nem na neurose, nem na psicose e nem nas perversões. “Ela pode ser descrita como um conjunto de sintomas em diferentes graus em qualquer estrutura ou organização da personalidade. Talvez as mais próximas sejam as perversões”, explica. “Não só a sexual, mas a social também, no sentindo de burlar normas, cujo traço predominante é o ser perverso”. Outro indicativo sobre o funcionamento da psique dos criminosos diz respeito à formação do superego na infância. “Ele é formado a partir da transgeracionalidade e com a identificação com os superegos dos pais. Se este aspecto da psique dos pais é frouxo, de modo a permitir que a criança faça tudo sem limites, a estruturação estará comprometida. Exemplo comum é daquele em que a criança não é contida nem repreendida em seu sadismo ao matar um animal”. Segundo Winnicott, cuja obra se destaca por seu profundo estudo da psique infantil, toda criança precisa, numa escala progressiva de tempo, ser frustrada de acordo com sua capacidade de suportar a frustração, para que com isso ela se insira na realidade.


 
Teorias psicológicas para o crime
Recentemente, pesquisadores estavam considerando que o comportamento agressivo poderia estar associado à formação genética, pois haviam descoberto uma combinação de cromossomos que sugeria uma propensão à violência. Contudo, estudos posteriores desvalidaram esta pesquisa e levaram os criminalistas a se valerem da literatura da Psicologia para estudar a mente criminosa. Entre as fontes está Alfred Adler (foto), que desenvolveu o conceito de ‘complexo de inferioridade’. Nele, Adler propõe que o indivíduo deseja sentir-se superior ao outro, para compensar seus próprios sentimentos de inferioridade. Indo contra Freud, ele afirmava que essa ‘vontade de poder’ era normal e mais importante na determinação do comportamento que o impulso sexual primitivo. Em seus estudos, Adler afirmava que o criminoso é um covarde que escapa de problemas que não fora capaz de resolver de forma socialmente aceitável. O estudioso também alertava de que nem a pena de morte poderia dissuadir sujeitos criminosos, uma vez que eles se acham mais espertos que as outras pessoas e desejam sempre a superioridade.

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É comum relacionarmos a palavra ‘psicopata’ aos assassinos em série, embora seja uma relação equivocada. Especialistas afirmam que poucos são os psicopatas que apresentam impulsos violentos
Psicose e narcisismo
Por outro lado, uma rigidez exagerada na criação de um filho, somada à ausência de afeto, podem vir a ser fortes aliados na formação de uma Psicose, “nestes casos haverá também um comprometimento do superego, pois sua formação depende da presença de afeto”, explica a psicanlista.
Reintegração possivel?
Apesar das inúmeras discussões suscitadas desde o final do seculo XIX, muitos psiquiatras veem com um olhar pessimista a tentativa de inclusão social de criminosos psicopatas. Sobre o tema, Guido Palomba, é categorico: “não há tratamento eficaz para tal patologia. Existem inúmeros casos graves de erro judiciário, nos quais o sociopata é condenado como preso comum. A tendência, quando sair da reclusão, é a repetição da conduta”. O psiquiatra forense é enfático ao chamar a atenção para a gravidade do problema, “não é necessário nem ser especialista para saber que essas pessoas não podem ser recolocadas na sociedade. É preciso rever tudo isso urgentemente”.
A profissional aponta, ainda, estudos que comprovam que muitos dos psicopatas possuem uma fixação narcisista. “As capacidades egoicas deles são deformadas princialmente no que se referem ao juízo crítico”. Dados de uma pesquisa realizada pelo psicólogo Joel Norris com serial killers mostram a infl uência da relação psicoafetiva na infância, com o aparecimento de sintomas perversos.
A partir de uma série de detalhadas entrevistas com cerca de 30 criminosos, o estudo revelou que todos sofreram abusos sexuais ou maustratos quando crianças.
Na visão do psicólogo e psicoterapeuta existencial Paulo Roberto Reimão Machado, esse pode ser o fator primordial na estruturação do mundo da existência destes criminosos, “para esse tipo de indivíduo, o assassinato não é um meio e sim um fim. Para ele, o ato criminoso tem um sentido. Ele vive num mundo onde esse ato tem um lugar”. Machado opina que, apesar de tais atos serem consequências de uma realidade única e pessoal, isso não isenta o indivíduo do papel que assumiu; ele deve responder pelas ações de acordo com as normas e a cultura do local em que vive. “Infelizmente, ser um criminoso é uma possibilidade aberta para o ser humano nos nossos dias. Aquilo faz sentido para ele. Assim como a bondade, o respeito e a valorização da vida também são possibilidades”.

Santa Catarina tem um lixo muito rico


Desperdício


Além dos agricultores, supermercados e restaurantes perdem dinheiro jogando alimentos no lixo
Foto: Pena Filho
Santa Catarina tem
um lixo muito rico
R$ 221,5 milhões em alimentos foram perdidos nas últimas duas safras, devido a problemas enfrentados pelos produtores
Silvia Pinter
 
 
A falta de cuidados na hora da colheita, o uso de máquinas desreguladas, o transporte inadequado dos produtos agrícolas e problemas de armazenamento causaram perdas de R$ 221,5 milhões aos produtores catarinenses nos últimos dois anos, segundo levantamento realizado a partir de dados levantados Instituto de Planejamento e Economia Agrícola de Santa Catarina (Cepa-SC). Em um ano, o crescimento do desperdício foi de 69,31%.
As perdas maiores são verificadas nas culturas do milho (R$ 52,8 milhões), cebola (R$ 59,9 milhões) e banana (R$ 73,9 milhões)
Os números do desperdício de alimentos podem ser maiores se forem contabilizadas o que se deixa de arrecadar com o Imposto sobre Circulação sobre Mercadorias e Serviços (ICMS); as perdas em restaurantes, hotéis, feirões, mercearias e supermercados. e o que culturas de menor representatividade perdem. Os dados do instituto incluem as perdas dos produtores de alho, arroz, banana, batata, cebola. feijão, maçã, mandioca, milho e soja.
Não há números precisos para o varejo e para os restaurantes, mas a Associação Catarinense dos Supermercados (Acats) calcula que as perdas chegam a 5%. A seccional catarinense da Associação Brasileira de Restaurantes e Empresas de Entretenimentos (Abrasel) estima que entre 15% e 50% do que é preparado para a clientela é jogado na lata de lixo.
A falta de cuidado com os alimentos traz junto um problema social. O desperdício de sacolões e feirões contribui para o aposentado Ari Valente, 73 anos, aplacar a fome. A dona-de-casa G., 65 anos, que prefere não se identificar por vergonha, vai ao sacolão e, quando consegue, enche a bolsinha de plástico com as sobras que ficam sobre as mesas improvisadas. "Já teve dia em que não peguei nada. Quando vi já tinham levado tudo. Parecia um monte de formigas", lembra G., referindo-se às dezenas de crianças e idosos que disputam o pouco de alimento que sobra no final da feira.
 
Restos matam a fome
de pessoas em Joinville

Sobras de frutas e verduras em sacolão são disputadas acirradamente por crianças, aposentados e idosos
Joinville - O impacto do desperdício no campo não se restringe aos produtores, restaurantes, hotéis, supermercados, mercearias e quitandas. Apenas com as perdas das últimas duas safras, a Fazenda deixou de arrecadar aproximadamente R$ 6 milhões com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). O maior problema, entretanto é o social.
Enquanto agricultores e Estado perdem, o aposentado Ari Valente, 73 anos, mata a fome catando os restos de frutas e hortaliças deixadas nas bancas de um sacolão toda sexta-feira, em Joinville.
Valente não é o único que procura comida para aplacar a fome que sente. A dona-de-casa G., 65 anos, que prefere não se identificar por vergonha, vai ao sacolão e, quando consegue, enche a bolsinha de plástico com as sobras que ficam sobre as mesas improvisadas. "Já teve dia em que não peguei nada. Quando vi já tinham levado tudo. Parecia um monte de formigas", lembra G., referindo-se às dezenas de crianças e idosos que disputam o pouco de alimento que sobra no final da feira.
O constrangimento pelo qual Valente e G. passam toda sexta-feira não se explica pela falta de alimentos. É só observar os números citados acima e o levantamento da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Segundo o estudo, há um desperdício de produtos agrícolas equivalente a 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Calcula-se um prejuízo em torno de R$ 10 bilhões, o que daria para fornecer cestas básicas mensais, no valor de R$ 120,00, a quase 7 milhões de famílias, durante um ano. Estatísticas revelam ainda que 9 milhões de famílias enfrentam a fome diariamente no País.
Enquanto milhões de brasileiros seguem famintos, os produtores de grãos de Santa Catarina, como milho, feijão e arroz, chegam a perder por safra até 20% da produção. Os prejuízos nas roças de frutas e hortaliças são ainda piores. O gerente da regional da Epagri em Concórdia, Osvaldir Dalbello, estima uma perda entre 30% e 40%. "Frutas e verduras são perecíveis, já os grãos são deterioráveis. Por isso a diferença de percentuais" , explica o técnico. (Silvia Pinter)

Papa Bento XVI acolheu padre pedófilo quando era arcebispo de Munique

Papa Bento XVI acolheu padre pedófilo quando era arcebispo de Munique

O Papa acolheu um padre pedófilo quando era arcebispo de Munique, para que fosse tratado, anunciou esta sexta-feira o arcebispado de Munique, na Alemanha.
"A pedido da diocese de Essen, o abade H. foi acolhido no arcebispado de Munique e Freising em janeiro de 1980", segundo um comunicado do arcebispado, liderado entre 1977 e 1982 por Josef Ratzinger, o actual Papa Bento XVI.
 
foto LUSA
Papa Bento XVI 
acolheu padre pedófilo quando era arcebispo de Munique
Papa Bento XVI recebeu o Arcebispo alemão Robert Zollitsch, numa audiência especial no Vaticano
 
A nota adianta que, em 1980, "foi acordado o alojamento do abade numa paróquia para que fosse submetido a uma terapia", tendo "o antigo arcebispo" Ratzinger "participado na decisão".
Apesar da decisão de terapia e das suspeitas de abusos sexuais, o prelado assumiu, na época, funções de assistente do capelão numa paróquia da diocese de Munique, por ordem do vigário geral Gerhard Gruber, assinala o comunicado.
Em junho de 1986, o abade foi condenado a 18 meses de prisão com pena suspensa e ao pagamento de uma multa de 2045 euros por abusos sexuais de menores.
O tribunal deliberou ainda que o padre fosse sujeito a uma psicoterapia.
O sacerdote continua em actividade na Baviera, mas as autoridades episcopais desconhecem se houve qualquer outro incidente envolvendo-o em abusos sexuais de crianças.
No comunicado do arcebispado de Munique, o antigo vigário geral Gerhard Gruber pediu desculpa a todos os menores que foram mal tratados pelo abade H., assumido a "inteira responsabilidade" pelo "grave erro" de ter conduzido o prelado em "funções espirituais".
Confrontado com o caso, o Vaticano, pela voz do porta-voz Federico Lombardi, citou a nota do arcebispado de Munique, declarando que "tudo está explicado".
A Igreja Católica alemã foi sacudida, em finais de Janeiro, por diversos escândalos de pedofilia, que envolveram, entre outros, o irmão do Papa, Georg Ratzinger, que dirigiu durante 30 anos o coro de pequenos cantores de Ratisbonne.
Os escândalos abrangem actualmente 19 das 27 dioceses católicas alemãs. Recentemente, abusos cometidos por padres foram denunciados na Áustria, na Holanda e no Norte da Itália.

Psicologia nas Telas: Simplesmente Complicado

Psicologia nas Telas: Simplesmente Complicado



Simplesmente Complicado (2009), trama da mesma diretora, roteirista e produtora de Do que as Mulheres Gostam (2000) e Alguém tem que Ceder (2003), Nancy Meyers, aborda questões relativas à meia-idade, envelhecimento e amadurecimento. Conflitos, ansiedades e necessidades da mulher de 50, 60 anos são relatados de forma profunda e bem-humorada.
Profundidade e bom humor são, certamente, uma consequência da maturidade. Jane Adler (Meryl Streep) é uma mulher madura, separada há dez anos e mãe de três filhos. Jake Adler (Alec Baldwin), ex-marido de Jane, casou-se com uma mulher jovem e bonita, porém encontram algumas dificuldades na relação devido à diferença de idade. Durante o evento de formatura do filho mais velho de Jane e Jake, acontece uma reviravolta em suas vidas.


Embora idade não seja sinônimo de maturidade, nos filmes de Meyers as mulheres encontram-se na faixa de 50, 60 anos de idade, são bem-sucedidas em sua vida profissional e nos papéis sociais que desempenham com muita naturalidade e prazer. A vida afetiva, porém, é a área em que a diretora se concentra e oferece uma visão positiva sobre relacionamentos maduros.
Os sinais da maturidade são expressos pelas personagens na maneira com que lidam com a ansiedade, solidão, pela qualidade impressa em cada tarefa que realizam e tantas coisas mais que só obtemos com o passar do tempo e com a significação positiva de nossas experiências.
O acúmulo de vida e, portanto, de todo tipo de alegrias e sofrimentos pode trazer amargor, ressentimento e desilusão, originando defesas.
Uma das formas de defesa pode se manifestar por meio da depressão, afastamento do mundo, das relações afetivas, da criação de rituais obsessivos como forma de adquirir a sensação de que controlam algo em suas vidas.
De certa maneira, essa defesa é eficiente no que diz respeito a evitar desilusões nas relações. Porém, a vida permanece em “ponto morto”, já que só somos a partir do outro e só podemos viver de modo autêntico nas relações.
Com o acúmulo de experiências positivas importantes, inicia-se um processo de discriminação do que é saudável ou não, certa “intuição” a respeito das situações, o famoso “já vi esse filme antes…”, e realmente viu, abrindo agora a possibilidade de dar um desfecho diferente. O caminho para o estabelecimento de relações mais maduras, sinceras e verdadeiras passa, necessariamente, por experiências dolorosas que têm de ser significadas para não nos aprisionar.
As mulheres de Meyers cozinham muito bem. Transformam alimentos crus em verdadeira arte culinária. Além disso, amam flores e sabem apreciá-las em suas cozinhas, misturando sua cor e aroma com a cor e o sabor dos alimentos criativamente. Lidam com as mais diversas situações como um maestro que rege uma orquestra. Já viram um pouco de tudo, têm familiaridade com suas capacidades e sentimentos.
Em determinado momento do filme, após terem fumado maconha e relembrado os tempos da juventude na sua pâtisserie, Jane diz a Adam Schaffer (Steve Martin): “pode escolher qualquer coisa pra comer que eu faço. O que está e o que não está no cardápio”.
Tendo escolhido, ela se põe a fazer o croissant. Assim como está habilitada para preparar a massa, o recheio e o café de maneira rápida e divertida, tem também a habilidade de utilizar suas experiências de vida como ingredientes para transformação de um momento comum em algo mágico, criativo e delicioso.
Nos dias de hoje, o vazio produzido pelo nosso tempo está tão profundo quanto a tentativa frenética de preenchê-lo. Em um mundo onde a rapidez e o supérfluo imperam, estes filmes nos lembram da importância de pararmos, refletirmos sobre nosso posicionamento diante deste momento histórico e cultural bem como as possibilidades de viver as etapas de nossas vidas de forma criativa, prazerosa e única, saboreando, enfeitando, fazendo pelas mãos criativas da maturidade uma possibilidade de recomeço eterno. Enquanto dure.
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por Fernanda Davidoff
Psicóloga com especialização em Psicoterapia Breve e orientação Winnicottiana e colaboradora do Portal “O que eu tenho?”.

Otimismo incentiva resposta imunológica a infecções, sugere estudo


Otimismo incentiva resposta imunológica a infecções, sugere estudo

Alimentação e imunidade

O consumo de fibras ajuda o corpo a 
combater infecções; leia
Expectativas positivas em relação ao futuro podem fortalecer o sistema imunológico, segundo uma pesquisa científica realizada nos Estados Unidos.
O estudo, conduzido pelas especialistas em psicologia clínica Suzanne Segerstrom, da Universidade de Kentucky e Sandra Sephton, da Universidade de Louisville, analisou as expectativas de estudantes de direito em relação ao futuro afetaram sua resposta imunológica.
Estudos anteriores já haviam concluído que as pessoas que são otimistas em relação à saúde em geral respondem melhor a tratamentos médicos. Foi constatado, por exemplo, que pacientes de transplante cardíaco com perspectivas positivas em relação ao resultado da operação, normalmente se recuperam melhor da cirurgia.
Mas não se sabia ao certo até que ponto uma postura otimista geral afeta a saúde, ou se o pessimismo torna alguém menos saudável.
Neste estudo, as pesquisadoras recrutaram 124 estudantes do primeiro ano do curso de direito, antes do início das aulas.
Os alunos foram avaliados cinco vezes durante seis meses e, a cada vez, respondiam perguntas sobre o quão otimistas se sentiam em relação ao curso.
Os alunos então recebiam uma injeção para provocar, no local da incisão, uma reação imunológica.
Dois dias depois eles retornavam para que a reação fosse avaliada. Quanto maior o calombo provocado na pele, mais forte tinha sido a resposta imunológica.
Nesta experiência foi medida apenas a resposta da parte do sistema imunológico que reage a infecções virais e a algumas infecções bacterianas.
As cientistas constataram que a resposta variava em um mesmo aluno à medida que sua percepção sobre o sucesso do curso mudava. Nos momentos de mais otimismo, os estudantes apresentavam respostas mais fortes, em épocas mais pessimistas, a resposta imunológica era mais fraca.
A conclusão das autoras do estudo, publicado na revista especializada Psychological Science, é que o otimismo em relação a um objetivo específico importante na vida de uma pessoa pode ajudá-la a incrementar sua imunidade contra algumas infecções.
Suzanne Segerstrom, no entanto, não aconselha as pessoas a adotarem expectativas irrealistas em relação ao futuro para melhorar sua imunidade.
"Mas uma visão um pouco mais positiva do futuro ajuda", diz ela.