Leia a íntegra do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos

Leia a íntegra do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos

da Folha Online

O 3º Programa Nacional de Direitos Humanos foi criado por meio de decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicado em 21 de dezembro de 2009, com 180 páginas.

O decreto que cria o programa é apenas um protocolo de intenções do governo, sem força de lei. Para tornar legais as principais sugestões do texto, o Executivo terá que encaminhar ao Congresso projetos de lei para legalizar ações do programa.

O texto final, que se assemelha a uma grande carta de intenções, é uma versão reduzida e adaptada do documento aprovado na 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, em dezembro de 2008.

Após a publicação do decreto, os comandantes do Exército, general Enzo Martins Peri, e da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, ameaçaram pedir demissão caso o Lula não revogue alguns trechos do programa que cria a "Comissão da Verdade" para apurar torturas e desaparecimentos durante o regime militar (1964-1985).

A proposta também dividiu os ministros do governo Lula. Os ministros Nelson Jobim (Defesa) e Reinhold Stephanes (Agricultura), além do comando das Forças Armadas, criticaram a proposta, enquanto a Secretaria Especial dos Direitos Humanos defendeu o programa.

Em panfleto, CNBB chama Lula de "novo Herodes" por plano de direitos humanos

Em panfleto, CNBB chama Lula de "novo Herodes" por plano de direitos humanos



Rosanne D'Agostino


Do UOL Notícias


Em São PauloHerodes, aquele que, segundo a Bíblia, ordenou a "matança dos inocentes", é como a Igreja Católica agora denomina o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em panfleto distribuído em São Paulo contra pontos dos quais discorda no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado em dezembro pelo governo.




No livro de São Mateus, Herodes ordena o extermínio de todas as crianças menores de dois anos em Belém, na Judeia, para não perder seu trono àquele anunciado como o recém-nascido rei dos judeus, Jesus Cristo. Para a igreja, o "novo Herodes" autorizará o mesmo extermínio anunciando-se a favor da descriminalização do aborto.



No panfleto, intitulado "Presente de Natal do presidente Lula", a Comissão Regional em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), contesta este e outros pontos do já polêmico plano. "Herodes mandou matar algumas dezenas de recém-nascidos (Mt 2,16). Com esse decreto, Lula permitirá o massacre de centenas de milhares ou até de milhões de crianças no seio da mãe!", incita o documento.



A comissão que começou a distribuir panfleto divulgou uma nova versão







Leia aqui a íntegra dos dois panfletos da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBBSegundo Dom José Benedito Simão, presidente da comissão e bispo auxiliar da arquidiocese de São Paulo, a igreja não é contra o plano em sua totalidade, mas considera que quatro deles "agridem" os direitos humanos. Além da questão do aborto, são eles: união civil entre pessoas do mesmo sexo, direito de adoção por casais homoafetivos e a proibição da ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União.



"Não é uma campanha contra o projeto, mas alguns pontos em que acreditamos que ele agride e extrapola os direitos humanos e o direito à vida", critica Dom Simão. "O que nós contestamos é a falta de sensibilidade desse decreto, que funciona como um projeto, e não ajuda em nada ao Estado Democrático de Direito em que queremos viver. Não queremos cair em outra ditadura. Esse decreto é arbitrário e antidemocrático", completa.


Segundo Dom Simão, que também é bispo da Diocese de Assis, no interior de São Paulo, a intenção é ampliar a distribuição e divulgação do panfleto em todas as cidades do Estado e também pela internet. "Ele [o plano] não está a favor do Brasil. Agora vem o presidente dizer que não sabia, que assinou sem ler? Como vai assinar se não leu?"


Sobre a questão da retirada dos crucifixos, o bispo defende que não somente os símbolos da Igreja Católica estejam presentes, como também o de outras religiões. "Nós não queremos que retire, queremos é que se coloquem mais símbolos ainda. A igreja sempre defendeu os direitos humanos e vai apoiar o governo em tudo o que for a favor da vida. Mas esse plano tem que ser revisto sim. O governo só reviu a questão dos militares, mas nesses quesitos não está querendo rever. Que princípios o governo quer defender com esse projeto?"
A CNBB nacional também criticou os mesmos pontos no programa, por meio de nota oficial. Mas sua assessoria de imprensa disse desconhecer a distribuição do panfleto, alegando que o regional tem autonomia para determinadas ações, que não precisam passar pelo seu crivo. A assessoria informou ainda que a CNBB nacional não irá se manifestar sobre o panfleto.





O Regional Sul 1 também informou que a comissão tem autonomia e que o panfleto não precisaria ser aprovado pelo presidente da sede para ser distribuído. O regional coordena oito subregionais: Aparecida, Botucatu, Campinas, Ribeirão Preto 1, Ribeirão Preto 2, São Paulo 1, São Paulo 2 e Sorocaba, cada uma delas englobando pelo menos quatro cidades do Estado.




O UOL Notícias entrou em contato com a Presidência da República. A assessoria de imprensa informou que o governo não irá se pronunciar.







Em busca de direitos



A ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), que congrega 220 organizações congêneres, apoia o programa de direitos humanos. Em nota oficial, o presidente da entidade, Toni Reis, afirma que a associação participou da elaboração e defende que "os direitos sexuais de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais são direitos humanos e, por isso, direitos fundamentais a serem respeitados em uma sociedade democrática".







Atualmente, o aborto é considerado crime no Brasil, exceto em duas situações: gravidez decorrente de estupro e quando há risco de morte à mãe. No Código Penal, o aborto é enquadrado como crime contra a vida, com penas que variam de um a 10 anos de prisão.



O casamento homossexual também não é permitido, mas a união civil entre pessoas do mesmo sexo está em vias de ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal. A adoção por casais homoafetivos ocorre, mas é rara. Faz parte de uma jurisprudência ainda minoritária, formada por decisões favoráveis em primeira instância com base no direito constitucional à família.

O polêmico plano



Aprovado em dezembro, o PNDH-3 traça recomendações ao Legislativo para a futura elaboração de leis orientadas a casos que envolvam os direitos humanos no país. Um dos pontos mais controversos prevê a criação de uma Comissão da Verdade, para investigar casos de violação de direitos humanos durante a ditadura militar.



A medida gerou desentendimentos entre militares e a pasta de direitos humanos, e culminou em uma alteração no plano, assinada por Lula no último dia 14, suprimindo a expressão "repressão política", para englobar qualquer conflito no período.

A mudança não encerrou a discussão, já que outras polêmicas foram mantidas, como a tentativa de controle da imprensa e a não repreensão às invasões de terra, alvos de críticas de entidades como a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Em nota, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, que elaborou o programa, diz que ele incorpora propostas aprovadas em cerca de 50 conferências nacionais, realizadas desde 2003, e que sua versão preliminar esteve disponível durante 2009 para sugestões e críticas.

Legalização do aborto será retirada de programa

Legalização do aborto será retirada de programa




AF – Agência Estado


Em São Paulo


O ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, disse hoje que o projeto que descriminaliza o aborto deve ser abandonado pelo governo e não fará mais parte do Programa Nacional de Direitos Humanos.


CNBB distribuiu panfletos chamando Lula de "novo Herodes" por causa de plano


O ministro reconheceu que a causa é uma bandeira histórica do movimento feminista, mas disse que a legislação só pode ser alterada por meio de decreto presidencial.


"Definitivamente ficou claro que o presidente Lula não concorda com essa formulação e o assunto se encerra já por aí, pois só pode ser alterado por decreto presidencial", afirmou o ministro, que visitou a Campus Party, encontro mundial de comunidades e redes sociais da internet realizado em São Paulo.


Vannuchi afirmou que o governo deve fazer um debate sobre o assunto nas próximas semanas com a participação de representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e integrantes de outras entidades civis.


"Precisamos de um consenso maior", declarou. "Essa formulação não teve consenso e será corrigida." O ministro não revelou de que forma essa alteração será feita. "Pode ser que se altere apenas uma linha", disse, referindo-se ao texto do Programa Nacional de Direitos Humanos.


Preconceito


O ministro afirmou que existe atualmente "o melhor e o pior momento" dentro do governo. Segundo ele, a divulgação do conteúdo do programa ampliou o debate sobre os direitos humanos no País, o que ele considera um ponto positivo. Por outro lado, suscitou um "pensamento antidireitos humanos preconceituoso que apareceu muito fortemente".


Vannuchi disse que não reagirá no mesmo tom às críticas que recebeu nas últimas semanas, entre as quais de que seria um "psicopata ideológico, terrorista e maluco". Ele refutou ainda a tese de que o governo recuou no tema dos direitos humanos, com receio de que a polêmica atrapalhe a campanha da provável candidata petista à Presidência da República, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.


"É uma incompreensão", afirmou. "Não há nada que atrapalhe Dilma, pelo contrário. Debate sobre combate à tortura e democratização dos meios de comunicação só fortalece o processo eleitoral e os candidatos do PT."

Mulheres do Haiti caem no desamparo

Mulheres do Haiti caem no desamparo






Francisco Peregil






Enviado especial a Porto Príncipe






Agora que finalmente em muitas áreas de Porto Príncipe se veem filas organizadas de pessoas recebendo água e comida; agora que o governo anunciou que os que ficaram sem casa chegam a 1 milhão, os feridos são cerca de 200 mil e os mortos, mais de 150 mil..., agora continuam morrendo mulheres no Haiti por causa do terremoto. Mas já não engrossarão nenhuma estatística. Morrerão em silêncio, muitas delas em suas casas, sem assistência médica nem fotógrafos ao redor.


No Haiti não é raro que as mulheres tenham de dar à luz em suas próprias casas, sem nenhuma ajuda, no mais absoluto desamparo.




Mulher sangra do pescoço após ser expulso de um armazém no centro de Porto Príncipe

É o que explica a enfermeira norueguesa da ONG Médicos Sem Fronteiras Veronica Gran, no hospital Saint Catherine do bairro Cité Soleil, rodeada de parturientes em barracas de campanha. "Algumas mulheres nunca vêm ao hospital porque não têm dinheiro nem sequer para o transporte. Outras, porque não sabem que o parto é grátis, que não vão lhes cobrar nada. E outras, porque sabem que se dá prioridade às intervenções cirúrgicas ao resto dos tratamentos médicos. Como ocorre em todas as catástrofes, as principais vítimas voltaram a ser os mais fracos: as mulheres e as crianças."


"Estou convencida de que vêm muito menos mulheres ao hospital do que deveriam vir", acrescenta Gran. "E muitas das que estão vindo chegam tarde demais, sem ter feito qualquer acompanhamento médico durante a gravidez. Sofrem infecções urinárias, algo que teria sido muito fácil tratar se fosse detectado a tempo. Mas, como não se faz isso, as probabilidades de que a criança nasça com infecções são muito altas. Outras sofrem contrações em casa há vários dias e no meio de tanta dor não sabem aonde ir. Quando chegam aqui, trazem o bebê morto dentro delas. Outras vieram com a pressão muito alta e com anemia, e seus filhos nasceram muito pequenos e frágeis."

"Mas se você tem um equipamento para partos e não sabe como usá-lo, de pouco serve. As mulheres com anemia, se começam a sangrar, é muito difícil que superem o parto com vida", indica a enfermeira da Médicos Sem Fronteira que distribuiu o material.


Na maternidade do Centro Ginecológico Isaie Jeanty & Leon Audain, o médico residente de terceiro ano Bordes Edouard confirma que as mulheres foram afastadas para atender casos supostamente prioritários. E lamenta a desinformação que as parturientes sofrem. "Esse hospital fechou com o terremoto, mas abriu há três dias e muitas mulheres não sabem disso, apesar de estarmos anunciando pelo rádio. Outras creem que ainda é preciso pagar para dar à luz, quando há alguns meses os partos são grátis nos hospitais públicos."



Se é difícil para as grávidas chegar aos hospitais, para as violentadas o caminho se torna inútil. Paul Henock, gerente do centro ginecológico citado, afirma que desde o dia do terremoto chegaram ao hospital três mulheres para ser examinadas depois de sofrer violência sexual. "Mas tivemos de enviá-las para outros centros, porque não havia tempo para atendê-las", indica Edouard.



Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento no Haiti publicado em 2006 indicava que um terço das mulheres do país tinha sofrido violência física ou sexual. E que a metade delas era menor de 18 anos.


No distrito de Carrefour foram organizadas patrulhas de cidadãos para proteger as centenas de pessoas que hoje vivem nas ruas. Como o edifício da prefeitura de Carrefour ficou destruído, o prefeito recebe sentado sob uma árvore todas as famílias que vêm pedir dinheiro. A assistente social Malía Joseph atende às mulheres. "Aqui vêm muitas que não têm dinheiro, estão sós e não sabem aonde ir. Para mim isso também é uma espécie de violação."



"Mas quantas chegaram desde o terremoto para denunciar violações físicas?" "Nenhuma. Para isso vão à delegacia."


Meio quilômetro além, o subcomissário de Carrefour, Angenor Pierre, sentado à sombra com uma perna cruzada sobre a outra, confessa: "Vieram brigadas de cidadãos para nos dizer que houve duas tentativas de violações. Mas não tivemos tempo de investigar nada até agora. A partir de terça-feira o faremos. De todo modo, as mulheres não costumam vir aqui quando são violentadas."



"Aonde vão, então?" "A um colégio de freiras, aí em cima."


Finalmente, no colégio de salesianos de Carrefour, podem-se ver centenas de barracas de campanha erguidas para receber os que ficaram sem casa. Junto delas, a freira colombiana Rocío Pérez, de 67 anos, que chegou há 44 ao Haiti. "Neste país as mulheres fazem às vezes de mãe e de pai. São elas que trazem as crianças para a escola e que cuidam das casas. Os homens pobres são muito negligentes." Pérez comenta que no sábado chegou uma mulher sozinha que pariu ali mesmo em uma barraca.


"E chegaram mulheres violentadas?" "Disso não sei. Mas neste país esse é um problema muito antigo. O governo sempre diz que vai fazer algo contra os bandidos, mas nunca faz nada. Eu lembro que com frequência, no bairro onde eu trabalhava, antes se comentava que as meninas jovens saíam para buscar água à noite e eram violadas. Mas não diziam nada. Nunca dizem nada."


Se estas são as voltas que um branco tem de dar para tirar algo claro sobre as violações depois do terremoto, quantas não dará uma mulher negra, com ou sem marido, que durma na rua e que tenha se armado de coragem para denunciar uma violação. E se decidisse abortar seria melhor descartar a idéia. "Um aborto custa de US$ 100, que cobra qualquer médico charlatão que se encontra na rua, até US$ 250 de um sério", informa a assistente social Malía Joseph.






É mais difícil fazer amigos adultos

É mais difícil fazer amigos adultos

The New York Times News Service
Kristi L. Gustafson 

Em Albany, Nova York (EUA), para o Albany Times Union
Uma amiga estava conversando comigo sobre como éramos ricas em conhecidos, mas pobres em amigos.

Vários leitores do meu blog mencionaram estar em situação semelhante. Rachel, de Albany, é uma delas.

  • Um amigo não precisa reunir todas as qualidades: aliás, o melhor é ter um amigo de cada jeito
Ela tem 31 anos e dificuldade em fazer amigos. Ela tem conhecidos no trabalho, mas perdeu contato com a maioria de seus amigos de infância e faculdade.

A falta de amigos a faz se sentir solitária e incompleta. Rachel pediu que não usássemos seu sobrenome porque, bem, independente de quão velhos fiquemos - ou de quão maduros formos - nós ainda associamos uma grande quantidade de amigos com popularidade e a falta de amigos como sendo vergonhosa.

Apesar de entender o ponto de vista dos leitores, é importante não se sentir mal caso seu círculo de amigos genuínos não espelhar o número na sua página no Facebook ou Twitter. Há benefícios em ter um pequeno grupo. O principal é o fato de todos conhecerem uns aos outros realmente bem, estarem presentes para dar apoio uns aos outros e não dividirem excessivamente a atenção com muita gente.

Irina Firstein, uma assistente social clínica de Nova York, que lida principalmente com pessoas na faixa dos 30 anos, diz que vários fatores tornam a amizade uma arte em extinção. A cultura atual pressiona os jovens a buscarem uma carreira de sucesso e adquirirem coisas. As amizades frequentemente não são consideradas como sendo valiosas, ela diz. Ao buscar uma carreira e sucesso financeiro, não sobra muito tempo e energia para cultivar e nutrir amizades.

Mas isso não significa que devemos escolher carreiras em vez de pessoas. Especialmente na idade adulta, as amizades são cruciais, diz Firstein. Entre relacionamentos, família, finanças e, sim, carreiras, a vida fica mais complicada e é importante contar com apoio para lidar com seus desafios.

Imagine passar por um divórcio, ou perda do emprego, sem ter ninguém com quem conversar. Claro, seus amigos mais próximos sempre estarão lá para ouvir, para receber você para uma taça de vinho. Mas é bom ter um círculo mais amplo de amigos, cada um com sua especialidade.

Exemplo: você vai querer um amigo ao qual recorrer quando quiser sair em uma balada com a rapaziada; aquele que sempre dá bons conselhos e o amigo para quem você pode confiar seus maiores segredos. Nenhuma pessoa precisa ter todas essas qualidades ¬¬ e nem deveria. A variedade é importante para a felicidade.

Além da infância, a faixa dos 30 anos é aquela em que muitas pessoas têm dificuldade com amizades. Diferente da faculdade, onde as amizades são naturais e orgânicas, os relacionamentos do mundo real exigem mais esforços e são menos naturais, diz Firstein.

Firstein diz regularmente aos seus pacientes que "pessoas que dão telefonemas, recebem telefonemas": "Não fique sentado aguardando que o outro dê o primeiro passo. Seja o primeiro a dá-lo".

Na faixa dos 30 anos, as pessoas conhecem amigos por meio de outras pessoas, no trabalho, e por meio de interesses e hobbies.

É importante também manter contato com velhos amigos, mesmo se viverem em outra cidade, já que isso impede seu círculo de encolher. Quando conhecer alguém de quem você goste, em qualquer situação, busque fazer o primeiro contato. Esteja sempre aberto.

Basicamente, construir amizades não é diferente de construir um relacionamento amoroso. Às vezes você se vê perguntando: "Será que eles se divertiram tanto quanto eu" ou "será que ela vai ligar/escrever"?

Falando de tecnologia, isso pode na verdade atrapalhar as amizades adultas, diz Firstein. As pessoas na faixa dos 30 anos se apoiam tanto em tecnologia (quantas pessoas você conhece que não possuem um BlackBerry?) a ponto de haver uma diminuição no tempo de "contato real". Assim como não é possível namorar exclusivamente online, as amizades não se sustentam apenas diante de uma tela de computador. É preciso sair, estar na mesma sala, compartilhar experiências.

Mas também não significa que é preciso lotar seu calendário sete noites por semana. O equilíbrio é importante. Assim como você pode ter amigos insuficientes, você também pode ter demais. E isso pode resultar em se concentrar muito pouco em cada pessoa em sua vida, de forma que todas acabam se dispersando. E então você acaba voltando à estaca zero.

Ralph Keeney, o mestre da tomada de decisões, responde suas perguntas

Freakonomics.com: Ralph Keeney, o mestre da tomada de decisões, responde suas perguntas

Freakonomics
Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt
 
Nós solicitamos recentemente através do Freakonomics.com, perguntas para Ralph Keeney, um professor de ciências de decisão da Escola Fuqua de Negócios e Administração da Universidade Duke, nos Estados Unidos. Keeney, cuja disciplina examina a filosofia, metodologia e teoria da tomada de decisão, também preside o comitê consultivo científico do Centro Nacional para Análise Econômica e de Risco de Eventos de Terrorismo (Create, na sigla em inglês). O centro, financiado pelo departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, se esforça para melhorar a segurança nacional por meio da educação, pesquisa e trabalho de campo.

Há uma desconexão entre a tomada de decisão e de fato fazer algo a respeito. As pessoas podem facilmente evitar por em prática as decisões que tomaram e frequentemente racionalizam posteriormente sua falta de esforço. Dado isso, por que a "tomada de decisão" é relevante para a forma como as pessoas vivem suas vidas?
Keeney: A tomada de decisão é a única forma de se ter um efeito resoluto em sua vida ou em qualquer coisa. O restante da vida - e as decisões das outras pessoas - acontece devido a circunstâncias além do seu controle. É claro, para que suas decisões tenham qualquer efeito, é preciso colocá-las em prática, o que a maioria das pessoas frequentemente não faz. Após um indivíduo reconhecer que um fracasso em colocar em prática tem um impacto negativo sobre sua qualidade de vida, pode ser útil criar alternativas que facilitem a colocação em prática. Por exemplo, você pode anunciar sua decisão a outros que ajudarão você a colocá-la em prática, ou, para dar um exemplo específico, é possível manter sua casa livre de almimentos de alto teor calórico assim que você decidir comer menos.

Há uma forma de pressionar outras pessoas a tomarem decisões rapidamente? Minhas amigas frequentemente não se decidem a respeito de coisas simples, como datas e o horário de um jantar. Elas frequentemente me pedem para reservar três ou quatro datas possíveis para elas, me impossibilitando otimizar minha agenda.
Keeney: Às vezes você pode influenciar as decisões de outros, mas não pode garantir que serão do seu agrado. Entretanto, você pode influenciar suas amigas por meio das decisões que você toma. Algumas delas podem envolver pedidos ou explicações lógicas sobre porque poderia ser melhor se suas amigas decidirem mais rapidamente. Como apenas você controla suas decisões, outras opções podem ser mais práticas para você. Se lhe pedirem para reservar três ou quatro datas, você pode simplesmente dizer não e oferecer reservar uma ou duas. Você poderia estabelecer um prazo para a reserva. Alternativamente, você poderia dizer às suas amigas que as informaria quando a reserva terminaria, e que isso aconteceria quando outros planos fossem programados para o mesmo período.

Obrigado por dedicar algum tempo para ajudar os outros (inclusive a mim) que são incapazes de tomar uma decisão a respeito de algo. Eu me considero uma pessoa bastante racional, mas realmente estou tendo dificuldade com este problema: eu sou da Irlanda, mas me mudei para a Inglaterra para frequentar a universidade e agora trabalho em Londres. Desde minha mudança para a Inglaterra, eu tenho uma namorada à distância que está estudando medicina na Irlanda. São necessários mais dois anos até que ela possa vir para Londres. Isso nos deixaria separados por sete anos no total. Eu agora tenho uma oportunidade de me mudar de volta para a Irlanda, onde acho que teria mais amigos, família e obviamente minha amada. Entretanto, se eu esperar mais dois anos, ela poderia se mudar para cá, onde há maiores oportunidades e salários muito melhores em nossas áreas (eu já ganho cerca de 50% mais em Londres do que ganharia na Irlanda). Eu tentei considerar isso como um cálculo do valor presente líquido - um investimento de curto prazo para considerável retorno futuro. Entretanto, sou incapaz de remover minha ligação emocional do "lar". Você poderia me fornecer algum tipo de análise de terceiro que possa me ajudar a tomar a melhor decisão para todos os envolvidos?
Keeney: Um encontro pessoalmente seria mais apropriado e produtivo para que eu pudesse oferecer um conselho legítimo a respeito de uma decisão significativa como esta. Em pessoa, eu poderia ajudá-lo a articular claramente todos seus objetivos e valores relevantes, profissionais e pessoais, avaliar suas preferências para atingir cada um deles, gerar toda uma série de alternativas e então avaliar essas alternativas. Todavia, com a informação em sua pergunta, eu farei algumas poucas observações.

Você declara que sua namorada poderia ter um bom emprego em Londres daqui dois anos. Eu presumo que se você se mudar para a Irlanda agora, você também poderia retornar para Londres daqui dois anos e obter um bom emprego. Logo, sua decisão envolve principalmente os próximos dois anos.

Como passar um período de dois anos exige pensamento cuidadoso. Para esta decisão, seus objetivos devem basicamente estar relacionados à sua qualidade de vida. Os componentes disso provavelmente incluiriam sua vida pessoal (diversão, empolgação, família), sua vida profissional (interesse, desafio, contribuição e salário) e a qualidade de vida da sua namorada. Em relação às alternativas, poderia ser possível criar algumas opções onde você poderia trabalhar para seu atual empregador por meio período na Irlanda. As possibilidades incluiriam um período de três meses ou um arranjo que permita uma folga a cada três segundas-feiras, para que você possa realizar visitas de fim de semana prolongado à Irlanda pelo menos uma vez por mês. De qualquer forma, 20 visitas por ano nos fins de semana provavelmente não consumiriam toda a diferença salarial maior de seu emprego em Londres.

Compare qualquer outra escolha à sua alternativa "permanecer em Londres" e "mudar para a Irlanda". Para cada uma dessas alternativas, leve em consideração a opção que você terá daqui dois anos de viver na Irlanda ou em Londres. Finalmente, o cálculo do VPL que você mencionou só é relevante para seus objetivos financeiros. Com dois profissionais (você e sua namorada), provavelmente qualquer diferença no VPL para um período de dois anos seria bastante irrelevante dada todas as preocupações pessoais. Logo, nesta decisão, você pode preferir pesar suas preocupações pessoais mais do que suas preocupações financeiras.

Venezuela vai fiscalizar meios de comunicação a cada quatro meses

Venezuela vai fiscalizar meios de comunicação a cada quatro meses

Renata Giraldi
Da Agência Brasil
 
Depois de suspender o sinal de transmissão do canal independente Radio Caracas Televisión Internacional (RCTV) e tirar do ar outras cinco emissoras, o governo da Venezuela vai impor regras para o funcionamento dessas empresas de comunicação. O objetivo é fiscalizar o cumprimento das normas e o tipo de programação veiculada. A RCTV foi suspensa após deixar de transmitir a íntegra do discurso do presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Economia da Argentina e Venezuela não se recuperam da crise

Enquanto boa parte da América Latina parece emergir com sucesso, mesmo que lentamente, da crise financeira e econômica de 2008-2009, destaca-se um par de grandes exceções. A região terá um crescimento entre 3% e 4% este ano, e suas maiores economias - México e Brasil - vão recuperar em parte (México) ou quase todo (Brasil) o terreno que perderam no ano passado. Já a Argentina e Venezuela parecem arruinar suas oportunidades de retornar ao crescimento e à estabilidade, em ambos os casos, por razões políticas semelhantes.

A RCTV é uma emissora independente e que em 2009 sofreu uma série de ameaças do governo Chávez. Antes, em 2007, o presidente não renovou a concessão de transmissão. A direção da empresa passou a transmitir a programação direto de Miami (Estados Unidos).

O ministro de Obras Públicas e diretor-geral da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) - organismo que fiscaliza os meios de comunicação na Venezuela -, Diosdado Cabellos, afirmou que essas emissoras serão submetidas a avaliação a cada quatro meses para verificar se cumprem as regras da Lei de Responsabilidade Social de Rádio e Televisão.

Cabellos disse ainda que está mantida a possibilidade de suspender os sinais de transmissão dessas e de outras emissoras que não cumprirem as regras. Segundo ele, a RCTV mantinha na sua programação um pacote de programas colombianos - Chávez mantém uma relação conflituosa com o governo da Colômbia. O ministro também criticou o fato de a emissora não manter 12% da sua programação destinada à produção venezuelana.

O que culminou com a reação do governo venezuelano à RCTV foi o fato de que no sábado (23) a emissora foi a única a não transmitir na íntegra o discurso do presidente Chávez durante uma manifestação.

A iniciativa gerou uma série de protestos no fim de semana e nesta segunda-feira (25) em Caracas. Várias entidades de defesa da atividade jornalística e organizações estudantis protestaram contra a suspensão dos sinais de transmissão das emissoras de TV. Os jornalistas se declararam em "estado de mobilização".

Estudantes da Universidade Católica Andrés Bello fecharam as principais avenidas de Caracas em protesto à decisão do governo. Os universitários tiveram apoio de colegas de outras instituições do país. As manifestações duraram boa parte da manhã de hoje (25).

Em maio do ano passado, Chávez foi a público criticar emissoras de rádio e televisão. Segundo ele, várias empresas incentivavam o ódio à Venezuela. Antes, em 2007, ele não renovou o contrato de funcionamento da RCTV e condenou a atuação da emissora Globovisión sobre a versão referente ao tremor de terra que abalou o país

DECRETO GOLPISTA DE LULA USA DIREITOS HUMANOS PARA TENTAR CENSURAR A IMPRENSA E QUER MOVIMENTOS SOCIAIS SUBSTITUINDO O CONGRESSO

DECRETO GOLPISTA DE LULA USA DIREITOS HUMANOS PARA TENTAR CENSURAR A IMPRENSA E QUER MOVIMENTOS SOCIAIS SUBSTITUINDO O CONGRESSO



Vocês pensam que já expus aqui todo o show de horrores do tal decreto que supostamente trata do Programa Nacional de Direitos Humanos? Pois falta ainda explicitar muita coisa. O texto também avança sobre os meios de comunicação. O PT abre, assim, mais uma frente de perseguição à imprensa. Todas aquelas propostas da tal Confecom (Conferência de Comunicação), que resultariam em censura se fossem aplicadas, estão consolidadas também no tal decreto.
Sob a desculpa de defender os direitos humanos — e o totalitarismo sempre tem justificativas humanitárias para se exercer —, institui-se uma verdadeira polícia política para vigiar e punir a “mídia”.  Leiam a Diretriz 22 no anexo do tal decreto. Volto em seguida.
Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à informação para consolidação de uma cultura em Direitos Humanos.
Objetivo Estratégico I:
Promover o respeito aos Direitos Humanos nos meios de comunicação e o cumprimento de seu papel na promoção da cultura em Direitos Humanos.
Ações Programáticas:
a)Propor a criação de marco legal regulamentando o art. 221 da Constituição, estabelecendo o respeito aos Direitos Humanos nos serviços de radiodifusão (rádio e televisão) concedidos, permitidos ou autorizados, como condição para sua outorga e renovação, prevendo penalidades administrativas como advertência, multa, suspensão da programação e cassação, de acordo com a gravidade das violações praticadas.
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça; Ministério da Cultura

b)Promover diálogo com o Ministério Público para proposição de ações objetivando a suspensão de programação e publicidade atentatórias aos Direitos Humanos.
Responsáveis: Ministério da Justiça; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República
c)Suspender patrocínio e publicidade oficial em meios que veiculam programações atentatórias aos Direitos Humanos.
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Justiça

d)Elaborar critérios de acompanhamento editorial a fim de criar ranking nacional de veículos de comunicação comprometidos com os princípios de Direitos Humanos, assim como os que cometem violações.
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; Ministério da Cultura; Ministério da Justiça

(…)
f)Avançar na regularização das rádios comunitárias e promover incentivos para que se afirmem como instrumentos permanentes de diálogo com as comunidades locais.
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Cultura; Ministério da Justiça

(…)
Objetivo Estratégico II:
Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à informação.
Ações Programáticas:
a)Promover parcerias com entidades associativas de mídia, profissionais de comunicação, entidades sindicais e populares para a produção e divulgação de materiais sobre Direitos Humanos.
Responsáveis: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Cultura; Ministério das Comunicações

(…)
c)Incentivar a produção de filmes, vídeos, áudios e similares, voltada para a educação em Direitos Humanos e que reconstrua a história recente do autoritarismo no Brasil, bem como as iniciativas populares de organização e de resistência.
Responsáveis: Ministério das Comunicações; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Ministério da Cultura; Ministério da Justiça

Voltei
É o PT se revelando. A partir de agora, ninguém mais poderá alegar inocência. As ditaduras jamais se instauram alegando maus propósitos, é evidente. Até as mais odientas, que servem de modelo de horror, como o nazismo e o stalinismo, vislumbravam um homem ideal, livre. Todas elas sempre falam em nome da PRESERVAÇÃO DE UM BEM e da RESTAURAÇÃO DA VERDADE. E, por óbvio, elegem seus inimigos.

Ora, a quem caberá definir o que e quem “viola” ou não os direitos humanos? Está claro no decreto: são as ditas entidades da sociedade civil, que estão, como todos sabemos, a serviço dos petistas. Como o partido acredita que não se distingue do estado e da sociedade, ele se oferece para ocupar as funções que cabem a ambos. Se a tese prosperasse, viveríamos sob uma censura partidária disfarçada de senso comum e de bom senso.
Eis por que costumo dizer que os nossos “bolivarianos” são bem mais espertos do que os bolivarianos dos outros. Enquanto Hugo Chávez, o delinqüente de Caracas, atua em nome pessoal, chamando para si a responsabilidade dos atos discricionários que ele pretende revolucionários, os petistas preferem apelar ao chamam a “sociedade organizada”, de modo que a vontade do partido se confundam com a vontade coletiva.
Alguns bobinhos poderiam perguntar: “Mas que mal há em punir emissoras de TV, por exemplo, que não respeitem os direitos humanos”? A questão rigorosamente não é esta. O Brasil tem uma Constituição com os princípios gerais que regem o respeito ao “outro” e às diferenças. O que precisa ficar claro é que estão tentando criar uma legislação paralela, pautada pela militância partidária, para monitorar, censurar e punir aqueles atores que essa militância acusa de agredir os direitos humanos.
Desavergonhado
O decreto é de tal sorte desavergonhado que não se vexa em atacar governos anteriores em linguagem claramente ideológica. Leiam o que diz o texto sobre os “movimentos sociais”:
Nos anos que se seguiram, os movimentos passaram a se consolidar por meio de redes com abrangência regional ou nacional, firmando-se como sujeitos na formulação e monitoramento das políticas públicas. Nos anos 1990, desempenharam papel fundamental na resistência a todas as orientações do neoliberalismo de flexibilização dos direitos sociais, privatizações, dogmatismo do mercado e enfraquecimento do Estado. Nesse mesmo período, multiplicaram-se pelo País experiências de gestão estadual e municipal em que lideranças desses movimentos, em larga escala, passaram a desempenhar funções de gestores públicos.

Trata-se de uma abordagem inaceitável num texto legal, além de estupidamente mentirosa. Que “neoliberalismo”, cara pálida? Quais direitos sociais foram flexibilizados? Seria impossível apontar um só. Ao contrário: os direitos sociais foram ampliados desde a Constituição de 1988, inclusive e especialmente no governo FHC. A um governo cabe, nos limites da lei, privatizar ou estatizar empresas, por exemplo (ele que faça as suas escolhas), mas não cabe fazer proselitismo a favor ou contra a “privatização”. Não num decreto!!! Acontece que este é o trecho do texto que tenta transformar os movimentos sociais numa espécie de Congresso paralelo.
E é isso o que não está ainda devidamente claro sobre o tal decreto 7.037. Como Lula e os petistas sabem que não conseguirão fazer a sua tão sonhada “constituinte”, tentam impô-la na marra por meio de outros expedientes. Os petistas querem usar os ditos “movimentos sociais” como o seu Congresso alternativo. Será que forço a mão? Ora, leiam os dois primeiros parágrafos do Anexo. Faltou pouco para que se exaltasse ali a própria fundação do PT:
A partir da metade dos anos 1970, começam a ressurgir no Brasil iniciativas de articulação dos movimentos sociais, a despeito da repressão política e da ausência de canais democráticos de participação. Fortes protestos e a luta pela democracia marcaram esse período. Paralelamente, surgiram iniciativas populares nos bairros reivindicando direitos básicos como saúde, transporte, moradia e controle do custo de vida. Em um primeiro momento, eram iniciativas atomizadas, buscando conquistas parciais, mas que ao longo dos anos foram se caracterizando como movimentos sociais organizados.
Com o avanço da democratização do País, os movimentos sociais multiplicaram-se. Alguns deles institucionalizaram-se e passaram a ter expressão política. Os movimentos populares e sindicatos foram, no caso brasileiro, os principais promotores da mudança e da ruptura política em diversas épocas e contextos históricos. Com efeito, durante a etapa de elaboração da Constituição Cidadã de 1988, esses segmentos atuaram de forma especialmente articulada, afirmando-se como um dos pilares da democracia e influenciando diretamente os rumos do País.
Revelando o jogo
O governo Lula e o PT explicitaram o jogo. Juste-se o decreto às propostas da tal Confecom, e não há dúvida sobre as pretensões dessa gente: ditadura do partido único, ainda que obedecendo às chamadas “regras de mercado” — eles podem ser autoritários, muitos são totalitários, mas ninguém ali é burro.

O caminho para a realização de seus propósitos pode ser, por que não?, o Congresso Nacional. Caso Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil (pasta que responde pela forma final dos decretos) e candidata do PT à Presidência, vença a disputa, terá início a fase de implantação da “ditadura mitigada”. Seria a chamada “Ditadura Sem-Vergonha”.

Fonte: Veja

Doenças e saques viram o novo problema do Haiti

Doenças e saques viram o novo problema do Haiti



Jesús Sanchis.


Porto Príncipe, 22 jan (EFE).- Organizações internacionais começaram a identificar o surgimento de doenças em Porto Príncipe, onde os trabalhos humanitários continuam e os comerciantes do centro da cidade tentam desesperadamente salvar suas mercadorias dos saqueadores.

Infecções respiratórias, diarreias, problemas dermatológicos e casos de tétano e meningite já foram detectados, disse à Agência Efe a representante de Saúde da Cruz Vermelha no Haiti, Beatriz Karottki.
Passados dez dias desde o terremoto, diminuiu um pouco o número de feridos com traumatismos e órgãos a serem amputados. Por outro lado, começaram surgir problemas de saúde relacionados a desidratação e infecções, comuns após grandes catástrofes.
O dia a dia em Porto Príncipe também começa a voltar ao normal. O comércio abriu as portas, equipes de limpeza já trabalham em algumas localidades e, após dias de ajuda no socorro às vítimas, até as forças de paz da ONU estão retomando sua atividade principal: a segurança.
No centro da capital, porém, alguns comerciantes, com medo da onda de saques, decidiram esvaziar seus estabelecimentos e levar toda a mercadoria para outro lugar.
Por causa do terremoto da semana passada, centenas de pessoas reviram todos os dias as lojas destruídas da parte central de Porto Príncipe em busca de algo para comer ou vender.
Michel, dono de um armazém que vende tecidos, brinquedos e artigos para o lar, levou hoje um de seus empregados para esvaziar o local, caso contrário o estabelecimento em breve virará alvo dos saqueadores.
Enquanto ajudava a colocar as mercadorias em um caminhão estacionado em frente à loja, Michel manifestou à Agência Efe seu mal-estar em relação à passividade da comunidade internacional diante das cenas de roubo, saques e violência.
"Eu esperava que a ONU fosse enviar ajuda para dar segurança a esta região, mas, dez dias depois (do tremor), só há uma patrulha da Polícia estacionada na entrada da rua", comentou o comerciante, que do seu armazém via grupos de jovens saindo de estabelecimentos próximos carregados de produtos roubados.

"Isto é muito duro. Não tenho nenhum projeto nem sei o que vou a fazer. Esta frustração nos desmotivou. A única coisa que posso fazer é tirar o que há dentro do armazém", disse o lojista, que há 30 anos ocupa o mesmo ponto.
Vários outros comerciantes tomaram a mesma decisão que Michel e levam embora suas mercadorias para evitar que sejam roubadas.
"Se não tirarmos, olha o que acontece", disse outro empresário apontando para o alto, onde um grupo percorria o teto de seu estabelecimento em busca do que quer que seja.
Mas, ao contrário de Michel, este comerciante, que preferiu não se identificar, não tem críticas contra a polícia, que "faz o que pode".
"Mas quem me vai me dar crédito nestas circunstâncias? A menos que a comunidade internacional conceda financiamento (...). É muito difícil recomeçar", reclamou o atacadista, que vendia materiais para a fabricação de sapatos.
Quando parados pela polícia, os saqueadores dizem que o que carregam em suas bolsas é de sua propriedade. Mas, em uma destas interceptações, quando os agentes foram embora, um grupo admitiu à Agência Efe que os perfumes, cremes e cosméticos que transportavam eram de lojas da região.
Os saqueadores estão por todos os lados, rastejam pelos buracos entre os escombros e percorrem os tetos dos estabelecimentos.
Em um deles, três jovens que não quiseram dar seu nome reconheceram que estavam em busca de algo para roubar. Porém, disseram que hoje foi um dia ruim, já que não encontraram muita coisa. A conversa acabou de repente, quando dois estampidos foram ouvidos e todos começaram a correr de disparos da "polícia má", como outro jovem se referiu às forças de ordem.
Jean Martín, de 22 anos e com o rosto coberto até os olhos, disse à Efe que não há nada a fazer, a não ser revirar os escombros em busca de algo.
"Tenho muitos problemas. Sinto fome. Você entende? Tenho que salvar minha vida. Minha mãe morreu no terremoto, meu pai está desaparecido e agora estou só", declarou.
"Aí (debaixo dos escombros) há muita coisa: comida, roupa..., o que quiser. A polícia não causa problemas (porque) sabe que temos que comer", acrescentou. EFE

Falta de água ameça a estabilidade política do Iêmen

Falta de água ameça a estabilidade política do Iêmen

Le Monde
Gilles Paris
Enviado especial a Sanaa
 
Ele abre a torneira da mangueira sobre o pátio ressecado de seu jardim interno, e depois liga a bomba elétrica que compensa os defeitos de um encanamento agonizante. Em um gorgolejo, o tubo cospe algumas gotas de água com esforço. E mais nada. Anuar As-Saooly para a bomba que gira em falso, e fecha a torneira. "Devia ter vindo ontem, era o dia semanal de abastecimento do bairro", suspira esse engenheiro hídrico, funcionário de uma empresa alemã, a GTZ, e que mora em um bairro rico de Sanaa, capital do Iêmen. Então, na véspera, a família de Anuar encheu as duas cisternas que possui. A água coletada, de má qualidade, é utilizada somente para as tarefas domésticas. Para cozinhar e beber, consomem somente aquela vendida em garrafas ou galões.
  • Aleksander Perkovic/Der Spiegel Ex-detento de Guantánamo, o iemenita Saleh Al Zoba lava os pés na entrada de mesquita
    em Sanaa (Iêmen); um dos poucos lugares do país onde a água corrente é encontrada em abundância. Segundo o jornal "Le Monde", a falta de água é tão ou mais perigosa que a formação de células terroristas no país, que tanto assusta o governo dos EUA e a Europa

Há muito tempo que a água corrente é uma miragem no Iêmen, e não somente em seus desertos e suas montanhas áridas. De todos os flagelos que pesam sobre esse país, que é o mais pobre da península Arábica, desde o movimento separatista do Sul até a rebelião armada no Norte, passando pela presença da Al Qaeda, que atrai a atenção do Ocidente, a falta de água certamente constitui o perigo menos visível, mas o mais insidioso e potencialmente o mais destrutivo. Ele ameaça a maior parte da população, que também é a mais pobre.

A distribuição de um recurso cada vez mais disputado pode alimentar no futuro uma série de guerras pela água, opondo o campo à cidade, ou as regiões mais irrigadas às mais secas. Um iemenita dispõe em média de 120 metros cúbicos de água por ano para cobrir todas suas necessidades, contra 1.500 metros cúbicos para a média mundial. Um número já muito modesto, que poderá cair pela metade até 2025.

"É simples", explica Ramon Scoble,um neo-zelandês que trabalha com as autoridades iemenitas para uma melhor gestão dos recursos hídricos, "cinquenta anos atrás, bastava perfurar a 10 metros de profundidade para encontrar água. Hoje, é preciso descer em média 500 a 700 metros. Em algumas regiões, os poços chegam até a um quilômetro". Os lençóis freáticos ainda enganam, mas por quanto tempo? A alta taxa de crescimento demográfico do Iêmen explica em grande parte essa sede insaciável. A população do país dobra a cada quinze anos, ao passo que as chuvas são limitadas, que o país não possui cursos de água permanentes, e que o preço da dessalinização da água do mar continua sendo proibitivo. Então o consumo ultrapassa, em muito, o estoque renovável.

Mas a origem da crise no Iêmen também remonta aos anos 1970 e à revolução das técnicas agrícolas. Nesse país desértico, os métodos ancestrais privilegiavam um uso coletivo das águas de chuva, em culturas escalonadas ou nos wadis [leitos de rios sazonais], regulados por uma rede de pequenas barragens. Naquela época, a gestão comunitária sumiu com a possibilidade que passou a ser oferecida de perfurar em profundidade e bombear a partir do lençol freático. As autoridades incentivaram a investir nessas práticas individualizadas em nome da autossuficiência alimentar ou de uma agricultura elevada a símbolo nacional. O combustível queimado para o funcionamento das bombas era generosamente subsidiado.

Foi assim que apareceram plantações consumidoras de irrigação, como de banana e melancia, inclusive para a exportação, ainda que na prática isso significasse exportar essa água. A superfície cultivada somente com a água de chuva caiu de 1 milhão de hectares nos anos 1970 para 500 mil hectares em 2009. Ao mesmo tempo, aquela irrigada artificialmente passou de 40 mil para 500 mil hectares.
  • Aleksander Perkovic/Der Spiegel Marcas da terra seca que predominam na maior parte das áreas do Iêmen. A falta de água preocupa autoridades de todo o mundo


Um outro fator contribuiu para esse mudança de situação. Ele pode estar relacionado à multiplicação dos mercados em Sanaa dedicados ao "khat", preciosos brotos verdes mascados por seus efeitos euforizantes. Quando volta ao país, geralmente uma vez ao ano, Rafiq, um jovem iemenita que trabalha na Alemanha, mede a progressão dessa cultura nas fazendas em torno de Sanaa, a partir do avião que o leva à capital. "Em toda parte! Agora existe em toda a parte!", ele diz, espantado, enquanto contempla as fileiras de arbustos. "O khat é a garantia de uma renda confortável para os agricultores. Ganham quinze vezes mais com khat do que com tomates, usando a mesma quantidade de água", explica Ramon Scoble. Mais de um terço das superfícies irrigadas com água de poços profundos são destinadas ao seu cultivo. A superexploração dos lençóis atingiu seu ápice, estimulada pelo fenômeno crescente dos poços ilegais. É o produto da corrupção e da política daqueles que um relatório do Banco Mundial, em abril de 2009, classifica pudicamente com a expressão "pessoas influentes", que andam pelos círculos de poder, tribais ou estatais.

Encravada no meio de montanhas áridas, a capital do Iêmen é especialmente ameaçada pela escassez. Será que já se deve preparar a necessária divisão em dois de sua população (2,2 milhões de habitantes)? É a opinião de um especialista em geologia, Mohammed Al Dubei, emitida em agosto de 2009 durante um colóquio do Sheba Center for Strategic Studies, durante o qual também foi prognosticado o esgotamento definitivo em 2025 do aquífero sobre o qual está instalada a cidade. "Um catastrofismo como esse é contra-producente", relativiza, por sua vez, Abdul Rahman Al-Iriyani, ministro do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos. "Já anunciavam a falta d'água dez anos atrás, e depois a remediaram bombeando de profundezas maiores, dando então a impressão de que havia sido um alarme falso. Mas é verdade, a situação é muito séria, muitos incidentes tribais já acontecem por brigas relacionadas à água. Sempre tenho a impressão de que a questão da água no Iêmen se resume a uma corrida àquele que terá a última gota, sendo que deveriam se unir para tentarem melhorar a situação".

Os raros dirigentes políticos e os especialistas, alarmados com a perspectiva de um Iêmen seco, decidiram dedicar todos seus esforços para uma maior eficácia do setor agrícola que absorve 93% dos recursos do país. Anuar As-Saooly, engenheiro hídrico, justifica essa escolha: "É evidente que as redes de distribuição, tanto em Sanaa como em Aden, são muito defeituosas. O fato de não serem mais alimentadas permanentemente acelera os fenômenos de corrosão. Mas sua renovação seria custosa demais, então é melhor apostar tudo na agricultura". "A eficácia da utilização da água para a agricultura é de somente 40%. Se pudéssemos atingir pelo menos 60%, seriam 20% a mais de água", explica o ministro do Meio Ambiente.

Diversos caminhos são mencionados: o direcionamento da água para as culturas por meio de canos, e não por canais ao ar livre que favorecem uma grande evaporação, ou a substituição da dispendiosa prática que consiste em inundar os terrenos com sistemas de gotejamento. Diante do poderoso ministério da Agricultura e de seus subsídios, o do Meio Ambiente não está muito bem armado para mudar as mentalidades.

"O ideal seria limitar os cultivos que consomem água demais, a começar pelo khat. Aquele produzido pela Etiópia é muito bom, e que não me venham com o argumento de que é necessário que ele seja fresco, para justificar o cultivo nos arredores! Quando eu era estudante em Londres, sempre encontrava khat de excelente qualidade no local", garante Anuar As-Saooly. Ciente do poder da "máfia" do khat, inclusive no Parlamento e no partido do presidente Ali Abdallah Saleh, o ministro do Meio Ambiente, Abdul Rahman Al-Iriyani é mais lúcido: "Seria preciso inicialmente ter a garantia de que a economia de água não levaria a uma extensão paralela das superfícies cultivadas".

Será que essas medidas serão suficientes para evitar o pior? "Não é realista pensar que um dia teremos os meios para tratar a água do mar, e depois enviá-la para cidades situadas a mais de 2 mil metros de altitude como Sanaa. Mas é verdade que a dessalinização custará cada vez menos, e que será a solução, mesmo para um país pobre como o Iêmen". Visionário, o engenheiro hídrico prevê um movimento definitivo das populações iemenitas em direção às costas do mar Vermelho e do golfo de Áden.

Nas zonas de difícil acesso por razões de segurança e onde a água é particularmente rara, seja no norte, onde a província de Saada é devastada pela guerra contra a rebelião, seja no sul, em determinadas zonas das províncias de Abyane e Lahej, alguns vilarejos já teriam sido abandonados. Será que as soberbas cidades cravadas nas encostas rochosas das quais o Iêmen tanto se orgulha acabarão na poeira?

Mais do mesmo: pessoas preferem descartar informações que não dizem o que elas querem ouvir

Mais do mesmo: pessoas preferem descartar informações que não dizem o que elas querem ouvir

1005753_jpar1Navegamos em um mar de informação, mas filtramos a maioria das coisas que vemos e ouvimos. Uma nova meta-análise (revisão crítica) de dados de dezenas de estudos anteriores tenta entender como escolhemos o que queremos saber. O estudo mostra que as pessoas tendem a descartar informações que não dizem o que elas querem ouvir, levando a desconsiderar determinados pontos de vista diferentes dos delas.
A meta-análise, feita por pesquisadores da Universidade de Illinois e da Universidade da Flórida, ambas nos EUA, inclui dados de 91 estudos envolvendo mais de 8 mil participantes. Os resultados devem por um ponto final nas dúvidas do porque as pessoas evitam informações que contradizem com o que elas acreditam ou simplesmente ficam mais expostas a ideias que condizem com sua própria opinião, pois, ao que parece, a maioria das pessoas preferem estar cercada por seus iguais.
“Nós procuramos ver o que faz as pessoas procurarem algo verdadeiro ou ficar confortável com o que já sabe”, diz Dolores Albarracin, que coordenou o estudo junto com Willian Hart.
Os estudos revisitados e analisados normalmente perguntavam aos participantes sobre sua visão a respeito de determinado assunto, e então os deixavam livres para procurar ou ler informações que confirmassem seus pontos de vista ou que fossem antagônicos a estes.
Os pesquisadores descobriram que pessoas são duas vezes mais propensas a selecionar informação que confirmem seus pontos de vista (67%) do que considerar uma ideia oposta ao que acreditam (33% dos entrevistados). Certos indivíduos, menos maleáveis, eram ainda mais relutantes a se permitir ler algo que diferisse de suas opiniões. Estes indivíduos, diz Albarracin, optavam por ler ou procurar informações que corroborassem o que pensavam em mais de 75% das vezes.
Valores políticos, religiosos e éticos são os mais resistentes à críticas
Os pesquisadores também descobriram, que as pessoas são mais resistentes a novos pontos de vista quando suas ideias estão associadas com valores políticos, religiosos ou éticos. “Se você é realmente compromissado com uma determinada postura – política digamos – você é mais propenso a procurar informações complementares que correspondem com a sua visão atual, isso em 70% das vezes”, explica Albarracin.
O mais surpreendente é que as pessoas que têm pouca confiança em suas próprias crenças são aquelas que menos se expõem a pontos de vista contrários ao que pensam.
Mas há também certos fatores que induzem as pessoas a procurarem algo que contraponha uma ideia. Aqueles que, de alguma maneira, se vêm obrigados a defender suas ideias em público, são os que mais aprendem sobre os pontos de vista contrários à sua posição (políticos, por exemplo). Quanto mais se sabe sobre as críticas ao seu posicionamento, mais se aprende sobre as próprias ideias, diz a pesquisadora.
As pessoas também são mais relaxadas a se exporem a ideias novas quando isso é útil, de alguma forma. “Ao comprar uma casa, por exemplo. Por mais que você goste do que viu, vai procurar algo que possa inviabilizar o investimento, para somente depois se decidir. O caso de uma cirurgia, quase sempre as pessoas pedem uma segunda opinião, por melhor que o médico que indicou a cirurgia seja”.
Mas para a maioria das pessoas, ao que parece, focar nas próprias crenças e ideias é confortável e as permitem viver do jeito que estão. “A boa notícia é que uma em cada três vezes, mais ou menos, as pessoas procuram ver o outro lado das coisas”, finaliza Albarracin.
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Fonte: Uol com informações da American Psychological Association

Jogo patológico: idosos estão cada vez mais vulneráveis ao impacto desse transtorno

Jogo patológico: idosos estão cada vez mais vulneráveis ao impacto desse transtorno

1181472_thwnBingo, jogo do bicho, corrida de cavalos ou então aquelas maquininhas eletrônicas de apostas onde o som das moedas entrando se confundem com a cacofonia eletrônica que lembram os velhos videogames. Não parece nada sério. Diversão barata e um tanto quanto datada, diriam alguns. O público desse tipo de jogo parece ainda mais inofensivo, afinal são senhores e senhoras de cabelos brancos. Avôs e avós que parecem ingênuos e não combinam com o perfil do jogador patológico.
Pois saiba que é cada vez mais crescente o número de idosos que estão vulneráveis a esse transtorno. O jogo patológico na terceira idade atinge pessoas com mais de 50 anos e que por diversos motivos se vêm enfrentando um padrão de comportamento compulsivo onde as perdas financeiras e sociais não impedem a recorrência das apostas e dos riscos. Os jogadores patológicos perdem o controle sobre quando e o quanto jogam.
“Diferente dos adultos jogadores patológicos os idosos possuem mais tempo livre e um nível sócio econômico mais elevado. Não que eles ganhem mais, mas possuem vidas mais estáveis e uma série de bens de consumo que acumularam durante a vida. Eles também podem estar sofrendo com a diminuição do seu círculo de amizades e contatos sociais, com 0 distanciamento da família ou mesmo com a morte de entes queridos. Isso tudo faz com que eles estejam mais vulneráveis a desenvolver o jogo patológico”, explica Cecília Galleti, psicóloga clínica, pesquisadora do IPq (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP) e colaboradora do Programa Ambulatorial do Jogo Patológico (PROAMJO).
O jogo acaba tendo impacto econômico na vida desses idosos e pioram a situação de interação social. Os laços afetivos fora do ambiente de jogo se tornam ainda mais frágeis e o isolamento pode piorar.
Cecília é responsável por uma pesquisa que acompanhou diversos pacientes idosos que participam de grupos de apoio para o tratamento do jogo patológico e aponta algumas características desse grupo. “Atendemos jogadores patológicos, na grande maioria, acima dos 60 anos e que, ao contrário de outros grupos de idosos, tinham acesso à informação e procuraram ajuda para se tratar”, explica.
O detalhe é importante, segundo a pesquisadora, pois ainda não se sabe a real extensão do problema nesse público específico. “Trabalhamos com a estimativa de que menos de 10% desse público procure ajuda, ou seja, não temos dimensão dos números reais de pessoas nessa idade acometidas do transtorno do jogo patológico”, diz Cecília.
Diferenças entre os homens e mulheres atendidos
“Os homens costumam apresentar o hábito do jogo há mais tempo. Mas somente depois de muito tempo é que o comportamento se torna patológico. Nas mulheres o hábito se instaura já na velhice, mas elas apresentam uma rápida progressão da doença e também procuram ajuda mais rápido. Os homens, nesses casos, esperam mais tempo e normalmente já os atendemos quando o comportamento é intenso”, afirma a psicóloga.
O que pode contribuir para que essas pessoas procurem ajuda é o nível de informação. “O grande problema com os idosos é o certo isolamento da informação. Não são todos que acessam a internet ou que têm a referência de algum amigo ou familiar que os encaminhe”, diz Cecília.
Para a pesquisadora seria importantíssimo que os médicos especialistas, como geriatras e gerontólogos deveriam estar mais atentos ao início desses hábitos. “Seria importantíssimo que esses profissionais incluíssem na prática clínica conversar com os pacientes sobre hábitos que podem se transformar em um vício, como saber se eles estão bebendo com mais regularidade ou se estão se envolvendo com jogos de azar – aqueles onde o resultado não depende somente da habilidade do jogador, mas possuem fatores como a aleatoriedade envolvida, como os jogos citados ou o carteado”, aponta.
Com isso, a detecção da instalação do transtorno de jogo patológico poderia ter no consultório uma frente de encaminhamento eficaz. Nos próximos meses, uma pesquisa nacional sobre o assunto deve ficar ser apresentada ao público. Hermano Tavares, coordenador do PROAMJO/IPq e que participou na pesquisa de Cecília, também coopera com o projeto. Será o primeiro levantamento nacional sobre o uso abusivo de álcool, drogas e jogo e contemplará o problema crescente entre os idosos.
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Para procurar ajuda
PROAMJO: Programa Ambulatorial do Jogo Patológico do Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Tel.: 11 3069.7805
• ANJOTI: Associação Nacional do Jogo Patológico e Outros Transtornos do Impulso. Site: www.anjoti.org.br
• J.A.: Jogadores Anônimos. Site: www.jogadoresanonimos.com
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por Enio Rodrigo