Café Filosófico : O ódio no Brasil

 

O Ódio no Brasil – Leandro Karnal

O que na história e no cotidiano do Brasil nos leva ao ódio e à violência? É possível sempre “amar o povo” (entendido como uma “multidão”), mesmo sendo invasivo, grosseiro, violento em suas manifestações históricas? Índio, negro e europeu: a “alma brasileira” detesta a si mesma? Apenas a fome leva o homem ao gosto pelo mal?
Com Leandro Karnal.
Palestra da série As Razões do Ódio, de Luiz Felipe Pondé.
 

OS TRÊS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO


OS TRÊS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO

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Regina  Lopes

A  dominação é resultado de uma relação social de poder desigual, onde se vê claramente, que um lado manda e outro obedece. Existe a subordinação de uns e poder de outros. As relações de dominação são necessárias, para a manutenção da ordem social.
Weber é considerado, junto com Karl Marx e Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia e dos estudos comparados sobre cultura e religião, disciplinas às quais deu um impulso decisivo. A sua abordagem diferia da de Marx, que utilizou o materialismo dialético como método para explicar a evolução histórica das relações de produção e das forças produtivas. Contrastava igualmente com as propostas de Durkheim, que considerava ser a religião a chave para entender as relações entre o indivíduo e a sociedade. Para Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência entre religião, economia e sociedade.
Segundo estudos apresentados por Max Weber, existem três tipos puros de dominação legítima, que são: Dominação Legal, Dominação Tradicional e Dominação Carismática.
A dominação legal tem como ideia base à existência de um estatuto que pode criar e modificar normas, desde que seu processo (forma) esteja previamente estabelecido.
A forma mais pura de dominação legal é a burocracia. Muito embora não haja domínio legal que seja exclusivamente burocrático, já que não há como uma empresa ser constituída unicamente por funcionários contratados; há sempre os dignitários, ou seja, os que ocupam cargo mais alto. Podemos concluir então, que o elemento burocrático é essencial para o trabalho rotineiro.
Weber faz uma analogia entre o desenvolvimento de um Estado Moderno e o da moderna burocracia; também entre a evolução do capitalismo moderno e a burocratização crescente das empresas econômicas.
A dominação tradicional, por sua vez, é aquela que se dá em virtude da crença na "santidade" das ordenações e dos poderes senhoriais, possuindo como tipo mais puro a dominação patriarcal, na qual o "senhor" ordena e os súditos obedecem. Seu quadro administrativo é formado por "servidores". A dominação é exercida em virtude da dignidade do senhor e reiterada pela tradição: por fidelidade. À vontade do senhor possui caráter importantíssimo e uma característica "elástica". Dessa maneira, as normas tradicionais se restringem a um campo determinado enquanto que, numa outra esfera, de acordo de com a "graça" e "arbítrio livres", age conforme seu prazer, sua simpatia ou antipatia e de acordo com ponto de vista puramente pessoal. Seus princípios são os da eqüidade ética material, da justiça ou da utilidade prática – diferente do caráter formal existente na dominação legal.
Em virtude de devoção a pessoa do senhor e seus dotes sobrenaturais (carisma) e, particularmente, as faculdades mágicas, revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória; o sempre novo, o extracotidiano, o inaudito e o arrebatamento emotivo que provocam, constituem fonte de devoção pessoal, caracteriza a dominação carismática.
A obediência enquanto obtenção do consentimento passivo (imposição carismática) ou subordinação (por imposição tradicional) não é um elemento desejável, embora possível ou real. A disciplina por sua vez, definida como "a probabilidade de que, em virtude do hábito, um comando receba obediência pronta e automática de forma estereotipada, da parte de um grupo dado de pessoas" é para Weber, um ingrediente fundamental da sociedade.
Quando esta disciplina não é habitual, mas exige a presença de fato de mando eficaz (pessoal, organizacional ou institucional) para obter obediência, estamos numa situação de dominação.
A dominação legal subordina tanto o dominado quanto o dominante a um mesmo estatuto, evitando assim, abusos de poder. Ela supera a obediência tradicional (de cunho aristocrático) e a subordinação personalizada (carismática ou sultânica) por promover uma menor probabilidade de decisões arbitrárias. Ela acarreta maior estabilidade na relação dominante/ dominado, uma vez que os direitos deste, como, por exemplo, o da queixa, já estão previamente garantidos. Todavia, o exercício legal-racional de dominação também envolve uma certa dose de força. Esta pode ser "ativa", por meio de agentes sociais, e estrutural, ou seja, já implícita na situação.
À disciplina se opõe o carisma, por seu caráter de "poder mágico" e como atributo único e transitório de um indivíduo. Portanto, o carisma entra como um desestabilizador "da ordem" repleto de impositivos não institucionalizados nem rotinizáveis. Weber desconfia nitidamente do carisma. Acredita ser extremamente perigosa a possibilidade de elementos emocionais virem a predominar na política. A massa, que só pensa em curto prazo, está sempre exposta as influências diretas puramente emocionais e irracionais.
A dominação tradicional é um típico exemplo de influência de valores morais e éticos existente desde a Idade Antiga e que, de certa maneira, foi sobreposta, aos poucos, na Idade Moderna pela dominação legal. No entanto, tal dominação pode ser observada até hoje, de forma não oficial. Ela depende amplamente da submissão moral do ordenado para com o ordenador, se esta não existir, a corrente de poder poderá facilmente ser quebrada acarretando uma revolução e queda de poderes.
Tal dominação pode ser imposta por meios materiais, à medida que o senhor possui uma vantagem "financeira", ou por meios coercitivos, que também asseguram a manutenção desta situação.
Uma dominação que não possui regras claras e bem definidas tende, certamente a prejudicar aquele que é mais fraco economicamente e/ou politicamente.

Livro "A vida que vale a pena ser vivida"




























































A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA considerados dois dos palestrantes mais requisitados no país na atualidade, os autores já se apresentaram para mais de 150 mil pessoas.  Diferente do que se pode imaginar o livro não foi o ponto de partida para a criação da palestra, mas sim o contrário. Percebendo o sucesso das palestras os autores, em parceria com a comissão editorial da Vozes, lançaram, no  ano 2010 a obra em questão. O tema das palestras e, consequentemente, do livro partiu de uma inquietação. A denúncia das soluções facilitadoras da vida. Uma verdadeira sociologia da felicidade que apresenta os movimentos de uma batalha sem fim pela definição das condições legítimas da vida boa. A temática toca em áreas sensíveis de viver: a busca das essências, o “estar em ordem”, a felicidade, o desejo, o prazer, o livre-arbítrio, a moral, o utilitarismo, os vínculos sociais, a intensidade de vida. E neste percurso faz um retorno ao pensamento de Platão, Sócrates, Aristóteles, Homero, Epicuro, Sêneca, os evangelistas, Agostinho, Espinosa, Bentham, Mill, Kant, Rousseau, Hobbes, Durkheim, Bourdieu, Weber e Foucault.Enfim, “A vida que vale a pena ser vivida”, é composto por reflexões filosóficas e existenciais sobre a vida pensada, ajustada, prazerosa, tranquila, consagrada, potente, útil, moralizada, socializada, intensa e feliz. O LIVROApesar da idéia que o título pode dar este não é um livro de auto-ajuda, pelo contrário. Ele oferece aos leitores uma reflexão crítica sobre os critérios existenciais mais consagrados, exatamente para que possam desconfiar de fórmulas prontas para o bem viver Os autores Clovis de Barros Filho e Arthur Meucci abordam questões fundamentais da existência humana, utilizando diferentes enfoques por meio da formulação do pensamento dos mais destacados nomes da filosofia, de Sócrates e Platão a Espinosa e Nietzsche, aplicados a situações do cotidiano, para que o leitor “possa resistir, cada vez melhor, contra todo tirano que pretenda empurrar-lhe goela baixo a vida que vale a pena”.Esta intenção é explicitada logo no início, sem rodeios e com muito bom humor. Sem nenhum propósito de enganar seus potencias leitores, em lugar da tradicional “Introdução” a obra traz uma “Advertência”, na qual se estabelece um diálogo direto com o leitor (assim como ocorrerá até o final do livro), como no trecho: “Deixe este exemplar para outro leitor. Menos esperançoso. Mais desconfiado dos programas de excelência existencial. Que, se funcionassem, já teriam erradicado a tristeza do mundo. Ele talvez intua que o sucesso não tem fórmulas secretas. Que se a liderança passo a passo fosse eficaz, todos já seriam líderes. Ele provavelmente se dá conta de que fórmulas indiscutíveis escravizam. De que a soberania para deliberar sobre a própria vida – com todos os riscos – é nosso único verdadeiro patrimônio. Inalienável.”Trata-se, portanto, de um interessante passeio pelo universo filosófico, de maneira leve, divertida e muito próxima da vida comum. Este, sim, um trabalho de sucesso, já que entre as palestras que Clovis de Barros Filho realiza em todo o País, a “Vida que vale a pena ser vivida” passou a ser a mais solicitada nos últimos dois anos.OS AUTORESClóvis de Barros Filho é graduado em Direito na USP e em Jornalismo pela Cásper Líbero, fez doutorado na Universidade de Paris III e em Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP, com créditos na Universidade de Navarra. É professor livre-docente da ECA/USP. Considerado por revistas especializadas um dos melhores palestrantes corporativos do Brasil. De 2007 a 2010 mais de 150 mil pessoas ouviram palestras ministradas pelo autor. Entre os vários temas de conferência a “Vida que vale a pena ser vivida” passou a ser a mais solicitada nos últimos dois anos.Arthur Meucci é bacharel, licenciado pleno e mestre em Filosofia pela USP, tem formação em psicanálise pelo IBCP. Professor, conferencista e consultor do Espaço Ética, trabalha diretamente com setores de capacitação e treinamento em RHs e Compliances de grandes corporações. A sólida formação filosófica casada com a sensibilidade psicanalítica o tornou um profundo conhecedor da condição humana em todos os níveis – desde o familiar até o profissional.

Cresce o número de evangélicos sem ligação com igrejas


  Cresce o número de evangélicos sem ligação com igrejas

Especialistas dizem que processo pode ser análogo ao de quem se identifica como 'católico não praticante'

Pesquisa mostra que, entre 2003 e 2009, fatia de fiéis que dizem não ter vínculo institucional saltou de 4% para 14%

Pedro Carrilho/Folhapress

Verônica de Oliveira, do Rio de Janeiro, frequenta três igrejas diferentes

ANTÔNIO GOIS
DO RIO
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Verônica de Oliveira, 31, foi batizada católica e vai à missa aos domingos. No entanto, moradora do morro Santa Marta, no Rio, é vista com frequência também nos cultos das igrejas evangélicas Deus é Amor e Nova Vida.
Quando questionada sobre sua filiação, dispara: "Nem eu sei explicar direito. Acho que Deus é um só".
Em cada igreja, ela gosta de uma característica. Na Católica, são os folhetos distribuídos na missa. Na Deus é Amor, "um pastor que fala uma língua meio doida".
Na Nova Vida, aprecia o fato de lerem bastante a Bíblia
Mais do que trair hesitações teológicas, casos como o de Verônica, de "religiosos genéricos", que não se prendem a uma denominação, crescem nas estatísticas.
Um bom indício do fenômeno surge nos dados sobre religião da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), do IBGE, que pesquisou o tema em 2003 e 2009. No período, só entre evangélicos, a fatia dos que se disseram sem vínculo institucional foi de 4% para 14% -um salto de mais de 4 milhões de pessoas.
Entram nesse balaio, além de multievangélicos como Verônica, pessoas que não se sentem ligadas a nenhuma igreja específica, mas não deixaram de considerar-se evangélicos, em processo análogo ao dos chamados "católicos não praticantes".
A intensidade exata do fenômeno só será conhecida quando saírem dados de religião do Censo de 2010.
No entanto, para especialistas consultados pela Folha, a pesquisa, feita a partir de amostra de 56 mil entrevistas, é suficiente para dar boas pistas do movimento.
O pesquisador Ricardo Mariano, da PUC-RS, reconhece que vem ocorrendo aumento de protestantes e pentecostais sem vínculos institucionais, ainda que ele tenha dúvidas se o crescimento foi mesmo tão intenso quanto o revelado pelo IBGE.

INDIVIDUALISMO
Para ele, a desinstitucionalização é resultado do individualismo e da busca de autonomia diante de instituições que defendem valores extemporâneos e exigem elevados custos de seus filiados.
De acordo com o professor, parte dos evangélicos adota o "Believing without belonging" (crer sem pertencer), expressão cunhada pela socióloga britânica Grace Davie sobre o esvaziamento das igrejas ao mesmo tempo em que se mantêm as crenças religiosas na Europa Ocidental.
Para a antropóloga Regina Novaes, uma pergunta que a pesquisa levanta é se este "evangélico genérico" tem semelhanças com o católico não praticante. Para ela, "ambos usufruem de rituais e serviços religiosos mas se sentem livres para ir e vir".
Diana Lima, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos, levanta outra hipótese: "Minha suspeita é que as distinções denominacionais talvez não façam para a população o mesmo sentido que fazem para religiosos e cientistas sociais. Tendo um Jesus Cristo ali para iluminar o ambiente, está tudo certo".
Os dados do IBGE também confirmam tendências registradas na década passada, como a queda da proporção de católicos e protestantes históricos e alta dos sem religião e neopentecostais.
No caso dos sem religião, eles foram de 5,1% da população para 6,7%. Embora a categoria seja em geral identificada com ateus e agnósticos, pode incluir quem migra de uma fé para outra ou criou seu próprio "blend" de crenças -o que reforça a tese da desinstitucionalização.
Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, do IBGE, o que está ocorrendo é um processo de democratização religiosa, "com todos os problemas da democracia".
O maior perdedor é a Igreja Católica, que ficou sem seu monopólio. Segundo Alves, ela vai ceder mais terreno, porque os católicos se concentram nas parcelas de menor dinamismo demográfico.
Já os evangélicos ainda vão crescer muito, garante o demógrafo, pois ganham entre as parcelas da população que têm maior fecundidade.
Outro dado interessante da POF é que aumentou o número dos que declararam uma religião não identificada pelos pesquisadores, o que indica que na década passada mais igrejas surgiram e passaram a disputar o "supermercado da fé", na expressão depreciativa utilizada pelo papa Bento 16.
Por ser amplo, o levantamento permite também identificar, denominação por denominação, o tamanho de cada igreja.
A Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, registrou queda de 24% no número de fiéis. O recuo pode estar relacionado com a criação de igrejas dissidentes.
Ao analisar os números, porém, os pesquisadores consultados dizem que é preciso esperar o Censo para confirmar esse movimento.

Psicólogo dá o ranking e a interpretação de temas oníricos recorrentes; psicanalista critica "manuais" de significados

Psicólogo dá o ranking e a interpretação de temas oníricos recorrentes; psicanalista critica "manuais" de significados 

JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

Muitos dos seus sonhos, que parecem tão originais, são iguais aos de todo mundo. Na infância, por exemplo, você deve ter tentado escapar de um monstro ou de um fantasma. Mais tarde, pode ter tido uma fase em que perdia os dentes num pesadelo recorrente ou não encontrava um banheiro.
Ser perseguido está no topo da lista de enredos mais populares, segundo o psicólogo escocês Ian Wallace, que estuda sonhos universais há 30 anos. Ele é autor de "The Top 100 Dreams" (os cem sonhos 'tops', sem edição no Brasil), lançado em junho, que está entre os mais vendidos da categoria, nos EUA.
No livro, Wallace, 47, interpreta o ranking não estatístico de sonhos mais comuns. "Embora nossas experiências de vida variem, temos padrões de comportamento similares e mentes similares", disse à Folha.
É possível, segundo o psicólogo, dividir os sonhos de acordo com a idade. Crianças tendem a sonhar que há algo de assustador no quarto.
Adolescentes, geralmente, são perseguidos por zumbis, perdem os pais ou ficam presos no cemitério.
"No início da vida adulta, as pessoas sonham que perderam o avião ou abandonaram seus filhos por engano", exemplifica.
A psicóloga e psicoterapeuta Marion Gallbach, autora de "Aprendendo com os Sonhos" (Paulus, R$ 39,50, 248 págs.), acompanhou grávidas de primeira viagem por seis meses em sua dissertação de mestrado.
Segundo ela, oito em dez gestantes sonhavam com água: chuva, dilúvios, tsunamis. "Muitas delas também sonhavam com leite ou com filhotes de animais."
Para Gallbach, os símbolos da maternidade são uns dos mais característicos e marcantes, relacionados com o instinto biológico e com a mudança física e psicológica pela qual a mulher passa.
O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1865-1961) chamava os símbolos representados nos sonhos de arquétipos. Eles seriam resultado de um inconsciente coletivo, formado a partir de influências genéticas, culturais e sociais.
Nesse caso, sonhar com água tem relação com ser inundado por emoções, perder o controle da situação e ser obrigado a se deixar levar. "É como as grávidas normalmente se sentem."

IGUAL, MAS DIFERENTE

Os temas são parecidos, mas os detalhes diferenciam os sonhos. "Há símbolos universais, mas o principal para desvendar significados é o contexto em que o símbolo está inserido", afirma a psicanalista Cecilia Orsini, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
Na visão da neurociência, sonhos são o resultado da soma de memórias recentes e consolidadas. Por isso é quase impossível os sonhos de duas pessoas serem iguais.
"O conteúdo pode ser o mesmo, porque vivemos na mesma sociedade, mas o enredo muda. Ele é feito a partir das experiências de cada um e de como cada um interpreta a realidade", diz Angela Cristina do Valle, pesquisadora em neurociências na Universidade de São Paulo.
A seleção de memórias, que nos sonhos aparecem como um mosaico aparentemente sem sentido, não é aleatória: acontece de acordo com o sistema de recompensa ou de punição do cérebro, segundo o neurocientista Sidarta Ribeiro, pesquisador da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
"Quando Freud falou que os sonhos representavam desejos, de certa forma estava certo", afirma.
O neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939), um dos primeiros cientistas a se debruçar sobre o tema, estabeleceu que o sonho é um retrato do inconsciente, sempre individual. Daí o problema com manuais e dicionários de significados.
Além de revelarem desejos, os sonhos, para a psicanálise, mostram questões que a pessoa não está resolvendo.
"Freud diz que a chave do sonho é sempre o sonhador. Os símbolos dos manuais podem até esconder o significado real", comenta Orsini.
O sonho "manda um recado" do inconsciente. "É uma mensagem do próprio eu para a personalidade consciente. Pode servir como forma de compensar, reestabelecer o equilíbrio", diz a junguiana Gallbach.
Sonhamos de quatro a cinco vezes por noite. Mesmo quando você não se lembra do sonho, ele ajuda a fixar memórias e a recuperar a capacidade de atenção.
A dificuldade de se lembrar de imagens e acontecimentos oníricos tem várias explicações. A primeira é fisiológica.
"À noite, liberamos menos noradrenalina, neurotransmissor que ajuda a consolidar memórias recentes", explica Sidarta Ribeiro.
Assim que levantamos e despertamos nossa atenção com alguma atividade, temos uma descarga do neurotransmissor, o que faz com que esqueçamos de vez os restos dos sonhos.
Uma dica para que isso não aconteça é ficar dez minutos na cama depois de acordar sem fazer nada.
"Pessoas que têm esse hábito, com o tempo, passam a lembrar mais sonhos."

BEM LEMBRADO

Para a psicanálise, esquecer os sonhos mostra dificuldade para lidar com os problemas, que poderiam ser revelados pelo inconsciente.
Nem sempre é bom fazer força para se lembrar, de acordo com o psiquiatra e psicanalista José de Matos.
"A lembrança precisa vir naturalmente. Não adianta fazer anotações à noite, você não entende depois. Nem é saudável lembrar de tudo."
Para ele, o problema é quando os sonhos se repetem. "A tendência é repetir o sonho para repetir o trauma."
Os sonhos recorrentes, angustiantes, são vistos pela psiquiatria como sintoma de estresse pós-traumático -transtorno em que a pessoa relembra constantemente um fato, e que pode mudar o padrão de sono.
Alterações físicas também causam pesadelos, lembra o neurologista Luciano Ribeiro Pinto Jr., da Unifesp.
"Nem tudo é psicológico", diz. O sono é influenciado por fatores biológicos e ambientais, como estar com sede ou vontade de ir ao banheiro.
"Às vezes, a pessoa busca significados em sonhos repetidos quando, na verdade, tem um distúrbio físico. Sonhar que está sufocado pode ser uma apneia do sono", diz.

O trabalhador invisível

O trabalhador invisível
Pesquisa mostra a exclusão social vivida pelos garis
 
©gustavo toledo/ shutterstock

Durante oito anos, o psicólogo social Fernando Braga da Costa, da Universidade de São Paulo (USP), vestiu um uniforme e, com a vassoura em punho, passou a participar do trabalho da equipe de limpeza do Instituto de Psicologia da mesma instituição. A experiência resultou na dissertação Garis – Um estudo de psicologia sobre invisibilidade pública, na qual defende que, com frequência, a maioria das pessoas percebe o outro de acordo com o status social de seu trabalho.


O psicólogo optou por vestir-se de varredor de rua para vivenciar a situação psicológica desse grupo de trabalhadores. Ele notou que, de fato, essas pessoas foram tratadas como “invisíveis” por alunos, professores e outros profissionais que circularam pela universidade durante a pesquisa. “Conhecia muitas das pessoas, porém, todas passavam sem me olhar. Em determinado momento, um professor se aproximou e interrompi a varrição para cumprimentá-lo, debruçando-me sobre a vassoura. Ele não me notou. Chegou a esbarrar no meu ombro e nem sequer parou para pedir desculpas”, conta o pesquisador, ressaltando que, em outra ocasião, sem o uniforme, encontrou acidentalmente esse colega e foi notado por ele.


Segundo Costa, a invisibilidade social repercute na autoestima desses profissionais. A percepção de que são marginalizados restringe sua convivência no ambiente de trabalho aos companheiros de função. É comum que evitem o contato visual para se proteger da violência social. Outro dado levantado, nos sindicatos, é que é muito raro um gari mudar de profissão, o que sugere a exclusão associada à divisão social do trabalho.

Café Filosófico