O Papel do Educador

 O Papel do Educador
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Ficamos muito, e durante muito tempo, preocupados com o ensinar. A nossa tarefa é outra.

Nossa tarefa é propiciar ao nosso aluno oportunidades planejadas que favoreçam o desenvolvimento de capacidades, habilidades e atitudes que o transformem num cidadão.
Esta dimensão, a dimensão política do nosso fazer deve ser resgatada para justificarmos a nossa presença como categoria profissional.


Favorecer a transformação de crianças egocênricas em cidadãos é a função social que nos distingue das demais e da qual não podemos abrir mão sob pena de continuarmos sendo uma corporação anacrônica de doadores de aula, substituíveis por qualquer tio de plantão.

Uma vez, um velho rabino disse que os professores começam ensinando o que não sabem, depois de algum tempo ensinam o que já aprenderam, depois de mais algum tempo ensinam o que é importante e só depois de muito tempo percebem que sua tarefa não é a de ensinar mas a de criar condições para que os alunos aprendam. Era sábio o velho rabino"

Professor Mauricio Mogilnik

Oficina Mediação de Conflitos um Caminho para o Diálogo

Oficina de Mediação de 
Conflitos: um caminho para o diálogo - UFRJ


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Olhar Virtual
Coordenadoria de Comunicação da UFRJ
****** Grupo de Fonoaudiologia  ****** 

Filme Reflexos da Amizade


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Dirigido, roteirizado e protagonizado por David Duchovny (mais famoso por ter sido o agente Fox Mulder da série Arquivo X ), este drama mostra a luta de um homem em busca daquilo que todos procuram, a felicidade. Ao reavaliar alguns erros e acontecimentos do passado, ele acaba sendo capaz de descobrir o homem que realmente é e, também, se reconciliar com sua esposa e família.
Gênero:  Drama
Tempo:  96 min.
Estrelando:  Anton Yelchin, Téa Leoni, David Duchovny, Robin Williams, Erykah Badu, Magali Amadei, Harold Cartier, Mark Margolis, Zelda Williams, Gideon Jacobs
Dirigido por:  David Duchovny
Produzido por:  Richard Barton Lewis, Jane Rosenthal, Bob Yari


Civilidade, urbanismo, a tênue tensão da conversação Uma conversação informal

Civilidade, urbanismo, a tênue tensão da conversação
Uma conversação informal

Lúcio Packter

 
Estava no aeroporto internacional Afonso Penna, em Curitiba, em uma mesa no Café Damasco, lendo, tomando meu espresso, aguardando o voo após um ciclo de palestras que fiz na cidade. Virei uma página e no topo, em letras grandes, havia uma chamada sobre o Marco Civil, um projeto de lei que cobre responsabilidades de usuários da Internet. Trata-se de um anteprojeto anunciado pelo Ministério da Justiça estabelecendo as os direitos e deveres de quem navega.
À mesa ao lado, uma senhora, idade indefinível, tomava um chá em perfeita quietude. Estava a caminho de São Paulo, sua filha teria um bebê nos próximos dias e ela falava calmamente que então, em breve, seria avó. Conversas assim são comuns no deserto de compartimentos de embarques entre pessoas civilizadas. Comentei com ela o que estava lendo no jornal, parte desta civilidade de respeito mútuo e consideração, e forma usual de se prosseguir uma conversação informal, ao que ela observou ter notado, dada a proximidade de nossas mesas.
Fotos: Shutterstock

A conversa então tomou outro rumo, uma vez que as formalidades iniciais de aproximação foram ultrapassadas. Ela me disse que algo como o Marco Civil deveria ser anunciado para o uso dos celulares em lugares públicos. Você está sentado a algumas polegadas de um sujeito, quando toca o celular dele; pela música de chamada, os acordes iniciais joviais de uma canção caribenha, sabe-se, aproximadamente, como ele vai atender. Ele atende, fala para o telefone e para o saguão inteiro sobre assuntos que só dizem respeito a ele. Ficamos sabendo que ele não vai fechar um negócio porque uma duplicata não veio. Ninguém tem nada com isso, o usuário do celular, que ignora todos ao redor enquanto fala altíssimo, diz uma gracinha aqui e ali, expõe sem cerimônia o que ninguém quer saber. É isso o que ela quis dizer.
Fiquei pensando se junto com aqueles manuais de instruções, que para mim são inúteis e confusos, que vêm na caixinha do celular, fiquei pensando se não poderiam colocar orientações de etiqueta do uso. Coisas simples como não gritar com o aparelho, não caminhar gesticulando e blasfemando em saguões de aeroportos, atender dizendo um alô – ao invés de um fala; enfim, coisas bem simples. Ela concordou. Concordamos. Ficamos mais amigos por isso. E foi então que tocou o celular dela. Toque suave, musiquinha para início de noite ou de outono, e acho que ambos pensamos por um segundo que a música, que toca em nossos aparelhos, diz algo sobre nós. Consideração filosófica para aquele momento, pois enquanto o aparelho tocava ficamos em silêncio diante da questão. E, então, ela atenderia? Deixaria tocar até que uma mensagem fosse encaminhada para a caixa postal? O que faria depois de nosso colóquio sobre o Marco Civil? Olhei para a Bookstore Laselva que abria, funcionários chegando. Atendesse ela de forma indelicada ou diferente do que implicitamente foi combinado em nossa curta troca de opiniões e nossa amizade recente sofreria um irremediável abalo.
Mas ela, suave e resolutamente, resolveu tudo atendendo com um alô, seguido de breves palavras proferidas sem pressa, indicando que chegaria em um horário razoável para os envolvidos, que já providenciara a condução, agradeceu, despediu-se com a emoção apropriada para o ambiente do qual falava. Dobrou o aparelho e o colocou no suporte em sua bolsa, tudo de muito bom gosto, para nosso enlevo. Um momento delicado como este não se resolve facilmente sem a boa vontade das partes.
O serviço de voz do aeroporto anunciou a primeira chamada de meu voo. Guardei meu jornal entre uns livros, verifiquei a perfeita ordem e simetria em minha mesa, agradeci a companhia, desejei a ela os melhores votos em São Paulo, levantei-me e segui meu caminho.
Enquanto me afastava em direção ao portão de embarque, fiquei pensando no Marco Civil, que de fato ele deveria envolver o uso dos celulares, deveria também ser estendido a quem compra uma motocicleta, deveria ser essencialmente adotado por todos os usuários de computador.

Tempo
- Um pouco antes seria dia, um pouco depois seria o entardecer, e se escolhesse o momento não seria a hora. Então pensou em deixar para depois, mas percebeu que isso acabaria sendo nunca. Achou que poderia talvez ser imediatamente. E o que era imediatamente? Porque agora não podia ser e imediatamente não é quase agora?

Assim, Pedro se perguntou se algo poderia ser de tal forma que não coubesse em tempo algum. Existiria algo que somente pudesse se pronunciar e ser se não fosse colocado em qualquer parte do tempo? Tipo essas coisas que falam como a eternidade, o infinito, a dízima periódica; parecem coisas que passam pelo tempo, mas que não estão nele.
Pedro vivia um dilema. Achava que suas questões não podiam ser colocadas na ordem usual do tempo, não tinham como ser definidas a partir de ontem, hoje, amanhã, pois isso modificaria radicalmente tudo e ele ficaria apenas com outro problema, não mais o problema original. O problema original não cabia em qualquer modalidade do tempo, não tinha como se relacionar com ponteiros, relógios, prazos.
Quando disseram a Pedro que ele estava para enlouquecer com esta bobagem toda, que no fundo estava apenas fugindo de alguma coisa que o ameaçava, Pedro usou um exemplo. Ele disse que quando amava, quando em sua vida estava apaixonado por alguém, isso se tornava incompatível com os horários, os relógios todos, os períodos e com qualquer coisa que lembrasse prazos. Disse que, para ele, o amor espalhava, encurtava, quebrava e juntava o tempo de tal forma que nem tempo o tempo mais era.
Houve então um outono no qual Pedro desapareceu. A polícia, os amigos, o imposto de renda, todos o procuraram, porém ele não era mais achado em parte alguma. Isso porque ao amanhecer, com a névoa fresquinha da noite e algumas estrelas no céu, Pedro havia se descomposto em nuvens, em brisas, em outono. Pedro se misturava aos montes que contornam as estradas, para todas as partes, mais ou menos como se diz do que se torna para sempre.



LÚCIO PACKTER
é filósofo clínico e criador da Filosofia Clínica. Graduado em Filosofia pela PUC-FAFIMC de Porto Alegre (RS), é coordenador dos cursos de pós-graduação em Filosofia Clínica da Universidade Moura Lacerda, em Ribeirão Preto (SP), e da Faculdade de Filosofia São Miguel Arcanjo, em Anápolis (GO).
luciopackter@uol.com.br


Fonte: Revista Filosofia

O pensamento do sociólogo francês Pierre Bourdieu é uma das melhores fontes para a compreensão dos fatos sociais

O pensamento do sociólogo francês Pierre Bourdieu é uma das melhores fontes para a compreensão dos fatos sociais
 
por Tatiana Martins Alméri
Em um interessante artigo, o sociólogo Loiq Wacquant, professor da Universidade de Berkeley, definiu da seguinte forma a trajetória do sociólogo francês Pierre Bourdieu: “Bourdieu ilustrou brilhantemente e desmentiu enfaticamente suas próprias teorias sociais com uma vida repleta que, por meio de improváveis conversões e mudanças bastante sinuosas, ancorou-se em um fiel compromisso com a ciência, com o institution-building intelectual e com a justiça social. De um ponto de vista sociológico e acadêmico, Bourdieu teve uma trajetória improvável. Como Raymond Aron gentilmente lembrou, Bourdieu foi uma exceção às leis de transmissão do capital cultural que ele mesmo estabeleceu em seus livros iniciais” (WACQUANT, 2002, p. 96).
Referência da sociologia moderna, Pierre Bourdieu trouxe preceitos de Émile Durkheim na construção dos fatos sociais para que fosse possível configurar um objeto de estudos, preparando um quadro de referências, com questões adequadas que possam dar abertura a respostas compreensíveis. “Os conceitos primários formulados e aperfeiçoados por Bourdieu são o de habitus e o de campo. A estes se agregam outros, secundários, mas nem por isso menos importantes, e que formam a rede de interações que orienta a sociologia relacional, a explicação, a partir de uma análise, em geral fundada em estatísticas, das relações internas do objeto social. A teoria do habitus e a teoria do campo são entrelaçadas. Uma é o meio e a consequência da outra (Vandenberghe, 1999:61). Para seguir os passos do processo investigatório de Bourdieu é essencial compreender estes conceitos tanto separadamente quanto na forma como se articulam” (THIRY-CHERQUES, 2006, p. 32).
Dentro do contexto de campo, a busca foi a separação entre os opostos objetivismo e subjetivismo fundamentados na coletividade, a qual está permeada por um sistema de relações estruturais praticamente invisíveis aos olhos dos dominados. “O social é constituído por campos, microcosmos ou espaços de relações objetivas, que possuem uma lógica própria, não reproduzida e irredutível à lógica que rege outros campos. O campo é tanto um “campo de forças”, uma estrutura que constrange os agentes nele envolvidos, quanto um “campo de lutas”, em que os agentes atuam conforme suas posições relativas no campo de forças, conservando ou transformando a sua estrutura” (BOURDIEU, 1996:50).
Para Pierre Bourdieu, “às diferentes posições que os grupos ocupam no espaço social correspondem estilos de vida, sistemas de diferenciação que são a retradução simbólica de diferenças objetivamente inscritas nas condições de existência” (BOURDIEU, 1983, p. 82). Essas condições de existência se configuram em uma relação de força que muitas vezes são ofuscadas pela legitimidade, o que acaba garantindo o sentimento de liberdade dos dominados.
Da construção de discussões sobre dominação, abordando temas como educação, cultura, literatura, política, mídia, entre outros, como organização social, liberalismo, globalização e até a crítica à própria sociologia prática, a obra de Bourdieu se configurou como clássico a partir do momento em que conseguiu contextualizar várias correntes que precederam aos dias atuais, em um contexto prático analítico que se baseia em uma fundamentação teórica concisa e estruturante para as próximas reflexões possíveis relacionadas às novas mudanças da sociedade. Saiu de discussões puramente macro e conseguiu configurar o micro facilitando, assim, a análise da prática social. Uma conquista que, entre outras, tornou seus livros uma leitura obrigatória.

Um pouco sobre Bourdieu
Pierre Bourdieu nasceu em 1 de agosto de 1930, na França. Estudou na École Normale Supérieure e cumpriu serviço militar na Argélia, experiência decisiva para sua formação pessoal e intelectual, pois acompanhou de perto o colonialismo francês na África e a luta dos argelinos pela sua independência. Graduado em Filosofia, Bourdieu enveredou para a Antropologia e a Sociologia. Foi professor de Filosofia na Sorbonne, diretor e professor de Sociologia na École des Hautes Études em Scienses Sociales e, finalmente, foi eleito em 1982 para ocupar a cadeira de Sociologia do Collège de France, o Olímpo da acadêmia francesa. Bourdieu faleceu em 23 de janeiro de 2002. Algumas das principais obras de Bourdieu: “O Poder Simbólico”, “As Regras da Arte”, “O Ofício do Sociólogo”, “A Distinção: crítica social do julgamento” e “Coisas Ditas”.

Fonte: Revista Sociologia

Os desafios do ensino literário Como a escola pode formar leitores diante das padronizações que minimizam a deliciosa experiência da leitura por prazer?

Os desafios do ensino literário
 
Como a escola pode formar leitores diante das padronizações que minimizam a deliciosa experiência da leitura por prazer?



por Eliana Asche*
Ilustração Edson Ikê
Se existe um tema batido e rebatido no espaço escolar é o da necessidade de formar alunos-leitores. A leitura - dizem - é fator fundamental na formação dos indivíduos. Dizem, mas não provam. Associamna sempre a propostas e justificativas como "formar hábito", "quem não lê, não escreve", etc., e basta. O interessante neste caso é o que não foi dito...
Os professores leem? Os pais leem? O que leem estes grupos? A escola é incentivadora da leitura ou apenas reitera o consagrado discurso de que esta é um bem inalienável e, se não conseguirmos fazê-la penetrar no mundo da sala de aula, não haverá salvação para a escola.
O primeiro balanço deste barco: na escola, trabalha-se com uma espécie de conteúdo padrão, um corpus mais ou menos fixo que dificilmente acomoda o alto grau de mobilidade necessário ao trato com o material literário. A singularidade do fato estético é incompatível com a padronização, a sequência, a seleção e a organização de conteúdos requeridas pelo formato das disciplinas escolares. Como então fazer com que os sujeitos-leitores apreendam o fenômeno artístico nas realizações deste? Como entender a finalização artística na recepção desses leitores em situação escolar, se, em cada leitor e época, a leitura renasce de forma diversa?
Umberto Eco, em Seis Passeios pelo Bosque da Ficção (1994), lembra de dois conceitos já tratados por ele em outras obras, que são os de "leitor modelo" e "autor modelo". O leitor modelo que a escola pretende formar deve ler de uma certa maneira - a maneira certa. Daí o leitor contumaz ser designado como detentor do tal "hábito de leitura" - e hábito, lembranos qualquer dicionário de bolso, referese à reiteração padronizada e frequente daquela prática.
No caso do ensino literário, não se pode fugir do fato de que a escola solicita a criação de um leitor padrão. Por mais que o professor imagine trabalhar especificida des, observações originais e únicas, o formato das disciplinas escolares exige uma padronização mínima de leitura.
A escola solicita precisamente que os fatores de singularidade da leitura sejam - se não abandonados - pelo menos mantidos na sua condição mínima. A disciplina escolar e o próprio docente devem padronizar determinados procedimentos que separem o certo do errado, para que os alunos possam ser ao menos avaliados de um modo comum.
Nada proíbe, nas escolas, que se faça uso dos textos para fruir e devanear. Mas, lembra mais uma vez Eco, "o devaneio não é coisa pública". Ou seja, o devaneio é incompatível com a formalidade das atividades escolares, e os determinantes extraescolares solicitam que certas leituras artísticas ou ficcionais sejam contidas num formato disciplinar, em que se consagram as "formas corretas de ler". Acrescente-se a isso o discurso intra e extraescolar que reafirma a necessidade da leitura ficcional e, contraditoriamente, resulta na parca sobrevivência de leitores de literatura de ficção após o término do período de formação. Todos esses discursos pedem releitura, decifração nova da matéria discursiva consagrada.
ESCOLA E LEITURA
A própria definição do que deve ou não ser consagrado como matéria escolar, no caso do ensino literário, é assunto que pede elucidação. A recorrência do cânon literário sujeita-se a uma variabilidade cujos determinantes não se encontram necessariamente limitados ao espaço escolar. Ao professor da área, fica a pergunta: são estas as obras que devem ser estudadas? Quem as consagrou? Não basta procurar no circuito acadêmico as respostas. Há outros fatores extraescolares e extra-acadêmicos que participam da elaboração desses cânones.
Ao focalizar nossa visão sobre os materiais impressos, didáticos ou não, acabamos por obter respostas parciais sobre a forma como este debate, travado no campo externo à es* Eliana Asche é doutora em Educação e professora de Língua Portuguesa, Literatura e Redação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Sua pesquisa aborda o ensino de Literatura nas escolas cola, incorporou-se no currículo de modo geral, na disciplina de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira de maneira específica e, enfim, materializou-se na edição de livros escolares e nos livros de literatura especialmente produzidos para uma classe ou tipo de leitores.
A aquisição dos códigos de leitura dá-se especialmente no espaço escolar, quando do ingresso do aluno na primeira série do ensino formal. O que ocorre não é ainda leitura, mas apropriação de mecanismos de registro e decifração do código escrito. O livro e a palavra impressa, todavia, parecem ser sempre os condutores de todo o processo de escolarização.
À cartilha ou ao livro de primeiras letras, seguem-se as pequenas seletas, as narrativas de fôlego curto, o livro didático, os livros paradidáticos e as chamadas leituras literárias infantis, juvenis e adultas. Este rol de materiais impressos é dado a ler aos alunos pela instituição escolar (em um sentido que abrange o público e o privado).
O ato de ler, que envolve o código escrito e é amparado pelo suporte do livro ou do impresso escolar, percorre todos os níveis de formação escolar. Na escola, insiste-se sistematicamente na necessidade de criar hábitos de leitura para a aquisição de comportamentos de língua e pensamento.
A instituição escolar credita aos textos escritos e aos livros todas as possibilidades de transmissão do saber, pois o patrimônio cultural e científico estaria bem sedimentado na palavra devidamente impressa.
Em outras palavras: na sala de aula, o contato com o texto escrito ampararia toda a mediação entre o aluno e o saber. É dessa forma que o ato de ler é reconhecido como intermediário entre indivíduo, razão e apreensão do mundo. Não é bem assim. Representado pela codificação da escrita, o mundo circundante da criança e do jovem está ocultado, e sua decifração só se efetua no ato de decodificação do signo escrito, que lhes proporcionará acesso racional ao conhecimento.
Uma vez concebido, o livro como meio, possibilidade de acesso ao conhecimento, a relação entre escola e leitura reproduz-se nos entendimentos de escola como sinônimo de obtenção de saber absoluto e de palavra escrita e impressa como depositária do real. Que a verdade está contida no continente - a palavra, sacramentada pelo discurso da escola - é aforismo reconhecido pelo senso comum e reiterado pelo discurso científico de caráter positivista.
Muitas vezes, o professor que pretende incentivar leitores, só tem acesso aos livros que chegam às escolas como material gratuito de divulgação das editoras. Ele mesmo não pode se permitir a leitura gratuita, de gosto, de fruição: sua leitura já está condicionada pelos objetivos da série, pelo tratamento interdisciplinar que possibilita, etc.
As escolhas dos professores - que provavelmente nem seriam as dos alunos - ficam restritas a um conjunto de obras cujos temas, ilustrações, proporções físicas, estilo estão ditadas mais pelas pesquisas de mercado, do que pelas qualidades literárias propriamente ditas daqueles materiais. Mesmo quando se trata de um professor de Literatura, do ensino médio, os temas, as épocas, os vestibulares e os livros didáticos dizem mais sobre o que, quando e porque devemos ler, do que a velha cantilena de que o livro é essencial para a formação das crianças e jovens na escola.
O resultado dessa contenda resulta na repetição, como de um mantra de que a leitura na escola é essencial, que é preciso reforçar o hábito da leitura enquanto saem das escolas alunos que nem chegaram a ter a excepcional experiência de ler por prazer, por gosto e por vontade.
* Eliana Asche é doutora em Educação e professora de Língua Portuguesa, Literatura e Redação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Sua pesquisa aborda o ensino de Literatura nas escolas

Fonte: Revista Sociologia

Incidência de psicoses em São Paulo é menor do que esperado Na cidade, 15,9 novos casos a cada 100 mil habitantes aparecem todo ano; média nos grandes centros é de 25

Incidência de psicoses em São Paulo é menor do que esperado
Na cidade, 15,9 novos casos a cada 100 mil habitantes aparecem todo ano; média nos grandes centros é de 25

Agência USP

  Levantamento inédito feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostra que a incidência de psicoses na cidade de São Paulo é de 15,9 novos casos por 100 mil habitantes a cada ano.  Os índices são mais baixos do que os registrados em cidades menores, como Bristol, na Inglaterra, que tem cerca de 450 mil habitantes e uma incidência de 25 novos casos a cada 100 mil habitantes.
A pesquisa também revela que os psicóticos tem um pouco menos de massa cinzenta em algumas regiões do cérebro e que os paulistanos buscam ajuda rapidamente - cerca de 50% procuram serviços de saúde em até quatro semanas após aparecerem os sintomas.
Psicoses são transtornos psiquiátricos cujos sintomas são delírios, alucinações e perda da capacidade de pensar com clareza. A incidência média dessas doenças em centros urbanos é de 25 novos casos a cada 100 mil habitantes por ano. Um levantamento feito em Londres, onde vivem cerca de 8 milhões de pessoas, mostrou uma incidência anual de 50 novos casos por 100 mil habitantes. Já a Capital paulista tem cerca de 11 milhões de habitantes.
"A incidência em São Paulo é menor do que a esperada para uma grande metrópole", explica Paulo Rossi Menezes, professor da FMUSP que, junto com seus colegas Geraldo Busatto e Márcia Scazufca, coordenou a pesquisa. Também participaram acadêmicos do King´s College, de Londres, Inglaterra.
O tempo que os paulistanos demoram para buscar tratamento também é menor do que em países ricos como Canadá e Dinamarca. Lá, 50% dos pacientes demoram em média 4 meses para buscar ajuda.
Para calcular a incidência, a equipe de pesquisadores consultou todas as fichas de atendimento dos serviços de saúde que atendiam problemas psiquiátricos no centro e zonas norte e oeste de São Paulo, entre julho de 2002 e dezembro de 2004. No período, encontraram 307 primeiros casos de psicose.  Os pesquisadores fizeram, então, entrevistas padronizadas, conversaram com os familiares e analisaram os registros de atendimento de 200 doentes.
Segundo Menezes, faltam dados para explicar por que a incidência em São Paulo é menor que em países mais ricos. Ele especula que a diferença pode ter relação com características da sociedade brasileira que talvez diminuam o risco de psicoses: por aqui, os jovens moram mais tempo com a família, usam menos maconha e nascem de pais mais novos do que na América do Norte e Europa.
Menos massa cinzenta
Além disso, a equipe comparou imagens de exames de ressonância magnética de 125 doentes com a de pessoas que moravam ao lado desses doentes (seus vizinhos).  Elas mostravam que pessoas com psicose tinham em várias regiões do cérebro uma quantidade menor da substância cinzenta, um tecido que contém principalmente neurônios e vasos sanguíneos.
"A diminuição de massa em algumas regiões sugere que lá estão as alterações que causam psicoses", diz Menezes. Segundo o médico, o estudo mostrou que a diferença de massa cinzenta entre psicóticos e pessoas saudáveis não é tão grande quanto se pensava.
"O estudo teve uma metodologia mais precisa, já que conseguiu avaliar o cérebro de uma grande quantidade de pessoas, muitas das quais não tinham casos graves de psicose", informa Menezes. "A maioria dos estudos com ressonância é feita com poucos pacientes, em hospitais especializados, que geralmente atendem casos mais graves."
Adultos jovens
O levantamento também mostrou que em São Paulo, como em outras cidades do mundo, as psicoses acometem principalmente adultos jovens: cerca de 60% das pessoas que desenvolviam psicoses tinham até 35 anos. Os homens adquiriam a doença, em média com 30 anos, mais cedo que as mulheres, cuja média de idade ao ter o primeiro caso era de 35 anos. A maior parte dos novos casos foi de esquizofrenia ou transtorno esquizofreniforme (63,2%). Também foram frequentes transtorno bipolar (23.2% dos novos casos) e depressão psicótica (13,6%).
A incidência de psicoses e o tempo para buscar tratamento pode ser um pouco maior do que o apontado  no estudo. Isso por que os pesquisadores não avaliaram regiões extensas e mais carentes de São Paulo, como as Zona Leste e Sul.
Outro motivo é que pode pode haver psicóticos que não procuram os serviços de saúde. "Mas para a incidência ser igual à média mundial, seria necessário que metade dos psicóticos não procurasse ajuda", diz Menezes. "É pouco provável que isso aconteça, pois essas doenças tem um impacto enorme na vida das pessoas  e suas famílias."

Fonte: Revista Psiquê

Patologia familiar Algumas características estruturais familiares dificultam o equilíbrio e o bem-estar grupal e fomentam o processo de adoecer em seus membros. Como entender, lidar e conviver com a desorganização psíquica do clã


Patologia familiar

Algumas características estruturais familiares dificultam o equilíbrio e o bem-estar grupal e fomentam o processo de adoecer em seus membros. Como entender, lidar e conviver com a desorganização psíquica do clã

Por Anderson Zenidarci

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A palavra família é originada do latim famulus e significa escravo doméstico. Este termo foi criado na Roma Antiga para classificar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas na agricultura e na escravidão legalizada. E atualmente?
A estrutura familiar existente hoje é resultante das inúmeras e múltiplas mudanças demográficas e geográficas que aconteceram na História da Humanidade, com adaptações específicas, visando principalmente à manutenção e sobrevivência.
A família é definida como um grupo de pessoas de mesmo sangue, ou unidas, por casamento ou adoção. Neste contexto é também uma instituição constituída por uma série de pactos de afiliação, agregamento e aliança, aceitas pelos membros.
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Até mesmo os grupos tribais que formam uma constituição predominantemente familiar, precisam renunciar às características inatas ao ser humano, como a agressividade e outros instintos naturais. Essa castração permite o comportamento civil e as posturas éticas
A noção e a estrutura da família se transformam através dos tempos, acompanhando mudanças religiosas, econômicas, políticas e socioculturais do contexto em que se inserem. Ela é resultado e consequência, mas ao mesmo tempo, é agente transformador.
É um espaço a ser constantemente renovado e reconstruído, nele o conceito de proximidade encontra-se realizado mais que em qualquer outro espaço social, sendo visto como um ambiente político de natureza criativa e inspiradora. Deve ser entendida como um todo que integra vastos contextos, como o grupo, as instituições, a comunidade e a sociedade em que está inserida. É conhecida como a célula básica ou fundamental de uma sociedade, e o estudo de seus aspectos particulares revela grande parte do macrossocial em que atua. Sabemos que cada família é única e tem características muito particulares, como os níveis socioeconômico e cultural - afetivo, a partir dos quais é composta. Também sabemos que todas apresentam características que podemos identificar como integrantes desta instituição universal.
Antropólogos, sociólogos e psicólogos sociais apontam que a estrutura familiar se desenvolveu, se consolidou e se mantém exatamente pela função e importância de conservar valores, comportamentos, crenças, regras, ações e fundamentações para um convívio entre seres racionais. As reproduções desses valores visam normatizar o convívio dos indivíduos no grupo, não se atendo ao indivíduo enquanto referência (identidade, necessidades, desejos, características), mas sim à sociedade.
Castração coletiva
Sermos socializados, na realidade, significa sermos castrados em nossas pulsões e instintos, em prol de uma normatização de comportamentos, posturas e atitudes que são interpretadas como adequadas dentro do meio social dominante no contexto. Desde os nossos primórdios, esse processo determina comportamentos adequados (ou não), e posturas éticas (ou não) que nos molda ao já existente.
Esse processo, parte consciente (racional) e parte inconsciente (significados simbólicos introjetados), ocorrem para que possamos fazer parte do nosso núcleo próximo e, consequentemente, da sociedade como um todo.
Podemos dizer que para sermos aceitos, termos amor e nos sentirmos pertencentes, renunciamos a características inatas, necessárias e grandemente responsáveis pela sobrevivência da nossa espécie.
Esta renúncia concretiza a participação do indivíduo em um sistema de membros interdependentes que possuem e desenvolvem, teoricamente, dois atributos: a integração dos membros dentro da família e a interação destes membros com outros núcleos familiares e instituições oficiais organizadas.
O objeto central de todo esse processo é a sociedade, com isto, intensos conflitos pessoais são gerados, já que a particularidade e a unicidade das pessoas, em sua grande maioria, não são respeitadas.
Como todo organismo vivo e mutante, a família pode apresentar situações de organização e harmonia entre seus membros, e também situações de desarmonia e conflitos, o que não configura nenhum tipo de preocupação, pois toda instituição e/ou pessoa vivencia estas oscilações. O organismo família apresenta flutuações e acomodações de novos acontecimentos e situações que alteram e modificam sua constância e dinâmica. Essas situações podem desencadear emoções e sentimentos conflituosos e como consequência favorecer ou potencializar o desequilíbrio.
A ESTRUTURA FAMILIAR É RESULTADO E CONSEQUÊNCIA, MAS AO MESMO TEMPO, É AGENTE TRANSFORMADOR

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O membro de uma família pode desenvolver algumas doenças psicossomáticas como forma de comunicação e elo afetivo familiar
Manifestação sintomatológica
As famílias em que as situações de desarmonia ou conflitos tornam-se intensas, frequentes e prolongadas, gerando assim um continuum de desequilíbrio, são preocupantes porque configuram interações patológicas. O que podemos observar é que, frequentemente, como consequência direta dessas interações, os indivíduos entram no processo de adoecer.
A família não só é responsável pela lapidaçãl pela idação e formação de seus membros, como também pela sua distorção e deformação.
Neste aspecto uma complexa e abrangente manifestação sintomatológica denuncia dificuldades, inadequações e transtornos tanto sociais, como afetivos e psicológicos dos indivíduos dentro das micro e macroestruturas. Nossos conflitos familiares também, e sempre, são demonstrados e revelados nas patologias que desenvolvemos.
Consideráveis tipos de desorganizações familiares noticiadas no dia a dia, mais frequentes do que imaginamos, são identificadas e/ou divulgadas em casos extremos, sempre quando outra transgreção social ou ética ocorreu.
As famílias que apresentam acentuado grau de desorganizações, em que cada elemento colabora introduzindo no grupo o perfil patológico, possuem situações de codependência entre seus membros. O vínculo afetivo é principalmente externalizado pela dor, cuidado e preocupação. O conjunto passa a ser mais comprometido do que o comprometimento pessoal e as dificuldades individuais. Em casos, não raros, a doença é quase uma imposição, adoecer é estar integrado e pertencer ao clã.
Neste cenário encontramos um ou mais indivíduos que desenvolvem algum tipo de patologia como forma de comunicação e elo afetivo familiar, este elemento, o P. I. - Paciente Identificado, é o elemento mais sensível ou mais desorganizado ou ainda o depositário dos conflitos familiares.
Ocorrem duas tendências no adoecer do P.I., a Psiquiatrização é uma delas, em que um elemento desenvolve uma patologia psíquica considerada grave como forma encontrada para conseguir viver (ou sobreviver) no meio conflitante. É também um recurso desastroso de desfocar a atenção das pessoas que compõem a família, gerando o conflito, para que haja uma reorganização e uma tentativa de equilibração entre os membros. O paciente psiquiátrico externaliza seus conflitos e dores na doença.
Outra tendência é a Psicossomatização, onde um elemento desenvolve e assume a doença física, geralmente grave e que necessite de cuidados continuados e cirurgias, por exemplo, um câncer. Normalmente é incapacitante, fazendo da pessoa dependente do grupo. Este P.I., por não ter instrumentos internos para lidar com suas dores e conflitos gerados no ninho, adoece fisicamente como forma de reorganizar e denunciar o meio familiar comprometido ou patológico. É um recurso drástico, e algumas vezes letal, que visa à cura ou à interrupção de uma doença anterior à sua.
Heranças familiares
Adoecemos para interromper conflitos; pedir afeto; receber atenção e cuidados; nos redimir de culpas; pela sensação de não merecimento; por autopunição e para tentar o equilíbrio. Entre os vários ângulos que podemos observar uma pessoa, um dos mais significativos é o mapeamento de sua matriz familiar, que vai ser determinante para o entendimento do seu processo e de sua necessidade de adoecer.
Nesta concepção pouco usual é necessário identificar as heranças recebidas. Devemos entender que recebemos heranças familiares muito mais profundas e estruturais do que qualquer bem material. Junto com nossos sobrenomes também recebemos um estilo, modos, características, formas de pensar, valores, credos, crenças, conceitos, pré-conceitos e todas as características que nos fazem pertencer a este clã. Outro aspecto herdado a ser observado são os fatos relevantes e significativos positivos ou negativos ocorridos nas últimas quatro gerações familiares, recebemos "ruídos" dos fatos de forma inconsciente e sofremos sequelas destes acontecimentos.
Às vezes as heranças familiares que recebemos dos dois clãs, não são construtivas e aconchegantes, mas para honrarmos o vínculo, as cumprimos apesar de negativas. Ainda sobre aspectos herdados, podemos pensar no traço familiar físico e emocional, que são características genéticas específicas que dão ao grupo identidade e reconhecimento familiar, como resultante do biótipo que desenvolve uma identidade coletiva. O traço emocional é resultante dos perfis de personalidade e temperamento dos membros e da interação e integração entre eles.
Somos obrigados a honrar e/ou reproduzir toda nossa herança? Quando não reconhecemos, identificamos e reorganizamos, por meio da reflexão ou consciência, a tendência é ocorrer à repetição do ciclo vicioso que se estabelece nas relações primárias. Necessitamos quebrar paradigmas para podermos reler nossas possibilidades, opções, escolhas e atuações.
A formação de um indivíduo seguro, centrado, afetivo, atuante e com capacidade de discernimento e resolução de situações de conflito e estresse depende de muitos fatores ligados ao vínculo familiar ou social. São características familiares desestabilizadoras, que propiciam o processo do adoecer da pessoa e/ou do grupo.
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Quando surge, em um determinado membro da família, um distúrbio ou uma doença psíquico, todos os outros membros são afetados. Sua percepção sobre a doença muda, sua relação com o paciente e o comportamento mudam, devido à adaptação à nova situação
Patologias cotidianas
Famílias que vivenciam algum tipo de situação- limite (suicídio de um dos membros, homicídio, sequestro, assalto, desaparecimento de pessoa da família) frequentemente manifestam através de sintomatologias, e até patologias psíquicas, os seus traumas e suas dores emocionais.
O grupo, como forma de manifestação inconsciente, pode desenvolver o Transtorno de Estresse Pós-Traumático.Ele surge e se desenvolve após a exposição direta, ou não, a um extremo estressor ameaçador da integridade física e/ou moral própria ou de outra pessoa significativa em seu universo.
As manifestações exuberantes e abrangentes enquanto sintomatologia denunciam a fragilidade psíquica dos seus membros, que foram afetados diretamente pelo episódio estressor. Características desorganizadoras pessoais afloram e então surgem: depressão, pânico, sensação de impotência, medo intenso, sonhos recorrentes da ameaça, paranoia, sofrimento psicológico intenso, afeto embotado e/ ou restrito, irritabilidade aumentada, alteração no sono e/ou alimentação, redução da libido e resposda libid respo - tas sobressaltadas a eventos corriqueiros.
Portanto, o grupo passa a viver uma percepção de realidade totalmente ameaçadora. Neste contexto as relações de dependência e codependência são estruturadas dentro da necessidade de integração e identidade grupal, e o grupo em determinado ponto perde o parâmetro de adequação e realidade, gerando a patologia familiar.
Em relação à codependência, outros fatores como o TOC (jogo, compras, comida, ordem, limpeza), a síndrome do pânico (e suas intensas limitações sociais), a violência doméstica (agressões, abusos, alcoolismo, drogadicção) são grandes facilitadores e desencadeadores desse tipo de relação simbiótica.
Nela todos os membros passam a viver, se comportar e acabam se adaptando ao universo do indivíduo-problema, que contamina as relações e estabelece comportamentos, atividades e restrições ao grupo.
A família sucumbe à doença e não consegue, ou não pode, ver e/ou encontrar alternativas de resolução das situações ou outras formas de agir. Com esta dinâmica o problema se torna crônico, todos estão doentes e colaboram com a manutenção da situação, por mais desconfortável que possa parecer.
NOSSOS CONFLITOS FAMILIARES TAMBÉM, E SEMPRE, SÃO DEMONSTRADOS E REVELADOS NAS PATOLOGIAS QUE DESENVOLVEMOS
Manutenção dos transtornos
Para completar o panorama, seus desdobramentos e consequências na manutenção dos transtornos dos membros, vale ressaltar que existe, porém é pouco nomeada, a elitização dos tipos de doenças e a reação da estrutura familiar (organizada ou patológica) a elas. Socialmente a pessoa que apresenta uma enfermidade física é vista como digna de cuidados, atenção e não responsável (salvo exceções) pela patologia que apresenta.
Ela passa a ser vítima do seu próprio corpo que adoeceu, atribui-se ao acaso, à hereditariedade ou a algum tipo de hábito de vida como causa da doença. Nenhum destes fatores aventados como possíveis causas são suficientemente fortes para desqualificar os membros da família e mesmo o próprio enfermo. Ao surgir, este fato configura-se como uma situação inusitada para todos da família, pois ocorrem alterações dos papéis sociais e das atribuições e funções domésticas.
O membro afetado deixa de exercer o seu papel dentro da estrutura familiar e também passará a apresentar necessidades que antes não possuía de ser cuidado e/ou monitorado. A família sofre uma "revolução" por um período de tempo, o necessário para que as situações se acomodem, ocorre um caos generalizado. Aqui se observa a distinção entre a família patológica e a organizada. Na organizada, as pessoas passam a ser cuidadoras do enfermo, se reorganizam para que a estrutura se mantenha e as novas necessidades sejam atendidas. A família é reconhecida e identificada pelos cuidados e atuação. Ocorre uma valorização do núcleo familiar que é a principal e, na maioria das vezes, a única fonte de amparo para o doente. Todos recebem solidariedade e apoio para enfrentar a situação.
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Alguns sintomas
Transtorno de estresse pós-traumático é um grave transtorno de ansiedade que pode se desenvolver após a exposição a qualquer evento que resulta em trauma psicológico. Este evento pode envolver a ameaça de morte para si ou para outrem. Sintomas de diagnóstico de TEPT incluem re-experimentar o trauma original por meio de flashbacks ou pesadelos, esquiva de estímulos associados ao trauma, e aumento da excitação - como dificuldade de iniciar ou manter o sono, raiva e hipervigilância

 
O descaso com um membro adoecido ocorre na família patológica. Nestes casos, o doente passa a ser um estorvo. É comum ninguém assumir, nem dividir, o papel de cuidador
Família patológica X Organizada
Na família patológica o doente passa a ser um estorvo. O grupo não se reorganiza, já que nem organizados estavam, para enfrentar a nova situação. Ninguém quer assumir, nem dividir, o papel de cuidador; e o doente, já representante da patologia coletiva, amarga o descaso e a negligência do grupo. Este elemento tende a tornar crônico ou agudo seu quadro para pedir atenção. A família patológica sente que a mácula se encontra no clã. Poucos entendem e atuam adequadamente com as centenas de tipos de transtornos psíquicos existentes e possíveis de acontecer com alguém da família. Posicionamentos como: fingimento, fraqueza, dúvidas sobre a existência da doença e tormento espiritual são comumente encontrados na fala das famílias cujo indivíduo entra em crise. Diferentemente da pessoa que apresenta uma doença física, aqui o doente passa a ser visto como responsável e culpado por estar assim, e a família sente medo de ser malvista e julgada pelo grupo social. É "feio e vergonhoso" ter alguém louco na família. Por sua vez, o social também discrimina e preconceitua o doente e a família. Cada elemento que compõe o grupo patológico está mais preocupado consigo mesmo e com sua imagem, do que com o doente.
Na família organizada, o transtorno psíquico de um de seus membros, afeta além do portador, a família e, principalmente, os familiares que estão diretamente envolvidos no cuidado. Estes familiares, a partir do momento em que se deparam com esta situação, sofrem uma significativa mudança em suas vidas, tendo que se adaptar constantemente às novas formas de conduzir o dia a dia. Surge a necessidade de mais informações, conhecimentos e orientações sobre o transtorno psíquico, com o qual estão lidando. Apresentam uma postura integrativa e não desqualificadora do doente e da doença.
Logicamente que estas mudanças repercutem sobre vários aspectos do estilo de vida de cada família acometida, gerando com certeza situações inusitadas e difíceis de se lidar. As representações identificadas acerca da doença estão entrelaçadas às experiências pessoais de cada pessoa, mas refletir coletivamente sobre os problemas e elaborar os sentimentos advindos da situação propiciam a descoberta, o reconhecimento de novas possibilidades de enfretamento e a cumplicidade entre os membros para enfrentar essa adversidade.
No aspecto social a reação é semelhante nos dois casos, a família passa a ser alvo de comentários sociais sobre a loucura do seu membro, perde o status e o "valor no mercado" nas trocas dos membros para união. Passam a ser vistos de forma cautelosa pela implacável sociedade.
O diferencial aqui, também está na postura dos membros da família organizada, eles tem como preocupação e foco de atenção a recuperação do elemento comprometido. Esta pessoa tende à recuperação do seu quadro em um período menor de tempo e de um modo menos traumático.
É POSSÍVEL ENCONTRAR INDIVÍDUOS QUE DESENVOLVEM ALGUM TIPO DE PATOLOGIA COMO FORMA DE COMUNICAÇÃO E ELO AFETIVO FAMILIAR
Neurose familiar
O termo 'Neurose Familiar' é utilizado para designar famílias em que as neuroses individuais se completam, se condicionam e é fomentada reciprocamente. Este termo também evidência a influência patogênica que a estrutura familiar exerce sobre seus membros. Ela não tem uma característica sintomatológica única e exclusiva, pois é a somatória do estado crônico de vários tipos distintos de neuroses individuais.
Cada família apresenta sua característica particular e com isto "organiza e estrutura" sua neurose coletiva de forma exclusiva e diferenciada. Podemos identificar que em todas ocorre uma dificuldade de seus membros em romper com a patologia, que dá unidade ao grupo. Como chegamos a isto? Uma longa, improvável e árdua trajetória humana de tentativas de convivência social poderia ser o início da reflexão.

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História da Família
Os dados provenientes de diversas etnografias, histórias, legislações e estatísticas sociais, estabelecem que a família humana é uma instituição e não uma realidade biológica fundada sobre as relações naturais de consanguinidade. Um dos primeiros estudiosos da história da família biológica foi Darwin (foto) em sua Teoria da Evolução de sistemas familiares. Outro grande pensador foi Friedrich Engels, que publicou o livro A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado
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A Psicossomatização é quando um dos familiares desenvolve determinada doença física, geralmente grave, e que necessite de cuidados continuados e cirurgias. Incapacitado, o indivíduo se torna dependente do grupo, o que gera a reorganização do meio familiar comprometido ou patológico
Cuidando do cuidador
Independentemente da linha teórica ou da abordagem utilizada pelo técnico, na terapia de suporte ou orientação familiar, e elas são inúmeras (modelos: sistêmico, psicanalítico, psicodinâmico, cognitivo, fenomenológico, etc.), devemos identificar, mapear e atuar na estruturação e dinâmica da família paciente. Nela encontramos a figura do doente, em si, e a do cuidador. Este agente foi eleito, ou mesmo se elegeu, como responsável pelos tratamentos e cuidados com o doente. As relações vinculares são determinantes e até impositivas para o desempenho deste papel dentro do núcleo familiar.
O cuidador, eclipsado pelo próprio doente, ocupa seu devido lugar na atenção dos profissionais da área de saúde. O cuidador deve ser cuidado. No perfil característico do cuidador leigo inclui o abandono e o descuido de si em prol do outro. Suas necessidades, prazeres e atividades são sistematicamente sufocados e passa a existir a necessidade de servir. A vida do cuidador é colocada em segundo plano para ele mesmo. E o que acontece? O cuidador adoece! Por estresse, esgotamento, pedido de socorro, identificação, cumplicidade ou ganhos secundários. Em função deste cenário estamos cada vez mais cuidando do cuidador.

Anderson Zenidarci é psicólogo clínico; coordenador e professor do curso de Especialização em Transtornos e Patologias Psíquicas pela FACIS; professor convidado do curso de Especialização em Saúde Hospitalar pela PUCSP; Coordenador e professor do curso de Extensão e Aprimoramento O ciclo da vida e a construção do adoecer: uma visão psicossomática pelo Centro de Estudos de Psicopatologia, Psicossomática e Áreas Afins - CEPPA - SP


Referências
WINNICOTT, D. - A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
MINUCHIN, S. - Famílias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 2006.
SARACENO, C. - Sociologia da Família. Lisboa: Estampa, 2008.
PALAZZOLI, M. S. ; CIRILLO, S. ; SELVINI, M. ; SORRENTINO, A.M. - Os jogos psicóticos na família. São Paulo: Summus Editorial, 2006.
RICHTER, H. E. - A Família como Paciente. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2006.
MELLO FILHO, J. ; BURD, M. - Doença e Família. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
CALIL, L. L. - Terapia Familiar e de Casal. São Paulo: Summus Editorial, 2007.

Fonte: Revista Psiquê

Professores ainda não entendem papel da TV na educação Estudo foi realizado por meio de entrevistas e observação direta


 Professores ainda não entendem papel da TV na educação
Estudo foi realizado por meio de entrevistas e observação direta


  Uma pesquisa da Faculdade de Educação (FE) da USP avaliou a influência das mídias, em especial a televisiva, na educação de crianças e os reflexos disso na prática pedagógica de professores que atuam na Educação Infantil. O professor Aldo Pontes, autor da pesquisa, verificou que os professores ainda têm dificuldade em conceber as crianças como sujeitos sociais ativos, capazes de produzir cultura. Essa visão, aliada com práticas pedagógicas mal planejadas e mal conduzidas, prejudica a formação das crianças como cidadãos orientados a lançar um olhar mais sensível e reflexivo sobre a programação televisiva.
A pesquisa A educação das infâncias na sociedade midiática: desafios para a prática docente, foi realizada com duas professoras e suas respectivas classes de uma escola pública municipal de Educação Infantil da Região Metropolitana de Campinas. O estudo foi realizado por meio de entrevistas e observação direta, além de outros registros, fotografias e vídeos, e buscou primeiramente identificar as concepções de infância das professoras e se elas viam alguma influência da televisão na educação das crianças. "Após essa primeira etapa, tentamos identificar que saberes teóricos e metodológicos poderiam contribuir para uma formação (continuada) de professores que assegure uma educação com, para e por intermédio de mídias na Educação Infantil", explica Pontes.
Segundo o pesquisador, diversos fatores motivaram a escolha do tema. Além da escassez de pesquisas na área, Pontes observou que as crianças já chegam à escola alfabetizadas pelas mídias, especialmente a televisiva. "Outros fatores foram as angústias e inseguranças de alunos do curso de formação de professores, que reclamam não saber o que fazer quando a programação televisiva invade o cotidiano escolar, sobretudo quando percebem que essas consomem programas nada adequados a elas, ou até mesmo quando as brincadeiras ganham um tom mais violento, conforme aquilo que veem na TV", completa.
Sujeitos sociais ativos
Os primeiros resultados mostraram que as professoras têm dificuldade em compreender a infância para além da perspectiva biológica, ou seja, apenas como uma fase da vida. Segundo Pontes, isso dificulta a compreensão da complexidade da criança e aponta dois aspectos curiosos: "Primeiro, perdura o sentimento de pesar dos adultos em relação às infâncias do nosso tempo, marcadas pela presença massiva das tecnologias midiáticas no cotidiano. Para eles, a melhor infância parece ser sempre a que já fora vivenciada; e segundo, as crianças não são compreendidas como sujeitos sociais, com direito a voz e vez. Assim, elas continuam sendo vítimas de um silenciamento imposto pelos adultos, como se a criança realmente não tivesse nada a dizer, afinal está apenas cumprindo uma fase de vir a ser", analisa.
No início da pesquisa, as professoras não percebiam nenhuma possível influência da TV na aprendizagem das crianças, verificavam apenas influências em desenhos e brincadeiras. Ao final, já não esboçavam nenhuma dúvida em relação às influências da TV (e demais mídias) como socializadora no processo educativo das crianças.
Exercício da cidadaniaPontes observou, em relação aos fundamentos teóricos e metodológicos na educação midiática, que o grande desafio reside no trabalho com as imagens. "Cogitamos que em muitas escolas, o uso pedagógico da mídia livro ainda deixa muito a desejar, comumente utilizado para mera reprodução que em nada desafiam as crianças a aprender", observa.
Por outro lado, práticas pedagógicas com mídias podem ser cansativas e rotineiras quando mal planejadas, mal conduzidas e sem uma intenção pedagógica clara e explicitada. Assim, de nada adianta o uso de sofisticados recursos tecnológicos se não há uma intenção pedagógica que dê sentido àquele processo de ensino aprendizagem.
Segundo Pontes, é necessário que as crianças desenvolvam um olhar mais sensível e reflexivo sobre a programação televisiva que consomem diariamente em suas casas, na escola, etc. Tal olhar pode contribuir para a formação de sujeitos mais ativos e participativos no meio social. "Para isso, é preciso que a escola passe a compreender as crianças como sujeitos sociais ativos, ou seja, não apenas consumidores, mas produtores de cultura, e que passe efetivamente a respeitá-las, assegurando-lhes o direito a voz e a participação social, inclusive em seu processo educativo", explica.
A pesquisa defendida como tese de doutorado, na FE, em maio de 2010,  foi orientada pela professora Heloisa Dupas Penteado, que trabalha com a linha de pesquisa Didática, teorias de ensino e práticas escolares.


Mais informações: aldopontes@hotmail.com
Pesquisa: http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/3/33/23_-_A_educacao_das_criancas_-_Aldo.pdf

Fonte: Revista Psiquê

Documentos revelam regalias de Adolf Hitler durante prisão em Landsberg

Documentos revelam regalias de Adolf Hitler durante prisão em Landsberg

Der 
Spiegel
Jan Friedmann

O ditador nazista alemão Adolf Hitler e sua amante Eva Braun em jantar na mansão do casal
    Novos documentos históricos revelam que não faltava nada a Adolf Hitler durante o curto período em que ele esteve detido na Penitenciária Landsberg em 1924. Hitler pôde se reunir com os seus admiradores e manter os seus contatos políticos – tudo isso com o consentimento da diretoria da penitenciária.
    Um empresário de uma celebridade não poderia ter sido mais generoso na sua descrição. “Ele era sempre razoável, frugal, modesto e educado com todo mundo, especialmente com os funcionários da penitenciária”, escreveu o guarda carcerário a respeito do preso em 18 de setembro de 1924. O detento, acrescentou ele, não fumava nem bebia, “e acatava de boa vontade todas as restrições”.
    O prisioneiro a quem o guarda carcerário se referiu de forma tão reverente era Adolf Hitler. Ainda um ambicioso agitador de cervejarias naquela época, Hitler estava cumprindo uma pena de prisão no Castelo Landsberg por ter tentado organizar um golpe de Estado contra a República de Weimar, em novembro de 1923, juntamente com colegas extremistas de direita.
    Aquele foi um período definidor para Hitler e para a história alemã. Segundo o seu biógrafo Ian Kershaw, o período que Hitler passou na prisão possibilitou a gênese “da sua posterior prominência absoluta no movimento völkisch e da sua ascensão à liderança suprema”. Já se sabia que as condições do encarceramento de Hitler em Landsberg am Lech foram confortáveis, e que ele utilizou o tempo passado lá para escrever “Mein Kampf” (“Minha Luta”). Mas agora documentos históricos proporcionam novas informações sobre como ele foi capaz de continuar organizando a sua rede política sob o olhar da diretoria da penitenciária.

    Registro de entrada e cartões de visitantes

    O material, que provavelmente é oriundo do antigo departamento de registros da Penitenciária Landsberg, será leiloado na Casa de Leilões Behringer, na cidade bávara de Fürth, no dia 2 de julho. O conjunto de documentos inclui 300 cartões preenchidos pelos visitantes de Hitler, bem como uma vasta correspondência da administração da penitenciária.
    Alguns dos documentos eram anteriormente desconhecidos, enquanto outros são transcrições de páginas que já haviam sido analisadas. Entre eles há a cópia da sentença excessivamente suave que foi decretada pelo Tribunal Popular de Munique: cinco anos de prisão no Castelo Landsberg, com a possibilidade de liberdade condicional.
    Um dos documentos recém-descobertos é o “registro de entrada” da penitenciária, que traz a seguinte passagem: “Hitler, Adolf”. Data de entrada: 1º de abril de 1924. Resultados do exame médico: “Saudável, de vigor moderado”. Altura: 1,75 metro. Peso: 77 quilogramas. Os nomes dos leais seguidores que fizeram companhia a Hitler na Penitenciária Landsberg estão na mesma página: Friedrich Weber, Herman Kriebel, Emil Maurice e Rudolf Hess, que mais tarde seria o vice do Führer .
    Hitler passou a receber visitas pouco após ter sido encarcerado. Erich Ludendorff, o estrategista da Batalha de Tannenberg, na Primeira Guerra Mundial, que, para sua indignação, foi absolvido das acusações de envolvimento na tentativa de golpe liderada por Hitler, o visitou diversas vezes. A lista de visitantes de Hitler inclui ainda “Capitão Röhm, Munique”, “Vereador Doutor Frick, Munique” e “Alfred Rosenberg, arquiteto e escritor certificado, Munique”, que constituíam o círculo interno dos lideres do jovem Partido Nazista na época. Röhm, Frick e Rosenberg mais tarde tornar-se-iam, respectivamente, o chefe da SA, o ministro do Interior do Reich Alemão e o principal ideólogo nazista.

    “Como entrar em uma loja de doces”

    Outros visitantes poderiam ser mais prontamente categorizados como patrocinadores ricos, como Helene Bechstein, mulher de um fabricante de pianos de Berlim, que compartilhava o amor de Hitler pela música de Richard Wagner. Uma outra visitante, Hermine Hoffman, do bairro de Solln, em Munique, foi apelidada de a “Mãe de Hitler”. Segundo os documentos, a visitante atenciosa e viúva de um diretor de escola também enviava documentos para Hitler.
    Como presidiário, a Hitler nada faltava. A sua ala no segundo andar foi apelidada de “Feldherrenhügel”, ou “a colina do general”. O seu confidente Ernst Hanfstaengl contou mais tarde que, após ter visitado Hitler, a sua sensação foi a de ter “entrado em uma loja de doces”. “Havia lá frutas e flores, vinho e outras bebidas alcoólicas, presuntos, salsichas, bolos, caixas de chocolate e muitas coisas mais”, relatou Hanfstaengl. Apesar de ter ganhado um peso significativo como resultado dessa dieta farta, Hitler aparentemente repeliu a sugestão de Hanfstaengl de que fizesse um pouco de exercícios físicos.
    Os detalhes que agora estão emergindo dificilmente farão com que a história seja reescrita. Mas, segundo os arquivos estaduais da Baviera e os arquivos de Munique, onde são mantidos os documentos de Hitler e os registos incompletos da prisão de Landsberg, os documentos recém-descobertos permitem que se tenha uma ideia “dos contatos intensivos de Hitler e das suas oportunidades de interagir com pessoas”. Funcionários dos arquivos dizem ainda que “não existem dúvidas” quanto à autenticidade do material. No entanto, os documentos ainda não foram estudados detalhadamente.

    Encontrados em um mercado das pulgas

    Os documentos estão sendo vendidos pelo dono de uma companhia de táxis, cujo pai aparentemente os adquiriu no final da década de setenta, juntamente com livros da Primeira Guerra Mundial, em um mercado das pulgas de Nuremberg.
    É bem possível que os documentos tenham sido roubados quando os norte-americanos criaram uma prisão para criminosos de guerra em Landsberg em 1946, ou que eles tenham sido subtraídos ainda durante o Terceiro Reich, quando seguidores de Hitler transformaram a sua cela em um local de peregrinação e em um memorial para lembrar o seu suposto encarceramento sob condições rigorosas.
    Uma transcrição de uma carta a Jakob Werlin, um vendedor de carros de Munique, também revela as verdadeiras condições de vida de Hitler na Penitenciária Landsberg. Bem antes da sua libertação, em 20 de dezembro de 1924, devido em grande parte aos esforços de Warden Leybold, Hitler já tinha pensado no tipo de carro que compraria: Um Benz 11/40 – que “atenderia às minhas atuais necessidades”, disse Hitler – ou um 16/50, que contava com um motor mais potente. A sua cor preferida era cinza, e ele desejava “rodas de arame”.
    Hitler solicitou ao vendedor de automóveis um tratamento preferencial. Ele escreveu que provavelmente teria que obter um empréstimo para a compra, e que a sua dívida relativa “aos custos com o tribunal e às taxas legais” o estavam deixando de “cabelo arrepiado”.
    Na sua carta, Hitler pediu a Werlin que perguntasse à sede da sua empresa “que tipo de desconto” poderia ser concedido a ele.

    Falcão - Meninos do Tráfico

     Falcão - Meninos do Tráfico

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    Este livro é um contundente relato pessoal de Celso Athayde e MV Bill sobre os bastidores da produção de um documentário explosivo que mostra, como nunca foi visto antes, o universo dos meninos que trabalham no tráfico de drogas em diversas partes do país. Celso e Bill revelam as experiências dramáticas que viveram antes e durante a realização do documentário Falcão, em narrativas que preferiram escrever em primeira pessoa, numa linguagem franca e direta. Ao longo do livro os autores também discutem temas polêmicos como racismo, segurança pública, repressão policial e a importância do Hip Hop para a juventude que vive nas favelas.
    Com uma câmera na mão e a coragem de enfrentar o inesperado, Bill e Celso recolheram imagens e depoimentos estarrecedores ao longo de seis anos. Dos 17 meninos entrevistados, 16 morreram ao longo da produção do documentário. O objetivo dos autores foi mostrar o lado humano destes jovens. Suas razões, suas angústias, suas loucuras, seus sonhos, suas maldades e contradições.
    "Não queremos, com este livro, apresentar soluções para a criminalidade infantil, induzir opiniões, ou fazer uma análise profunda baseada em teorias para explicar o motivo dessa tragédia. Pretendemos simplesmente narrar as dificuldades que fizeram parte do nosso dia-a-dia, durante as gravações do documentário Falcão. Fatos que ficaram marcados em nossa consciência, em nossa alma."

    Falcão – Meninos do Tráfico
    abre uma nova discussão sobre a questão da segurança pública. Um livro fundamental para quem pretende entender o problema da violência no Brasil.
    MV Bill
    é o rapper mais famoso do Brasil e o mais importante política e ideologicamente. Nascido e criado na Cidade de Deus – onde reside até hoje –, é co-autor do livro Cabeça de Porco (Objetiva), uma parceria que deu certo entre, Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares. Bill também é co-produtor e co-diretor dos filmes Falcão – Meninos do Tráfico e Falcão – O Bagulho É Doido. Recebeu a medalha da Unicef, o título de Cidadão do Mundo – conferido pelas Nações Unidas –, o de Cidadão Benemérito do Rio de Janeiro e os prêmios Orilaxé e MTV.
    Celso Athayde
    nasceu na Baixada Fluminense, mas cresceu na Favela do Sapo, em Senador Câmara. Tornou-se o mais importante produtor de Hip Hop do Brasil, através do projeto Hutúz. É co-produtor e co-diretor dos filmes Falcão – Menino dos Tráficos e Falcão – O Bagulho É Doido. Também é fundador da Cufa (Central Única das Favelas). Cuida ainda da agenda de grandes nomes do Hip Hop brasileiro, como Nega Gizza e MV Bill.
    DEPOIMENTOS SOBRE O LIVRO
    "Imperdível. Esta viagem  pelo mundo devastador das drogas e da  marginalidade é contada aqui de forma original e familiar. Os dois autores revisitam os personagens perplexos da literatura policial do século XX, e trazem a mesma emoção que experimentamos ao ler aqueles detetives - que narram as investigações associando suas próprias memórias ao relato. Bill e Celso, que conhecem profundamente as condições em que vivem estes jovens, são certamente os melhores detetives e narradores de um mundo que precisamos entender, sem estereótipos.".
    Joel Zito Araújo, cineasta, autor de A Negação do Brasil e Filhas do Vento.

    "
    Esta é uma obra de impacto. Com as sensíveis e sofridas histórias desse livro, o Mestre da Verdade, Bill, e seu parceiro-irmão Celso Athayde assumem, com imensa coragem, solidariedade e amorosidade, o compromisso radical com uma verdade maior: só seremos um país efetivamente humano quando esse genocídio acabar; e quando conseguirmos implantar políticas públicas cujo eixo central seja a preservação da vida e da dignidade humana de todos os cidadãos, em particular as crianças e os jovens. E todos nós somos responsáveis por elas, e por suas conseqüências."
    Jailson de Souza e Silva, coordenador geral do Observatório de Favelas do Rio de Janeiro, professor da UFF/RJ e consultor do UNICEF

    "
    Vidas e talentos atolados no abandono e no descaso social. Cenas cruas de desumanização e degradação de seres humanos que, ainda assim, resistem e sonham até a próxima bala perdida ou intencional. É essa realidade dantesca que MV Bill e Celso Athayde retratam, com a viva esperança de que as notícias que trazem desse outro mundo possam ecoar onde ainda existam indignação, solidariedade e compaixão."
    Sueli Carneiro, doutora em Educação pela USP e diretora do Geledés Instituto da Mulher Negra

    "Este livro mostra o compromisso de MV Bill e Celso Athayde, dois jovens de vanguarda no Brasil que abandonaram seus discursos, arregaçaram as mangas e se entregaram a causas polulares. Vivem no olho do furacão."
    Preto Zezé, militante do movimento de favelas do Ceará

    "
    Uma panorâmica do Brasil real, do Brasil que não passa na novela das oito. Ao dar voz a esses meninos, o livro nos coloca em uma sinuca de bico. Eles querem optar, eles querem uma chance, têm sonhos, têm esperanças, têm o que falar. Mas, como nos sinais de trânsito das nossas cidades, viramos a cara para eles, sentimos medo ou desprezo, pior, ficamos indiferentes. Por que não parar um instantinho para ouvi-los?"
    Guti Fraga, diretor e fundador do Grupo Nós do Morro

    Falcão
    Meninos do Tráfico
    MV Bill e Celso Athayde
    Relato   272 páginas