Tropa da mídia


Tropa da mídia 
 
 FERNANDO DE BARROS E SILVA
SÃO PAULO - Há um triunfalismo exorbitante na cobertura jornalística dos acontecimentos gravíssimos no Rio de Janeiro. Na sua primeira página de ontem, o jornal "O Globo" estampou, em letras garrafais: "O Dia D da guerra ao tráfico".
A comparação, ou "semelhança simbólica", entre a ocupação da Vila Cruzeiro, anteontem, e o desembarque das tropas aliadas na Normandia, impondo a derrota aos nazistas, é um despropósito, um disparate histórico, além de factual.
Vale lembrar: no dia 21 de abril de 2008, o Bope pendurou na parte mais alta da mesma Vila Cruzeiro a sua bandeira preta com a caveira no centro. A tropa de elite da polícia comemorava uma semana de ocupação na favela. Falava-se então na apreensão de "três mil sacolés de cocaína e 480 pedras de crack". Já vimos, pois, esse filme antes.
O que aconteceu desde então? As coisas agora são diferentes? Parece que sim. A começar pelo emprego de armamentos de guerra e de efetivos das Forças Armadas no cerco ao tráfico. Os bandidos também mudaram de patamar: passaram a patrocinar ações típicas da guerrilha e do terrorismo pela cidade.
Até prova em contrário, esses parecem ser sintomas do agravamento de um problema, e não da sua solução. Curiosamente, o secretário de Segurança do Rio mostra ter mais noção disso do que a mídia.
Por toda parte -TVs, jornais, internet-, há uma tendência compulsiva para transformar a realidade em enredo de "Tropa de Elite 3", o filme do acerto de contas final. A dramatização meio oficialista e meio ficcional do conflito parece se beneficiar de uma fúria coletiva e sem ressalvas dirigida aos morros, como quem diz: sobe, invade, explode, arregaça, extermina!
É quase possível ouvir no ar o lamento pela ausência de traficantes metralhados diante das câmeras. Até o momento em que escrevo, foram incendiados 99 veículos e mortas 44 pessoas. Quantas eram marginais? Quantas eram só pobres-diabos? E que diferença isso faz?

Datena ladra, mas não morde

Ale Rocha

Ale Rocha

Datena ladra, mas não morde

“Qualquer semelhança com a realidade é apenas uma coincidência. Essa é uma obra de ficção”. O irônico aviso no começo de “Tropa de Elite 2″ veio rapidamente à minha cabeça enquanto assistia ontem (25) à cobertura do “Brasil Urgente” (Band) sobre a operação de invasão da polícia ao morro da favela da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro.
Admito envergonhado que fui um dos telespectadores responsáveis pela vice-liderança de audiência do programa. No horário nacional (das 17h às 18h43), a atração policial chegou a pico de 9 pontos com média de 7, contra 6 da Record e 3 do SBT.
José Luiz Datena sabe, como poucos, aproveitar a desgraça alheia. A todo o momento faz questão de dizer que não é sensacionalista e garante ser um absurdo esta acusação. Porém, logo em seguida, não se envergonha ao se aproveitar de clichês do gênero. Grita contra autoridades, pede close em sua cara raivosa e se coloca como defensor da sociedade.
Datena afirma que apenas mostra os fatos, cumprindo sua responsabilidade jornalística. Aliás, nesta sua missão, não esquece por nenhum momento de colocar a culpa na classe política. Assim, sem ressalva alguma. O apresentador também é um ótimo profeta do passado. Após a catástrofe, logo lança suas frases de efeito. “Eu disse que há crime organizado no Rio, mas ninguém me ouviu.”
Se Datena justifica seus atos pela atividade jornalística, pergunto: que tal ouvir o outro lado? Trata-se de regra básica ensinada aos alunos do primeiro ano de faculdade. Enquanto tive estômago para assistir ao “Brasil Urgente”, nenhum representante significativo do Estado foi confrontado pela ira espumante do apresentador. Restam aos repórteres perguntar para policiais, bombeiros e outros funcionários públicos da linha de frente. Aliás, enquanto perguntam, são atormentados por Datena pelo ponto eletrônico, que esbraveja diretamente do conforto do estúdio.
Mesmo com sua auto-declarada enorme audiência, depois comprovada pelo Ibope, Datena não exigiu a presença do prefeito Eduardo Paes (PMDB) ou do governador Sérgio Cabral (PMDB).
Travestida de cobertura jornalística, a operação de invasão da polícia ao morro da favela da Vila Cruzeiro é um prato cheio para os fãs de filmes de ação, principalmente para os mais de 10 milhões que já foram aos cinemas assistir à “Tropa de Elite 2″. Não há dúvidas sobre o interesse jornalístico no fato, mas a forma como ele é abordado está mais para um espetáculo.
A transformação de ações policiais em um reality show coloca a ética jornalística em discussão. Até que ponto a televisão pode se aproveitar de um momento delicado em busca de audiência, anunciantes e retorno financeiro? Por mais que a TV não seja a única fonte de informação, ela ainda reina absoluta entre os brasileiros. Não se pode ir às favas com o respeito e transformar a morte em algo explícito e prolongado apenas para garantir audiência.
Além da ausência de entrevistas com o prefeito e com o governador, não houve no “Brasil Urgente” declarações de especialistas em segurança pública. O telespectador ficou sem saber os motivos da explosão de violência no Rio de Janeiro. O foco está no tiroteiro e na ação. A palavra guerra é utilizada a todo momento. As vielas da Vila Cruzeiro são definidas como rios de sangue.
Fico esperando o momento em que Datena chamará o Capitão Nascimento (Wagner Moura), como tantos fizeram no Orkut, no Twittter e em outras redes sociais. Porém, quem viu e entendeu o filme sabe que nesta história não há herói. O roteirista e diretor José Padilha deixa isso bem claro.
Se desejam evocar “Tropa de Elite 2″, lembrem-se do final do filme. Todos têm sua parcela de culpa. Até mesmo quando somos omissos e dizemos: “nada tenho a ver com isso”. Ou quando damos audiência para programas que se alimentam da desgraça alheia sem qualquer intuito de informar, apenas para explorar, aos berros e cortes rápidos de câmera, o esfacelamento da sociedade.

A vez das mulheres africanas contribuírem para a "fuga dos cérebros"

A vez das mulheres africanas contribuírem para a "fuga dos cérebros"

Le Monde
Brigitte Perucca
A fuga de cérebros até hoje se dava predominantemente entre homens. Embora as mulheres representem quase um em cada dois migrantes (49%), suas migrações costumam ser atribuídas à reunião familiar e diriam respeito a pessoas não qualificadas.
Em um estudo intitulado “A emigração das mulheres qualificadas, um componente oculto da fuga dos cérebros africanos”, Abdelslam Marfouk, pesquisador da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, desfaz esses “clichês”.
As mulheres não somente constituem uma ampla parte da migração africana (44%) para países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], como mais da metade delas são formadas no ensino superior. O fenômeno quase não é visível na Europa, onde, com exceção do Reino Unido e, em menor medida, da Alemanha e da Áustria, a porcentagem de formadas entre a população de migrantes não ultrapassa os 20%.
Ao contrário da América do Norte e da Austrália, onde mais de 60% das migrantes africanas cursaram o ensino superior. Essa proporção é maior também entre as migrantes da Ásia (44%). A comparação é relativa ao ano de 2000, a única até o momento que permite comparar de maneira válida todos os países da OCDE.
Entre 1990 e 2000, o número de migrantes qualificadas aumentou 73%, passando de 5,8 milhões para 10,1 milhões enquanto, ao mesmo tempo, a porcentagem das mulheres migrantes não qualificadas aumentou “só” 22%. Em todo o mundo, com exceção da África Central, essa proporção foi superior à dos homens. A razão dessa explosão deve-se em parte ao fato de que o acesso das mulheres ao ensino superior aumentou mais rápido do que o dos homens, por recuperação. Em nível mundial, a população das mulheres instruídas aumentou 68% - até 105% nos países menos desenvolvidos – ao passo que a dos homens aumentou 42% (71% nos países menos desenvolvidos).
Reação em cadeia
“Para a grande maioria dos países africanos, o fenômeno de fuga dos cérebros afeta mais as mulheres do que os homens”, afirma Marfouk, que acredita que “as mulheres africanas mais instruídas constituem o grupo mais móbil internacionalmente”.
Em certos países, como a República Democrática do Congo, Nigéria ou Tunísia, o índice de emigração das mulheres qualificadas é dez vezes superior ao dos homens qualificados. Sabendo que a porcentagem de mulheres formadas na África dentro da população ativa é muito baixa (2,4%), pode-se imaginar a dimensão da perda para os países de origem.
Essa emigração pesa sobre os países de origem de forma talvez mais grave do que a dos homens. Pois provou-se que a educação das mulheres é um elemento essencial do desenvolvimento, com reação em cadeia sobre a mortalidade infantil, educação das crianças e sua saúde. Além disso, “mesmo que de forma geral elas sejam menos bem remuneradas do que os homens migrantes, as mulheres transferem uma proporção maior de sua renda para os países de origem”, garante Marfouk.
O exemplo do Marrocos é prova disso: a contribuição das marroquinas que emigraram para um país da OCDE representa 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) desse país onde 11% da população vive em uma família beneficiada por uma transferência. E entre essas migrantes, 20% são formadas, contra 18% dos homens, segundo Marfouk.
O Marrocos, que há três anos possui um Conselho Consultivo dos Marroquinos no Exterior, criou um “grupo de trabalho sobre a questão do gênero”. Coordenado por Amina Ennceiri, que trabalha na Agência Francesa das Migrações Internacionais, nesses dois últimos anos ele se empenhou em reunir essas marroquinas de todas as idades e grupos sociais.
“Cada vez mais mulheres partem sozinhas”, diz Ennceiri. “Elas se tornam de fato chefes de família. Sua influência é, portanto, preponderante para o Marrocos”. Entre elas, há cada vez mais formadas, confirma. Mas para o Marrocos, assim como para o resto da África, o fenômeno atinge mais os países árabes ou o Líbano, por exemplo, do que a Europa.

Pessoas à beira da morte criam o ambiente para seus últimos dias

Pessoas à beira da morte criam o ambiente para seus últimos dias

The New York Times
Joyce Wadler
  • Laurie Krausse com uma fotografia de seu falecido marido Bernd, que morreu de gliobastoma, no celeiro construído pelo casal no quintal de sua casa Laurie Krausse com uma fotografia de seu falecido marido Bernd, que morreu de gliobastoma, no celeiro construído pelo casal no quintal de sua casa
Houve uma certa confusão quanto às causas da doença de fígado que deu a Fred Kress pouco tempo de vida. O pintor de casas que também faz consertos, de 46 anos, que vive nos arredores de Baltimore, teve hepatite C, que causa danos no fígado, durante vários anos. Os médicos chegaram a sugerir que o abuso de álcool tivesse contribuído para isso, o que não faz sentido, dizem Kress e sua família, porque ele nunca bebeu muito. O verdadeiro culpado, ele acredita agora, foi químico: ele não usava a máscara apropriada quando pintava casas, e quando trabalhava em seus projetos de artesanato, fabricando máscaras de alienígena com resina de fibra de vidro, ele trabalhava numa sala pequena, sem janela, ignorando todos os rótulos dos produtos que usava.
“Eles diziam que aquilo 'iria' – e não 'poderia' – causar danos no fígado e nos rins”, diz Kress. “Meu fígado foi totalmente derretido.”
Mesmo antes de ficar doente, entretanto, sua vida não era um mar de rosas. Ele tinha um relacionamento de amor e ódio de 20 anos com sua namorada, e quando recebeu o diagnóstico, vivia com sua mãe viúva. Sua filha de 17 anos tem síndrome de Rett, uma doença parecida com o autismo que a deixou incapaz de falar. E no dia de fevereiro em que os médicos disseram que ele só tinha mais um ano de vida, sua namorada ficou com seu melhor amigo.
“Isso foi mais duro do que saber que eu ia morrer”, disse Kress. “E depois, por algum motivo, eu peguei um pincel. Com aquele pincel na mão, eu não penso em nada disso.”
Kress se dedicou mais a seu trabalho com as máscaras. Ele cobriu as paredes da sala com tinta fluorescente, iluminando-as com luz negra que deixava as cores mais vivas, e comprou 30 cabeças de manequins por US$ 3 cada, que também pintou de cores fluorescentes.
“Eu adorei aquilo”, diz ele. “Tudo o que eu pintei aquela noite, sentei lá e fiquei olhando para as coisas e acabei dormindo. Qualquer coisa era melhor do que chorar até dormir.”
Embora Kress fizesse máscaras bem antes de seu diagnóstico, diz Bonnie Weissberg, assistente social do Asilo Gilchrist, que fornece cuidados a domicílio para ele, “quando percebeu que iria morrer, ele simplesmente de dedicou a transformar a própria sala numa obra de arte.”
De acordo com a Asilo e Organização de Cuidado Paliativo Nacional, a maioria dos norte-americanos – 80%, diz uma pesquisa – preferiria morrer em casa. É uma escolha que exige várias mudanças no espaço físico, como a instalação de equipamentos médicos e uma cama de hospital. Para algumas pessoas, entretanto, o mais importante é alterar o ambiente de forma que elas se sintam melhor emocionalmente – criando um lugar que represente sua derradeira ideia de lar. Os familiares com frequência também acham o processo surpreendentemente eficaz.
O Dr. Robert Milch, diretor médico emérito do Centro de Asilo e Cuidado Paliativo em Buffalo, Nova York, lembra-se de uma paciente que tinha uma casamento tumultuado. Ela e o marido “se separaram em várias ocasiões”, diz ele. Mas quando foi diagnosticada com câncer terminal, “eles voltaram a morar juntos, e ele cuidou dela à medida que a doença evoluiu.”
Essa mulher disse ao marido que o que ela mais queria era uma sala ensolarada em que ela pudesse passar seus últimos dias sentada e olhando para os bosques e montanhas, diz ele. “Ele assumiu a criação de um jardim de inverno em sua varanda, e o construiu com as próprias mãos durante duas semanas, para que pudesse transferi-la para lá”, disse Milch. “Tudo o que eu conseguia pensar era que ele havia levado um verão sem fim para o inverno da infelicidade dela.”
Para outros, é claro, a ideia final de lar pode ser algo bem diferente. O essencial, diz a médica Cheryl Phillips, ex-presidente da Sociedade Norte-Americana de Geriatria e chefe médica da On Lok Lifeways, uma organização sem fins lucrativos que oferece serviços para idosos debilitados na grande San Francisco, é preciso descobrir o que faz com que a pessoa que está morrendo sinta-se mais confortável. “Se há uma coisa que pode fazer a diferença, que coisa é essa?”, diz ela. “É impressionante como as pessoas podem ser criativas para fazer com que esses desejos especiais se tornem realidade.”
Areia quente no inverno
Virginia Fry, uma conselheira que foi diretora do Conselho de Asilo e Cuidado Paliativo de Vermont por 30 anos, acredita que as pessoas devem ter uma lista do que querem para o ambiente em que passarão seus últimos dias – incluindo o aspecto visual, sons e aromas. O aroma é particularmente importante porque os odores da doença podem ser intrusivos, diz Fry. Normalmente, as pessoas tentam mitigar esse problema colocando potes de potpourri ou pingando óleos essenciais nas lâmpadas.
Para criar um ambiente feliz para uma mulher de Vermont há alguns anos, Fry e sua organização foram além do potpourri. A mulher sonhava em ir para o Havaí, mas não tinha muito dinheiro, diz Fry, e estava muito doente para viajar. Então a organização do asilo levou o Havaí até ela – um desafio complicado no inverno de Vermont. Fry perguntou quais eram as cores favoritas da mulher e trouxe tecidos havaianos que podiam ser enrolados em torno dela como um vestido (a roupa tinha de acomodar o suporte para o soro). Lâmpadas tiki foram colocadas nos bancos de neve que levavam até a casa. Os visitantes usavam shorts e camisas havaianos, e para fazer a casa cheirar como o Havaí, eles recebiam óleo de coco. O conselho de diretores da organização conseguiu que um colar de orquídeas fosse enviado do Havaí – as primeiras flores de verdade que a mulher teve na casa, ela contou. Sons de ondas batendo e de um vulcão em erupção eram tocados continuamente, e eram servidas carnes grelhadas com abacaxi.
“Nós tínhamos tudo que tinha o visual e o cheiro do Havaí, mas ainda tínhamos um problema: qual é a sensação de estar no Havaí?”, disse Fry. “Decidimos que era a areia quente sob os pés, então um de nossos funcionários pegou areia da entrada da casa e esquentou no forno por quatro horas até que ela ficasse fina. Então colocamos lençóis no chão, com aquecedores em cima, e depois outro lençol em cima disso e a areia no topo de tudo, então havia uma área com um metro de areia.”
Onde a dona da casa estava enquanto tudo isso acontecia?
“Ela estava comandando tudo”, disse Fry. “É bom que os pacientes dirijam, porque eles perdem o poder ao se tornarem pacientes, então qualquer coisa que restaure sua sensação de controle é terapêutica.”
Ainda assim, um metro quadrado de areia não parece muita praia.
“Ela se sentava ou ficava em pé ali”, diz Fry. “E convidava pessoas que voltavam para colocar os pés na areia e sentar-se lá com ela.”
O jardim da infância
Susan Sanchez, assistente administrativa que morava em Santa Barbara com seu marido, Oscar, um engenheiro aposentado, e sua filha adulta Amanda, adorava jardins. Durante alguns anos, depois de se mudar para a Califórnia, ela teve um pequeno jardim com um pátio e fontes, e depois de seu primeiro encontro com a doença – um tumor no cérebro em 2001, quando ela tinha 60 anos – ela começou a escrever histórias sobre o jardim de sua avó na Inglaterra. Elas eram surpreendentemente detalhadas, considerando que eram memórias de 50 anos atrás: Sanchez falava da casinha caiada; do sapo que ela e seu irmão costumavam alimentar com minhocas; do caminho que separava as flores e as verduras; e de suas plantas favoritas, uma espécie de feijão.
“Eles cresceram em várias treliças e deram lindas flores vermelhas”, escreveu Sanchez. “Minha avó os chamava de feijões escarlate. Era o ponto alto do dia e das férias quando os feijões estavam prontos para serem comidos.”
A história terminava assim: “o jardim de minha avó alimentava nossos estômagos e sentidos. Minha avó alimentava nossas almas.”
Quatro anos depois, Sanchez foi diagnosticada com câncer no ovário, e em 2009, ela sabia que estava morrendo. Ela queria ser cremada e escolheu uma fonte de pássaros de jardim como urna funerária; a coluna de suporte conteria suas cinzas. Seu jardim, entretanto, estava sem manutenção e sua filha, Amanda, que também tinha problemas de saúde, não tinha forças suficientes para restaurá-lo.
Então a filha entrou em contato com a organização sem fins lucrativos Dream Foundation. Usando a história como guia, voluntários criaram um jardim inglês com as flores da infância de Sanchez. A fonte de pássaros que deveria ser seu descanso final foi destacada com um caminho circular de pedras.
O jardim foi concluído apenas dois antes de Sanchez morrer, diz Jackie Waddill, responsável pelas relações com doadores da Dream Foundation, mas como Sanchez conseguiu ajudar a criá-lo, ela se sentia confortada com a ideia de que o jardim seria um lugar elo em que seu marido e filha poderiam se lembrar dela. Amanda Sanchez, que fez uma cerimônia lá no aniversário da morte de sua mãe este ano, disse que o jardim a tem confortado.
“Temos muitas rosas e íris em volta do bebedouro de pássaros, e comecei a plantar verduras este ano”, diz ela.
Como estão as plantas?
“Estão maravilhosas. E o bebedouro de pássaros é bastante visível. Eu era muito próxima de minha mãe, e sei o quanto ela gostava dessas coisas, de ver os pássaros, então eu faço isso agora”, diz ela. “E os feijões ficam praticamente do lado da porta, então eu simplesmente puxo um e fico lá comendo e pensando nela.”
Uma casa na natureza
Bernd Krausse era um engenheiro alemão que amava a natureza. Ele e sua mulher, Laure, assistente de dentista, tinham um rancho em Kenwood, Califórnia, no Vale Sonoma. Era uma casa pequena e que precisava de reparos localizada num terço de acre, diz ela, mas ficava em frente ao Parque Estadual Sugarloaf Ridge, com vista para as montanhas – e, é claro, Krausse conseguia consertar qualquer coisa. O casal decidiu não ter filhos para que pudesse passar seu tempo juntos fazendo as coisas de que mais gostavam: caminhar, pescar, esquiar, e praticar rafting.
Mas cinco anos depois de comprarem a casa, quando Krausse estava com 52 anos, eles ficaram sabendo que ele tinha gliobastoma, um agressivo câncer cerebral, e sua mulher, que era 12 anos mais nova, ficou devastada. “Ele era minha alma gêmea, o amor da minha vida”, diz ela. O marido, que sempre se interessou por religiões orientais e acreditava que tinha um espírito que sobreviveria à morte, estava mais calmo.
“Ele disse: 'tudo bem, todo mundo tem que morrer. Estou aqui com você, vamos nos concentrar no agora'”, ela se lembra. “Ele também disse que uma das coisas que queria fazer era terminar a casa, colocar as janelas lá. Nós falamos sobre ir para o Havaí. Ele disse: 'vamos para o Havaí ficar com Deus'. Nos olhos de Bernd, Deus era beleza, Deus era natureza, Deus era as flores, as montanhas, a lua e as estrelas, então ele queria ficar ao ar livre o tempo todo. Ele não era do tipo que ia deitar na cama e morrer, isso era certeza.”
Mas terminar a casa era demais para Krausse, que começou a ter convulsões graves e não conseguia mais dirigir ou trabalhar, e seus colegas se reuniram para terminar o trabalho. Um dia, quando sua mulher voltava do trabalho, ficou atônita ao ser informada por um vizinho que tinha o visto entrando num ônibus com ripas de madeira de 3,5 metros amarradas a seu corpo – materiais para o celeiro que o casal queria construir no quintal. Com a ajuda de familiares, o celeiro foi construído. Sua mulher tentou deixá-lo o mais bonito possível, decorando-o com uma cama branca e tapetes orientais, e o lugar se tornou o último lar do casal.
“Bernd estava simplesmente apaixonado por aquele celeiro”, diz ela. “Durante meses e meses antes de ele morrer, ele queria dormir lá o tempo todo. Era confortável para ele porque era rústico e ele sentia como se estivesse ao ar livre. Nós sentávamos na varanda e olhávamos as estrelas e as montanhas.”
Foi vontade do casal que depois de sua morte seu corpo ficasse deitado por alguns dias em casa – eles fizeram isso com a ajuda de Jerrigrace Lyons, diretora-executiva da organização de funerais em domicílio Final Passages em Sebastopol, Califórnia. Depois que seu corpo foi cremado, sua mulher guardou as cinzas em sua casa por muitos anos, finalmente espalhando-as perto do celeiro.
Laurie se casou de novo desde então, e hoje o celeiro é usado para guardar coisas. Mas para ela, ele ainda representa seu lugar de descanso. Quando ela quer visitá-lo, conta, ajoelha-se lá e diz, “Oi, Bernd”.
Voltando para casa
A vida de Debra Rothenburgh, garçonete de 41 anos no oeste de Nova York, era uma tragédia moderna norte-americana mesmo antes de ser diagnosticada com câncer cervical em agosto. Quando era criança, ela passou um tempo num orfanato; casou-se aos 17 anos, quando ficou grávida; mais tarde, perdeu a custódia de seu filho; e depois teve mais dois filhos, que morreram em acidentes quando eram adolescentes. Quando Rothenburgh descobriu que tinha câncer, ela trabalhava como garçonete em Bath, uma pequena cidade próxima a Corning, Nova York, num emprego que ironicamente deixou sua situação pior.
“Ela não tinha seguro saúde”, diz a mãe de Rothenburgh, Gwen Lewis, de Palmetto, Geórgia. “Ela ganhava muito dinheiro, então eles tiraram o Medicaid dela – ela ganhava US$ 7 a mais por mês. Ela ia trabalhar com pacotes de gelo nas costas. Em 6 de agosto, ela foi levada ao Hospital Corning. E à uma da manhã, ligou para mim e disse: 'Mamãe, estou morrendo, estou cheia de câncer'. Eu disse: 'Debra, não diga isso'.”
Lewis continuou: “Eu falei, 'estou a caminho'. E fui até a casa de minha filha. Ela estava chorando. Ela disse para mim: 'Estou morrendo'. Eu falei, 'sim'. Ela disse: 'por quanto tempo você pode ficar?'. Eu respondi: 'Deb, vou ficar até a morte chegar, e ela está longe ainda'.”
Rothenburgh, que tinha um apartamento em Bath, quis inicialmente ficar na área para estar perto dos amigos, mas no final de agosto, ela mudou de ideia. Seu padrasto, Jim Lewis, levou parte de seus móveis de volta para Palmetto – sua penteadeira, sua televisão – e tentou criar um quarto no qual ela se sentiria como se estivesse em casa. Rothenburgh não queria uma cama de hospital, então Jim Lewis encontrou uma cama dupla, com uma manta que combinava com o vestido que Rothenburgh havia usado no casamento de seu filho. Ele encheu o quarto com fotos de família, incluindo uma foto do casamento dela.
Enfermeiras vieram do Southern Tier Hospice e Centro de Cuidado Paliativo para cuidar dela. Ela e a mãe passavam a maior parte do tempo sentadas na sacada da frente, aproveitando o final do verão.
Um dia, enquanto olhava para os cestos cheios com suas coisas que estavam na varanda, Rothenburg disse: “aqui estou eu sem nada mais uma vez”.
A mãe respondeu: “sabe, querida, nós vimos para cá sem nada e vamos embora sem nada. São só coisas materiais”.
Depois, Gwen Lewis oberservou: 'ela queria acampar esse verão, e nós não conseguiríamos fazer isso no norte. Jim trouxe cadeiras reclináveis, que tinham assentos confortáveis, e nós trouxemos o travesseiro dela para que ela pudesse colocá-lo na cadeira.”
E acrescentou: “eu usava um monitor de bebês para acompanha-la, e a noite inteira eu ouvia os grilos.”
Rothenburgh morreu em 27 de setembro, com seu irmão, irmã e mãe ao lado de seu leito. Algumas pessoas, diz Lewis, acharam que a filha deveria estar numa instituição médica, mas ela discorda.
“Se ela estivesse no hospital, nós não teríamos aquele tempo”, diz ela. “Ela não poderia ter sentado na varanda, acampar do lado de fora, ouvir os grilos. Ela fez o que queria fazer, e estou feliz por isso.”

Doentes mentais chineses vivem nas sombras

Doentes mentais chineses vivem nas sombras

The New York Times
Sharon La Franiere
Em Xizhen (China)
Depois de cinco meses numa ala quase abandonada do Hospital Psiquiátrico de Hepu, Yang Jiaqin não sofre mais alucinações terríveis. Ainda assim, sua mulher não ousa mencionar crianças, nem mesmo seus filhos, por medo de que isso desperte os demônios que o possuíram na última primavera.
Numa tarde quente e ensolarada de abril, Yang saiu correndo de sua casa no vilarejo rural próximo à fronteira com o Vietnã, carregando um facão de cozinha. Ele cortou dois alunos da pré-escola, ferindo ambos gravemente, e abriu a garganta de um menino da segunda série, abandonando-o à morte no chão. E então ele continuou. Quando os policiais conseguiram capturá-lo e controlá-lo, ele já havia cortado mais duas pessoas até a morte.
As famílias das vítimas concentraram sua raiva contra a polícia. Três dias antes, Yang havia atacado um vizinho na cabeça com um machado, mas não foi preso.
“Eles são totalmente responsáveis por isso”, diz Wu Huanglong, pai do menino da segunda série. “Eles não nos protegeram.”
Mas os médicos de Yang veem uma falha maior. Apesar de sinais claros de esquizofrenia, Yang havia recebido cuidados médicos por apenas um mês nos últimos cinco anos.
“Se ele tivesse recebido medicação e tratamento, sua doença não teria se desenvolvido”, diz Chen Guoqiang, médico chefe do hospital psiquiátrico. “Se ele tivesse sido capaz de controlar suas alucinações, não teria matado ninguém.”
Faz quase 35 anos desde a Revolução Cultural, quando as doenças mentais foram declaradas uma ilusão burguesa, e muitos hospitais mentais foram fechados e os doentes tratados com leituras do comandante Mao. O tratamento psiquiátrico ressurgiu desde então. Mas a saúde mental continua sendo uma fraqueza da medicina, desesperadamente em falta de financiamentos, médicos e estima.
É frequente que a resposta oficial às doenças mentais seja a negligência. As autoridades governamentais já abaladas por um ataque no mês anterior, em que oito crianças foram esfaqueadas até a morte, lançaram a censura sobre o incidente de Xichen para evitar que ele seja copiado ou incite mais indignação.
Pelo menos três entre seis homens que atacaram perto de escolas este ano deixaram 21 mortos e antes disso pareciam perturbados ou suicidas, de acordo com notícias. Mas na mais alta declaração sobre as mortes, o primeiro-ministro Wen Jiabao disse apenas que a China precisava resolver as “tensões sociais” subjacentes aos ataques.
Yan Jun, diretor da divisão de saúde mental do Ministério da Saúde, recusou repetidos pedidos de entrevista. O ministro disse numa declaração que o governo estava “continuamente fortalecendo” tanto seus recursos quanto seus profissionais para fornecer cuidados à saúde mental.
Mas o caminho é longo. Só um entre 12 chineses que precisam de cuidados psiquiátricos passa por uma consulta, de acordo com um estudo feito no ano passado pela revista britânica de medicina The Lancet. A China não tem nenhuma lei nacional de saúde mental, pouca cobertura para cuidados psiquiátricos por parte dos planos de saúde, quase nenhum cuidado nas comunidades rurais, poucas camas para pacientes internados, poucos profissionais e uma estrutura burocrática fraca para a saúde mental, dizem especialistas chineses na área.
O próprio escritório de saúde mental do Ministério da Saúde, estabelecido há quatro anos, resume-se a três pessoas. Yan, o diretor, é especialista em saúde pública, e não um psiquiatra.
De tempos em tempos, a mídia da China declara que uma lei nacional de saúde mental está prestes a ser adotada. O primeiro esboço foi escrito há meio século. Questionado sobre quantas revisões ela já passou, Ma Hong do Instituto de Saúde Mental da Universidade Peking diz: “incontáveis”.
A maioria dos hospitais psiquiátricos são inviáveis financeiramente, diz Yu Xin, que dirige o Instituto de Saúde Mental da Universidade Peking. Um deles, na província Hubei, abriu uma fábrica de caias nos anos 90 para continuar de pé. A estrutura de impostos é tão absurda, diz ele, que os hospitais podem cobrar mais por diagnósticos computadorizados baseados no preenchimento de formulários do que por sessões com psiquiatras de verdade.
“O governo não quer gastar dinheiro para tratar essas pessoas, então ele simplesmente as devolve para suas famílias”, diz Huang Xuetao, advogado de saúde mental e um dos autores do relatório.
Deixados com seus próprios recursos, alguns familiares recorrem a soluções desumanas. Em 2007, He Jiyue, um psiquiatra do governo, descobriu um homem de 46 anos trancado atrás de uma porta de metal numa sala malcheirosa de uma casa na província rural de Hebei. O homem era mentalmente doente, disseram os pais idosos. Eles o haviam prendido há 28 anos depois que ele atacou o tio.
Nos últimos três anos, funcionários de saúde mental resgataram 339 pessoas cujos parentes eram pobres demais, ignorantes ou tinham vergonha de buscar tratamento. Alguns, acorrentados em abrigos no quintal, eram “tratados como animais”, disse o Dr. Liu Jin, do Instituto de Saúde Mental da Universidade de Peking.
A falta crônica de médicos e instituições faz com que o cuidado que exista seja limitado. A média da China é de apenas um psiquiatra para cada 83 mil pessoas – doze vezes menos do que a proporção dos Estados Unidos – e a maioria não tem formação universitária em nenhuma especialidade, quanto menos em saúde mental, disse Ma.
“Os psiquiatras profissionais na China são como os pandas”, diz Zhang Yalin, diretor-assistente do Instituto de Pesquisa em Saúde Mental da Faculdade de Medicina Universidade Centro-Sul. “Há apenas poucos milhares de nós.”
A imagem de fundo do poço da psiquiatria entre a comunidade médica desestimula os estudantes a adotarem a profissão. Dai Jun, estudante de medicina de 24 anos em Wuhan, no centro da China, diz que estudou psiquiatria quando se inscreveu na Universidade de Medicina Nanjing há seis anos porque era a única especialidade com vaga. Como interno, ele percebeu que os psiquiatras não eram tratados ou reconhecidos como os demais médicos.
“As pessoas pensam: 'ah, você está constantemente rodeado de gente louca. Talvez você mesmo vá enlouquecer, ou já seja louco. É por isso que quis fazer isso”, diz Dai.
Na primeira oportunidade que teve, ele mudou para ortopedia.
Embora as pesquisas sejam escassas, uma enquete recente do Ministério da Saúde sugeriu que a necessidade por mais especialistas está crescendo rapidamente. O estudo descobriu que a incidência de doenças mentais aumentou mais de 50% de 2003 a 2008. Embora parte do aumento deva-se a uma maior conscientização e relato de casos, Ma argumenta que a incidência de doenças relacionadas ao estresse como a depressão e a ansiedade aumentou.
“A sociedade chinesa está mudando muito rápido para que as pessoas se ajustem a ale”, diz ela.
O governo prometeu recentemente investir mais em cuidados com a saúde mental, principalmente derramando bilhões de dólares em hospitais psiquiátricos novos e reformados. Muitos hospitais psiquiátricos têm mais de um século de existência e se localizam – propositalmente – longe das cidades. A China acrescentou mais 50 mil camas em hospitais psiquiátricos entre 2003 e 2008. Mas é preciso mais do que isso: o Tibete, região quase três vezes maior do que a Califórnia, não tem nenhuma instituição psiquiátrica, diz o Instituto de Saúde Mental da Universidade Peking.
Como a maior parte da China rural, Xizhen, no sul de Guangxi, uma das províncias mais pobres da China, é isolada de serviços. Aqui, várias centenas de moradores cuidam de plantações de cana de açúcar e mandioca, tirando água de poços e cortando madeira para combustível. Pessoas sem treinamento, que se auto-intitulam médicos, cuidam da maior parte das necessidades médicas. O hospital mais próximo fica a uma hora de carro dali.
Yang Jiaqin era funcionário da saúde local. Embora nem ele nem sua mulher, Wen Zhaoying, tivessem treinamento além do colegial, os dois forneceram cuidados durante anos em uma minúscula clínica em frente à escola primária de Xizhen. Há cinco anos, diz Wen, tornou-se óbvio que seu marido era quem precisava de tratamento. Sempre tenso e com medo, ele se tornou obcecado com a ideia de que as pessoas o estavam perseguindo, diz ela.
Parentes enviaram Yang para um hospital psiquiátrico próximo. Os administradores do hospital disseram que cinco médicos atendem a toda uma região de mais de 1 milhão de pessoas. Lá, disse ela, um psiquiatra prescreveu um remédio que ajudou a acalmar seu marido. Ainda assim, os episódios ficaram mais severos.
Médicos do hospital psiquiátrico de Xangai diagnosticaram sua condição como esquizofrenia, administraram drogas antipsicóticas e, um mês depois, liberaram-no. Os familiares disseram que aquele foi o último encontro de Yang com um profissional de saúde mental.
Na primavera passada, Yang, 40, tinha medo de sair de sua casa de adobe mal iluminada.
“Tudo o que ele fazia era ficar em casa e chorar”, diz Wen.
Em 9 de abril, os demônios dentro dele tomaram o controle.
Naquela noite, Yang derrubou a porta de madeira de seu vizinho de 63 anos e o atacou com um machado na cabeça. No hospital onde os médicos deram pontos no ferimento do vizinho, o chefe da polícia local disse a ele: “Quando pessoas loucas machucam alguém, não há nada que possamos fazer.”
Wen disse que começou a tomar providências naquele fim de semana para colocar seu marido num hospital. A mãe de Yang, de 74 anos, Pei Renyuan, disse que sei filho alertou-a que se mataria e que “levaria todos junto com ele”. O irmão mais novo de Yang ficou encarregado de observá-lo.
Na tarde da segunda-feira, Wu Junpei, um menino entusiasmado de 8 anos que adorava desenhar, cantar e praticar ginástica, deixou a escola com amigos, cortando caminho como de costume pela casa de Yang em direção à sua, a dez minutos dali. Yang pulou no meio do caminho com um facão de cozinha e cortou o menino, que fugiu. Então ele se voltou para Junpei, cortando seu braço e pescoço rapidamente. Ao sair correndo da casa, Yang matou uma mulher de 70 anos que fabricava fogos de artifício, e um homem que assistia uma novela em seu sofá. Ele cortou a esposa do homem e uma menina que tirava água do poço.
A polícia, que ignorou o ataque anterior de Yang rapidamente, entrou em alerta de repente. A irmã de 20 anos de Junpei disse que os policiais foram até o hospital naquela noite, enrolaram o corpo de Junpei num lençol e saíram com ele num carro, ignorando os gritos de protesto.
O governo da província ainda precisa liberar o corpo, disse Wu. Os moradores dizem que o motivo provável da situação é que Wu se recusa a assinar uma declaração dizendo que ninguém é culpado pela morte de seu filho em troca de uma indenização de cerca de US$ 19 mil.
Chen, médico chefe do hospital psiquiátrico, diz que o ataque de Yang ocorreu porque “ele nunca esteve sob cuidado sistemático”. Sua família, diz ele, “não levou sua doença suficientemente a sério.”
Mas ele também disse que seu próprio hospital às vezes libera pacientes mentais simplesmente porque as famílias não conseguem pagar o tratamento.
“O governo precisa investir mais para que possamos cuidar de todos os pacientes que precisam de tratamento, independente de eles terem uma família que possa pagar ou não”, diz ele.
Chen e outro médico do hospital disseram que a condição de Yang se estabilizou agora. Seu objetivo é mandá-lo de volta para casa. Mas Wen disse que não pode cuidar dele nem cobrir as despesas do tratamento continuado. Ela disse que, se não pagar, funcionários do hospital disseram que seu marido seria liberado sob custódia dela. Zhang Xue, presidente do hospital, negou a informação.
O outono ainda está quente em Xizhen. Os fazendeiros colhem amendoins de camiseta regata. As crianças jogam bolinha de gude do lado de fora. Depois do jantar, os pais de Yang gostam de deixar a porta de madeira aberta para que o ar entre.
A mãe de Junpei costuma aparecer para queimar incenso na porta da casa deles, chorando no escuro. Ela e o marido dizem que a família de Yang está fingindo que ele é doente mental para protegê-lo.
Pei, mãe de Yang, diz que não consegue encarar o luto da mulher nem sua própria vergonha. Logo que ela a vê, fecha a porta.

Um Mundo de Gente: população mundial

 http://estereoscopia3d.files.wordpress.com/2010/08/discoverychannel.jpg

UM MUNDO DE GENTE
 (BBC) A população mundial está aumentando e pode passar de 9 bilhões nas próximas quatro décadas. Neste programa fascinante, o prestigiado naturalista e apresentador Sir David Attenborough aborda os problemas que enfrentamos como uma espécie em contínuo crescimento. Do México à Espanha, da China a Ruanda, ecologistas, demógrafos, fazendeiros, engenheiros e clínicas de planejamento familiar relatam os enormes desafios de atender a uma população que não para de crescer. Com 400 mil nascimentos a cada dia, David Attenborough pergunta: quantas pessoas podem viver no Planeta Terra? O controle de população deve ser um dever de cada um de nós?
 
 
20 de novembro de 2010
13:00
60 mins

Gabriel o Pensador faz clipe para "Tropa de Elite 2"

filme Um Homem Misterioso

 http://www.cinepop.com.br/fotos2/american_2.jpg

George Clooney de barba grisalha, ao lado de uma mulher nua na cama. Na cena seguinte, ambos andam pela neve até serem atacados por um atirador. Sem pensar duas vezes, Clooney o mata. A mulher se desespera e vai até o corpo, ele tenta acalmá-la. Assim que dá as costas a ele, é também morta. Pelo próprio Clooney, seu amante.

A cena inicial de Um Homem Misterioso revela muito de quem é seu personagem principal. Jack - ou Edward, depende de quem o chama - é um homem frio, sisudo, repleto de segredos os quais não divide com alguém. É também um especialista na construção de armas de fogo, feitas sob medida para os mais diversos tipos de assassinato. Seja de perto ou de longe, com ou sem silenciador, Jack/Edward está lá para solucionar o problema. Preocupado com o súbito ataque, ele parte para Roma e lá encontra seu contato, que lhe passa uma nova encomenda. Para realizar o trabalho, vai até a pequena cidade italiana de Castelvecchio. Lá, com o aviso de "não faça amigos" em mente, se passa por um fotógrafo.

Só que o ser humano não foi feito para viver sozinho. Ele tem necessidades, nem que seja de simplesmente dialogar com alguém. É desta forma que surge uma aproximação com o padre Benedetto, curioso com aquele homem que diz ser artista mas tem mãos de artesão. É assim também que se aproxima de Mathilde, prostituta que atende a outro tipo de necessidade. É através de ambos que algo começa a mudar no personagem principal.

Em determinado momento do filme, Benedetto diz que o inferno é um local sem amor. Nada mais preciso para definir a vida de Jack/Edward. Sem amor ou qualquer tipo de afeição, ele é um homem solitário que apenas cumpre muito bem seu traabalho e, por causa dele, vive sempre desconfiado. Pouco a pouco, ele passa a querer deixar este estado. Quer viver, ter alguém ao seu lado, sem se importar com a profissão de Mathilde. Só que há um problema: seu passado. E ele cobra um preço alto.

Um Homem Misterioso apresenta, de forma gradual, a transformação do protagonista de um ser frio e calculista para alguém que sonha com algo além de permanecer vivo. Uma mudança em muito auxiliada por George Clooney, que consegue, através da sutileza do olhar, transparecer os diferentes estágios de seu personagem. O filme conta também com diversas referências à Itália, como a explícita citação a Sergio Leone e até ao fato de uma prostituta se apaixonar por um cliente, e ao fato da história ser focada em um americano fora de seu país de origem, através da música "Tu Vuò Fà L'Americano". Um bom suspense, que consegue dosar a tensão usando o silêncio e explora, em certos momentos, a nudez de seus personagens

Rio de Janeiro: Segurança em Jogo

Assim que o Rio de Janeiro foi confirmado como cidade que abrigará os dois mais importantes eventos esportivos internacionais, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, surgiu a pergunta: a cidade estará preparada para receber esses eventos em segurança?

Esse é o ponto de partida do documentário RIO DE JANEIRO: SEGURANÇA EM JOGO, que estreia domingo, 21 de novembro, às 21h, no bloco “Discovery Apresenta”. A coprodução entre Discovery Channel e Mixer traz um panorama do que está sendo feito e dos desafios no âmbito da segurança pública – setor que receberá cerca de R$ 3 bilhões em investimentos nos próximos quatro anos.

Em busca de respostas, as câmeras do Discovery Channel sobem morros, percorrem portos, aeroportos e centros de treinamento de policiais. Fontes como Paulo Storani (ex-capitão do Bope e mestre em Antropologia), José Mariano Beltrame (Secretário de Estado de Segurança) e Rachel Coutinho (urbanista) pontuam o documentário com comentários sobre as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e com análises sobre a necessidade de reversão na imagem da polícia carioca junto às comunidades carentes, que sempre se viram no fogo cruzado entre traficantes e poder público.

RIO DE JANEIRO: SEGURANÇA EM JOGO, também aborda um tipo de ameaça com a qual os brasileiros não estão acostumados, mas que faz parte dos riscos envolvidos nos grandes eventos internacionais: os ataques terroristas. Sob o olhar de Marcos Do Val (instrutor da SWAT) e Rafael Vulej (ex-capitão da IDF, Israel Defense Forces (Forças de Defesa de Israel, e especialista em contra-terrorismo), vamos conhecer o potencial das táticas brasileiras.

RIO DE JANEIRO: SEGURANÇA EM JOGO é uma coprodução entre Discovery Channel e Mixer. A direção é de Rodrigo Astiz e Pedro Gorski. Pelo Discovery Channel assinam Carla Ponte, Supervisora de Produção, e Michela Giorelli, Vice – Presidente de Produção e Desenvolvimento .

Advogado do goleiro Bruno diz a emissora de TV que é viciado em crack; vídeo cai na rede

O advogado Ércio Quaresma --defensor do goleiro Bruno Fernandes de Souza no caso do desaparecimento e suposta morte da ex-amante Eliza Samudio-- revelou nesta terça-feira a um programa de TV de Minas Gerais que é viciado em crack há oito anos e que vem lutando contra a droga.
Quaresma disse à TV Alterosa --afiliada do SBT em Belo Horizonte-- que o viciado de crack se torna um "escravo" da droga, que, segundo ele, é "depois da bomba de Hiroshima, a mais avassaladora que o ser humano pode ter inventado".
O que levou Quaresma a dar o depoimento foi o fato, segundo ele, de existir um vídeo em que o advogado aparece fumando crack. Ele, então, precipitou a declaração que já pretendia dar mais adiante, conforme disse, e fez a revelação antes que o vídeo vazasse.
Assista ao vídeo:




Quaresma disse que, ainda na adolescência, entrou no mundo das drogas --fumou maconha e cheirou cocaína. Ficou quatro anos sem consumir nada, conforme afirmou. "Tive uma recaída, e a partir de oito anos pretéritos eu tive um ingresso nesse tenebroso mundo do crack", afirmou.
Há um ano e meio ele começou a se tratar, tentando controlar a vontade de usar a droga. Cedeu em três oportunidades, conforme disse.
"Nesse período, eu tive três intercorrências com utilização de crack. Uma delas deve ter gerado essa filmagem. Esse é um assunto que eu queria ter trazido à baila antes".
Quaresma disse que não fez a revelação antes porque conversou com sua mulher, também advogada, e ela achou que não deveria. Disse ter respeitado a opinião dela, mas que não podia mais evitar, já que o vazamento seria inevitável.
"É uma doença que você não tem controle sobre você. No ápice da crise, não existe o ser humano, existe uma vontade incontida de, cada vez mais, fazer uso daquela substância nefasta."
LIVRO
Com a ajuda do psiquiatra Ronaldo Laranjeira ele tem feito o tratamento. Com ele também disse estar escrevendo um livro para tratar da luta difícil para se livrar do crack.
Quaresma disse fazer um tratamento pesado, tomando em média 12 comprimidos por dia de psicotrópicos.
Segundo o advogado, ele foi fumar o crack em uma favela situada atrás do Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, onde aconteceram as investigações do caso Bruno.
"Eu tenho um dom, esse dom é a advocacia. Esse dom não vai sucumbir diante do vício do crack. Eu tenho uma família e ela não vai sucumbir diante do vício do crack."
VÍDEO
Quaresma disse ter sabido da existência do vídeo pela imprensa. Ele não apontou quem seria o autor da filmagem.
Por isso decidiu contar a sua luta. "É uma questão pessoal minha, de doença minha, não é um momento de felicidade, é momento de consternação, mas é momento de superação", disse, acrescentando: "E preciso ter cada vez mais força para lutar contra aquilo que me assola".
A Folha tentou falar com Quaresma, mas não conseguiu.

Orlandeli O dilema de Astolfo após abrir o biscoito da sorte


Sua vida acaba hoje




 

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Tráfico de pessoas: a vítima tem tudo a perder

Tráfico de pessoas: a vítima tem tudo a perder

Sob o título "Tráfico de pessoas", o artigo a seguir é de autoria de Edmundo Antônio Dias Jr., Procurador da República em Minas Gerais, e foi publicado originalmente no jornal "Estado de Minas" no dia 12/11:

Belo Horizonte sediou, nos dias 8, 9 e 10 de novembro, o I Encontro Nacional da Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, com os objetivos de fazer um balanço da execução do I Plano Nacional na matéria, bem como de formular diretrizes para o II Plano a ser elaborado. O tráfico de pessoas ainda é uma realidade no Brasil.  Para isso contribuem as marcas de autoritarismo de uma sociedade escravocrata formalmente abolida há 121 anos. Hoje, o tráfico de pessoas volta-se preponderantemente a abastecer as demandas da exploração sexual ou de mão de obra assemelhada à do trabalho escravo. A redução da pessoa a condição análoga à de escravo é crime previsto no art. 149 do Código Penal. O tráfico para fim de exploração sexual constitui os delitos do art. 231, se internacional, ou do art. 231-A, se interno.

No crime de redução a condição análoga à de escravo, as vítimas são cidadãos de direito e escravos de fato. Portanto, embora elas tenham, na expressão de Hannah Arendt, o direito a ter direitos, são impossibilitadas de exercê-los. É revelador que tal delito seja denominado como crime de plágio, do latim plagium, significando o roubo de uma pessoa. É disso que se trata, pois o que resta àquele de quem se subtraem a liberdade e a dignidade?

A traficância de pessoas para exploração sexual já era praticada na Roma Antiga, como um dos frutos podres das conquistas do Império Romano e, mais recentemente, mesmo países europeus que sofreram os efeitos perversos de guerras padeceram desse mal. Na atualidade, se há as pessoas (em sua grande maioria mulheres, mas também transexuais são vítimas do delito) que, cientes do que lhes espera, veem no traficante um benfeitor que pode lhes propiciar melhoria de vida ou, no caso do casamento servil, ascensão social, há de outro lado, ainda que em menor número, aquelas que assentem com a emigração diante da promessa enganosa de um trabalho de garçonete ou babá, p. ex.

A modernidade traz ainda outras cores grotescas ao tráfico de pessoas, qual o que é realizado para extração e comércio de órgãos como córneas ou rins. Em todos esses casos, excluído o tráfico interno às fronteiras nacionais, apresentam-se organizações criminosas transnacionais, nos termos definidos na Convenção de Palermo, ratificada pelo Brasil e aqui promulgada pelo Decreto 5.015/04. Um dos protocolos adicionais a essa Convenção cuida justamente da prevenção, supressão e punição do tráfico de pessoas.

Não é raro que uma pessoa que tenha sido traficada para prostituir-se passe de vítima a integrante da organização criminosa, voltando ao seu local de origem para aliciar outras mulheres, dando sequência, assim, ao ciclo vicioso. Daí a necessidade do acolhimento das vítimas, de modo que o Estado evite tanto a continuidade desse processo, como a revitimização de uma pessoa muitas vezes já fragilizada no tecido social do qual é oriunda.

De toda forma, a instrução de processos judiciais nessa seara é comumente bastante embaraçada, seja porque a organização criminosa atua em mais de um Estado nacional, dificultando o seu desbaratamento e a oitiva dos seus integrantes, seja porque algumas vítimas retornam ao país para onde inicialmente foram traficadas, o que contribui para a deficiência da prova.

Muitas vezes, sem visto de permanência no país de destino, as vítimas optam por ali viverem na clandestinidade, o que concorre para perpetuar a sua vitimização. A pessoa traficada, nesse caso, encontra-se em uma situação de ilegalidade que, embora de modo menos dramático, a aproxima de uma reflexão de Hannah Arendt sobre os refugiados. Celso Lafer, discípulo da pensadora alemã, e lembrando que ela mesma foi uma refugiada, cita um artigo de sua professora (We refugees), em que ela sintetiza da seguinte maneira a situação que vivenciou: “Perdemos nossos lares, o que significa a familiaridade da vida quotidiana. Perdemos nossas ocupações, o que significa a confiança de que temos alguma utilidade no mundo. Perdemos nossa língua, o que significa a naturalidade das reações, a simplicidade dos gestos...” Uma adequada política de imigração, no Estado de destino da pessoa traficada, pode, evidentemente, atenuar o problema.

PERFIL
Frederico Vasconcelos Frederico Vasconcelos, 64, nasceu em Olinda, Pernambuco. É formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco. Exerce a profissão desde 1967. Começou sua carreira em Recife, como repórter da sucursal Norte/Nordeste da revista "Manchete".
Fonte: Folha

Menina de 14 anos é primeira em ranking de leitores de livros

Menina de 14 anos é primeira em ranking de leitores de livros

1382 Menina de 14 anos é primeira em ranking de leitores de livros
Enquanto boa parte dos seus amigos gastam o dia moldando o sofá na sala de TV ou aquecendo a cadeira em frente ao computador, Marina Timm, 14 anos, devora páginas e páginas da literatura. São 23.194 delas apenas neste ano.
O feito rendeu à estudante o primeiro lugar no ranking do site Livros Só Mudam Pessoas. “É uma iniciativa que ajuda as pessoas a lerem mais”, explica o organizador, Sérgio Pavarini. Mensalmente os participantes informam o que leram no mês e se divulga o ranking no blog.
A devoradora de livros participa da iniciativa desde o ano passado, quando viu a sua mãe na lista. “A família inteira participa, mas esse ano disparei na frente de todos”, ri. O gosto da leitura vem de pequena, quando assistia à mãe e a avó abrirem obras na sua frente.
Marina não está em primeiro lugar pela sua quantidade de livros – 55 até outubro – e sim, pelo número de páginas (muito mais que o seu competidor mais próximo, com 16.056). É que a paixão da estudante são os romances históricos, especialmente os medievais e os de mistério. O livro que não sai das mãos da estudante da 8ª série agora é Ossos Inquietos, de Hugh de Singleton, sobre um assassinato na Idade Média, com 256 páginas. E o seu preferido é a coleção Percy Jackson do autor Rick Riordan, relacionado à mitologia grega. “Já li até o quarto da série”, diz quem se prepara para pegar o quinto da estante.
E o computador e a televisão? A garota de 14 anos afirma que costuma aproveitar a internet de tarde para ler à noite, mas já deixou a web de lado algumas vezes por causa de um enredo muito bom. Sobre a TV, Marina diz que não costuma incluí-la em sua rotina.
Os livros aproximam a menina das aulas, “porque gosto de romances históricos”, explica. Assim, ela consegue relacionar o enredo a conteúdos vistos em sala de aula. “Mas normalmente leio apenas por curiosidade pessoal”. Adolescentes tem muito o que aprender com Marina.

fonte: Terra

Velado e Revelado

Marina Silva

Ao longo de mais de 30 anos construiu-se no Brasil um campo de conhecimento e de ação que, nestas eleições, furou a última carcaça que ainda o mantinha longe do nível mais decisório da vida do país: a política. Com um rico acúmulo de produção teórica, experiências práticas, conquistas legislativas, institucionais e culturais, as propostas socioambientais para um modelo de desenvolvimento que dialogue com o século 21 começam a ser reconhecidas como um projeto nacional, abrindo uma brecha para a formação de nova força política.
Esse é o horizonte. Para consolidá-lo temos longa batalha pela frente, mas o passo essencial está dado. O projeto socioambiental não quer frear a economia nem empatar o crescimento. Quer tão somente fazer o encontro entre economia, ecologia, justiça social e desenvolvimento durável. É preciso amalgamar, juntar as pontas, dar escala e visibilidade ao que já está disperso na realidade, comparar com o modelo ainda dominante, transformar em alternativa real de escolha política.
O caminho está aberto, e muita gente, quase 20 milhões de pessoas, se interessou por ele. Pela primeira vez um projeto identificado com uma visão de transição de grande impacto consegue saltar do quase total desconhecimento para um adensamento eleitoral tão relevante. É uma base excepcional para pensar a construção de uma terceira via, para não só quebrar a polarização conservadora hoje representada pelo confronto PT X PSDB, como para motivar novos contingentes de brasileiros a assumir uma prática política ativa e nova, mais integradora, não destrutiva e menos obcecada por hegemonia.
A experiência de uma campanha desse porte extravasou minha capacidade de apreendê-la em toda sua riqueza, nesse momento. Vi-me entre um Brasil revelado – e que quer se revelar – e um Brasil velado, que quer se esconder na velha política das coisas meio vistas, meio ditas, meio comprometidas, meio esfumaçadas, inteiramente ultrapassadas. No cotejo entre ambos, fica patente o enorme equívoco do Brasil velado. Não percebe a intensa predisposição dos brasileiros a ouvir opiniões sinceras, que valorizam mesmo quando não concordam com elas. Preferem que a disputa se faça pela exposição do pensamento, das propostas e das práticas, não por meio de técnicas de mútua desconstrução, da qual ninguém sai maior. Nem atacante nem atacado, nem a ética nem a política.
Uma revelação honesta vale mais que a resposta ensaiada. Senti isso de maneira enfática na juventude. Em Varginha, Minas Gerais, uma escola inteira pressionou os professores para ir até o auditório da cidade ouvir minha fala. Em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, um grupo de jovens fez por sua própria conta cartazes improvisados de cartolina para aguardar nossa passagem. Essas manifestações movidas a pura vontade me deixam certa de que há uma terceira via política, vigorosa e inovadora, pedindo passagem. Para quem, como eu, disse que queria ser mantenedora de utopias, não poderia haver maior realização.
Ao mesmo tempo, constatei a força dos costumes que empurra muita gente a cobrar dos candidatos o ataque na jugular do oponente, o fazer dos defeitos alheios o seu trampolim. Ao me recusar a isso, parecia a muitos, num primeiro momento, que não estava sendo suficientemente contundente. Parte da imprensa vai muito por essa linha. O que surpreendeu a esses é que a nossa opção teve grande acolhimento. Há, de fato, espaço para tratar de problemas no seu mérito e na qualidade das soluções propostas.
Essas eleições merecem leituras criteriosas e profundas, não meras justificativas partidárias. É preciso reconhecer a exaustão do sistema político e a crise no campo social-democrata que acabou servindo, tanto do lado do PT quanto do PSDB, de biombo para a sobrevida política de velhas oligarquias. A campanha do Partido Verde causou perplexidade porque saiu do roteiro previsível e se legitimou de tal forma que exigiu respostas e sinalizações das demais campanhas. Que isso não seja considerado mero acidente de percurso, que não se pense que é modismo, porque não é.
Agora, o desafio do PV, do campo socioambiental e de todos aqueles que sentiram esperança numa mudança política, é colocá-la de pé. O desafio dos vencedores ou dos que ficarão na oposição é dialogar com a realidade e a complexidade do mundo e do Brasil de hoje, saindo do casulo de suas estratégias de poder reducionistas. Tenho certeza de que todos os eleitores esperam por isso, independentemente de suas paixões partidárias.
Como disse na Carta Aberta enviada a Dilma Roussef e José Serra, “não há mais como fechar os olhos ou dar respostas tímidas e insuficientes às crises que convergem para a necessidade de adaptar o mundo à realidade inexorável ditada pelas mudanças climáticas”. E repito aqui: o principal desafio não é a natureza, é a urgência de encararmos os limites dos nossos modelos de vida e de darmos um salto civilizatório, de valores.
A sociedade, afirmei na Carta Aberta, está entendendo cada vez mais o papel dessa mudança para o país, a humanidade e o Planeta. Os votos que me foram dados podem não refletir conceitualmente essa consciência, mas refletem o sentimento de superação de um modelo. E revelam também a intuição de que o grande nó está na política, porque é nela que se decide a vida coletiva, se consolidam valores ou a falta deles.
Essas eleições nos mostraram uma oportunidade única de inflexão. Será extremamente injusto com o Brasil não aproveitá-la.

Aceitação e consumo: o que as pessoas fazem por aceitação social?

Aceitação e consumo: o que as pessoas fazem por aceitação social?


Pessoas que se sentem excluídas de seus grupos sociais podem fazer um grande esforço para serem aceitas, até mesmo gastar dinheiro de forma excessiva e desenvolvendo hábitos excêntricos ou se envolvendo com o consumo de drogas. Essas são as conclusões de um artigo publicado no periódico Journal of Consumer Research.
Aceitação e consumo: o que as pessoas fazem por aceitação social? “A exclusão social força, de certa forma, algumas pessoas a usar o dinheiro e o consumo como uma forma de ‘afiliação’ a um determinado grupo”, diz Nicole Mead, pesquisadora da Universidade de Tilburg, na Holanda, que desenvolveu o estudo com outros pesquisadores de diversas universidades.
De acordo com os pesquisadores, essas pessoas que se sentem excluídas de determinados grupos sociais – o que é comum quando uma pessoa muda de cidade ou Estado – procuram pistas de como se encaixar novamente em um novo grupo. Elas então usam o consumo de forma estratégica para articular símbolos e criar novos laços sociais e relacionamentos.
Para chegar a essas conclusões os autores criaram “jogos de laboratório”, em que grupos de desconhecidos se reuniam. Alguns participantes eram induzidos a criar uma separação e isolar determinados indivíduos. As “reuniões” ocorriam durante vários dias, e notou-se que alguns indivíduos mudavam seu padrão de comportamento e de roupas, por exemplo. Em outro experimento os participantes formavam duplas, mas um dos indivíduos deixava de participar do experimento repentinamente, deixando a outra pessoa sozinha. Os padrões de consumo dessas pessoas, nos momentos após essa “rejeição”, também se alteravam.
Dois exemplos desse tipo de consumo podem ser vistos em um dos participantes, que para agradar a um grupo formado basicamente por orientais, se dispôs a pagar uma soma muito alta de dinheiro por uma determinada refeição (e cujo preço foi inflacionado pelos pesquisadores).
Em outro exemplo, um indivíduo, que antes do experimento afirmava nunca ter experimentado nenhum tipo de droga, após um tempo de isolamento social chegou a propor aos outros participantes que eles se envolvessem no consumo de cocaína.
Todos esses padrões de consumo (inclusive de artigos ilícitos) eram a forma que esses indivíduos isolados conseguiam barganhar a sua presença e aceitação entre os grupos sociais determinados nos estudos. E isso ocorre mesmo que os indivíduos isolados tenham de se engajar em atividades perigosas ou que não sejam parte de seu rol de preferências, finalizam os pesquisadores.