Patologia familiar
Algumas características estruturais familiares dificultam o equilíbrio e o bem-estar grupal e fomentam o processo de adoecer em seus membros. Como entender, lidar e conviver com a desorganização psíquica do clã
Por Anderson Zenidarci
A palavra família é originada do latim famulus e significa escravo doméstico. Este termo foi criado na Roma Antiga para classificar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas na agricultura e na escravidão legalizada. E atualmente?
A estrutura familiar existente hoje é resultante das inúmeras e múltiplas mudanças demográficas e geográficas que aconteceram na História da Humanidade, com adaptações específicas, visando principalmente à manutenção e sobrevivência.
A família é definida como um grupo de pessoas de mesmo sangue, ou unidas, por casamento ou adoção. Neste contexto é também uma instituição constituída por uma série de pactos de afiliação, agregamento e aliança, aceitas pelos membros.
Até mesmo os grupos tribais que formam uma constituição predominantemente familiar, precisam renunciar às características inatas ao ser humano, como a agressividade e outros instintos naturais. Essa castração permite o comportamento civil e as posturas éticas |
A noção e a estrutura da família se transformam através dos tempos, acompanhando mudanças religiosas, econômicas, políticas e socioculturais do contexto em que se inserem. Ela é resultado e consequência, mas ao mesmo tempo, é agente transformador.
É um espaço a ser constantemente renovado e reconstruído, nele o conceito de proximidade encontra-se realizado mais que em qualquer outro espaço social, sendo visto como um ambiente político de natureza criativa e inspiradora. Deve ser entendida como um todo que integra vastos contextos, como o grupo, as instituições, a comunidade e a sociedade em que está inserida. É conhecida como a célula básica ou fundamental de uma sociedade, e o estudo de seus aspectos particulares revela grande parte do macrossocial em que atua. Sabemos que cada família é única e tem características muito particulares, como os níveis socioeconômico e cultural - afetivo, a partir dos quais é composta. Também sabemos que todas apresentam características que podemos identificar como integrantes desta instituição universal.
Antropólogos, sociólogos e psicólogos sociais apontam que a estrutura familiar se desenvolveu, se consolidou e se mantém exatamente pela função e importância de conservar valores, comportamentos, crenças, regras, ações e fundamentações para um convívio entre seres racionais. As reproduções desses valores visam normatizar o convívio dos indivíduos no grupo, não se atendo ao indivíduo enquanto referência (identidade, necessidades, desejos, características), mas sim à sociedade.
Castração coletiva
Sermos socializados, na realidade, significa sermos castrados em nossas pulsões e instintos, em prol de uma normatização de comportamentos, posturas e atitudes que são interpretadas como adequadas dentro do meio social dominante no contexto. Desde os nossos primórdios, esse processo determina comportamentos adequados (ou não), e posturas éticas (ou não) que nos molda ao já existente.
Esse processo, parte consciente (racional) e parte inconsciente (significados simbólicos introjetados), ocorrem para que possamos fazer parte do nosso núcleo próximo e, consequentemente, da sociedade como um todo.
Podemos dizer que para sermos aceitos, termos amor e nos sentirmos pertencentes, renunciamos a características inatas, necessárias e grandemente responsáveis pela sobrevivência da nossa espécie.
Esta renúncia concretiza a participação do indivíduo em um sistema de membros interdependentes que possuem e desenvolvem, teoricamente, dois atributos: a integração dos membros dentro da família e a interação destes membros com outros núcleos familiares e instituições oficiais organizadas.
O objeto central de todo esse processo é a sociedade, com isto, intensos conflitos pessoais são gerados, já que a particularidade e a unicidade das pessoas, em sua grande maioria, não são respeitadas.
Como todo organismo vivo e mutante, a família pode apresentar situações de organização e harmonia entre seus membros, e também situações de desarmonia e conflitos, o que não configura nenhum tipo de preocupação, pois toda instituição e/ou pessoa vivencia estas oscilações. O organismo família apresenta flutuações e acomodações de novos acontecimentos e situações que alteram e modificam sua constância e dinâmica. Essas situações podem desencadear emoções e sentimentos conflituosos e como consequência favorecer ou potencializar o desequilíbrio.
A ESTRUTURA FAMILIAR É RESULTADO E CONSEQUÊNCIA, MAS AO MESMO TEMPO, É AGENTE TRANSFORMADOR
O membro de uma família pode desenvolver algumas doenças psicossomáticas como forma de comunicação e elo afetivo familiar |
Manifestação sintomatológica
As famílias em que as situações de desarmonia ou conflitos tornam-se intensas, frequentes e prolongadas, gerando assim um continuum de desequilíbrio, são preocupantes porque configuram interações patológicas. O que podemos observar é que, frequentemente, como consequência direta dessas interações, os indivíduos entram no processo de adoecer.
A família não só é responsável pela lapidaçãl pela idação e formação de seus membros, como também pela sua distorção e deformação.
Neste aspecto uma complexa e abrangente manifestação sintomatológica denuncia dificuldades, inadequações e transtornos tanto sociais, como afetivos e psicológicos dos indivíduos dentro das micro e macroestruturas. Nossos conflitos familiares também, e sempre, são demonstrados e revelados nas patologias que desenvolvemos.
Consideráveis tipos de desorganizações familiares noticiadas no dia a dia, mais frequentes do que imaginamos, são identificadas e/ou divulgadas em casos extremos, sempre quando outra transgreção social ou ética ocorreu.
As famílias que apresentam acentuado grau de desorganizações, em que cada elemento colabora introduzindo no grupo o perfil patológico, possuem situações de codependência entre seus membros. O vínculo afetivo é principalmente externalizado pela dor, cuidado e preocupação. O conjunto passa a ser mais comprometido do que o comprometimento pessoal e as dificuldades individuais. Em casos, não raros, a doença é quase uma imposição, adoecer é estar integrado e pertencer ao clã.
Neste cenário encontramos um ou mais indivíduos que desenvolvem algum tipo de patologia como forma de comunicação e elo afetivo familiar, este elemento, o P. I. - Paciente Identificado, é o elemento mais sensível ou mais desorganizado ou ainda o depositário dos conflitos familiares.
Ocorrem duas tendências no adoecer do P.I., a Psiquiatrização é uma delas, em que um elemento desenvolve uma patologia psíquica considerada grave como forma encontrada para conseguir viver (ou sobreviver) no meio conflitante. É também um recurso desastroso de desfocar a atenção das pessoas que compõem a família, gerando o conflito, para que haja uma reorganização e uma tentativa de equilibração entre os membros. O paciente psiquiátrico externaliza seus conflitos e dores na doença.
Outra tendência é a Psicossomatização, onde um elemento desenvolve e assume a doença física, geralmente grave e que necessite de cuidados continuados e cirurgias, por exemplo, um câncer. Normalmente é incapacitante, fazendo da pessoa dependente do grupo. Este P.I., por não ter instrumentos internos para lidar com suas dores e conflitos gerados no ninho, adoece fisicamente como forma de reorganizar e denunciar o meio familiar comprometido ou patológico. É um recurso drástico, e algumas vezes letal, que visa à cura ou à interrupção de uma doença anterior à sua.
Heranças familiares
Adoecemos para interromper conflitos; pedir afeto; receber atenção e cuidados; nos redimir de culpas; pela sensação de não merecimento; por autopunição e para tentar o equilíbrio. Entre os vários ângulos que podemos observar uma pessoa, um dos mais significativos é o mapeamento de sua matriz familiar, que vai ser determinante para o entendimento do seu processo e de sua necessidade de adoecer.
Nesta concepção pouco usual é necessário identificar as heranças recebidas. Devemos entender que recebemos heranças familiares muito mais profundas e estruturais do que qualquer bem material. Junto com nossos sobrenomes também recebemos um estilo, modos, características, formas de pensar, valores, credos, crenças, conceitos, pré-conceitos e todas as características que nos fazem pertencer a este clã. Outro aspecto herdado a ser observado são os fatos relevantes e significativos positivos ou negativos ocorridos nas últimas quatro gerações familiares, recebemos "ruídos" dos fatos de forma inconsciente e sofremos sequelas destes acontecimentos.
Às vezes as heranças familiares que recebemos dos dois clãs, não são construtivas e aconchegantes, mas para honrarmos o vínculo, as cumprimos apesar de negativas. Ainda sobre aspectos herdados, podemos pensar no traço familiar físico e emocional, que são características genéticas específicas que dão ao grupo identidade e reconhecimento familiar, como resultante do biótipo que desenvolve uma identidade coletiva. O traço emocional é resultante dos perfis de personalidade e temperamento dos membros e da interação e integração entre eles.
Somos obrigados a honrar e/ou reproduzir toda nossa herança? Quando não reconhecemos, identificamos e reorganizamos, por meio da reflexão ou consciência, a tendência é ocorrer à repetição do ciclo vicioso que se estabelece nas relações primárias. Necessitamos quebrar paradigmas para podermos reler nossas possibilidades, opções, escolhas e atuações.
A formação de um indivíduo seguro, centrado, afetivo, atuante e com capacidade de discernimento e resolução de situações de conflito e estresse depende de muitos fatores ligados ao vínculo familiar ou social. São características familiares desestabilizadoras, que propiciam o processo do adoecer da pessoa e/ou do grupo.
Quando surge, em um determinado membro da família, um distúrbio ou uma doença psíquico, todos os outros membros são afetados. Sua percepção sobre a doença muda, sua relação com o paciente e o comportamento mudam, devido à adaptação à nova situação |
Patologias cotidianas
Famílias que vivenciam algum tipo de situação- limite (suicídio de um dos membros, homicídio, sequestro, assalto, desaparecimento de pessoa da família) frequentemente manifestam através de sintomatologias, e até patologias psíquicas, os seus traumas e suas dores emocionais.
O grupo, como forma de manifestação inconsciente, pode desenvolver o Transtorno de Estresse Pós-Traumático.Ele surge e se desenvolve após a exposição direta, ou não, a um extremo estressor ameaçador da integridade física e/ou moral própria ou de outra pessoa significativa em seu universo.
As manifestações exuberantes e abrangentes enquanto sintomatologia denunciam a fragilidade psíquica dos seus membros, que foram afetados diretamente pelo episódio estressor. Características desorganizadoras pessoais afloram e então surgem: depressão, pânico, sensação de impotência, medo intenso, sonhos recorrentes da ameaça, paranoia, sofrimento psicológico intenso, afeto embotado e/ ou restrito, irritabilidade aumentada, alteração no sono e/ou alimentação, redução da libido e resposda libid respo - tas sobressaltadas a eventos corriqueiros.
Portanto, o grupo passa a viver uma percepção de realidade totalmente ameaçadora. Neste contexto as relações de dependência e codependência são estruturadas dentro da necessidade de integração e identidade grupal, e o grupo em determinado ponto perde o parâmetro de adequação e realidade, gerando a patologia familiar.
Em relação à codependência, outros fatores como o TOC (jogo, compras, comida, ordem, limpeza), a síndrome do pânico (e suas intensas limitações sociais), a violência doméstica (agressões, abusos, alcoolismo, drogadicção) são grandes facilitadores e desencadeadores desse tipo de relação simbiótica.
Nela todos os membros passam a viver, se comportar e acabam se adaptando ao universo do indivíduo-problema, que contamina as relações e estabelece comportamentos, atividades e restrições ao grupo.
A família sucumbe à doença e não consegue, ou não pode, ver e/ou encontrar alternativas de resolução das situações ou outras formas de agir. Com esta dinâmica o problema se torna crônico, todos estão doentes e colaboram com a manutenção da situação, por mais desconfortável que possa parecer.
NOSSOS CONFLITOS FAMILIARES TAMBÉM, E SEMPRE, SÃO DEMONSTRADOS E REVELADOS NAS PATOLOGIAS QUE DESENVOLVEMOS
Manutenção dos transtornos
Para completar o panorama, seus desdobramentos e consequências na manutenção dos transtornos dos membros, vale ressaltar que existe, porém é pouco nomeada, a elitização dos tipos de doenças e a reação da estrutura familiar (organizada ou patológica) a elas. Socialmente a pessoa que apresenta uma enfermidade física é vista como digna de cuidados, atenção e não responsável (salvo exceções) pela patologia que apresenta.
Ela passa a ser vítima do seu próprio corpo que adoeceu, atribui-se ao acaso, à hereditariedade ou a algum tipo de hábito de vida como causa da doença. Nenhum destes fatores aventados como possíveis causas são suficientemente fortes para desqualificar os membros da família e mesmo o próprio enfermo. Ao surgir, este fato configura-se como uma situação inusitada para todos da família, pois ocorrem alterações dos papéis sociais e das atribuições e funções domésticas.
O membro afetado deixa de exercer o seu papel dentro da estrutura familiar e também passará a apresentar necessidades que antes não possuía de ser cuidado e/ou monitorado. A família sofre uma "revolução" por um período de tempo, o necessário para que as situações se acomodem, ocorre um caos generalizado. Aqui se observa a distinção entre a família patológica e a organizada. Na organizada, as pessoas passam a ser cuidadoras do enfermo, se reorganizam para que a estrutura se mantenha e as novas necessidades sejam atendidas. A família é reconhecida e identificada pelos cuidados e atuação. Ocorre uma valorização do núcleo familiar que é a principal e, na maioria das vezes, a única fonte de amparo para o doente. Todos recebem solidariedade e apoio para enfrentar a situação.
Alguns sintomas
Transtorno de estresse pós-traumático é um grave transtorno de ansiedade que pode se desenvolver após a exposição a qualquer evento que resulta em trauma psicológico. Este evento pode envolver a ameaça de morte para si ou para outrem. Sintomas de diagnóstico de TEPT incluem re-experimentar o trauma original por meio de flashbacks ou pesadelos, esquiva de estímulos associados ao trauma, e aumento da excitação - como dificuldade de iniciar ou manter o sono, raiva e hipervigilância
O descaso com um membro adoecido ocorre na família patológica. Nestes casos, o doente passa a ser um estorvo. É comum ninguém assumir, nem dividir, o papel de cuidador |
Família patológica X Organizada
Na família patológica o doente passa a ser um estorvo. O grupo não se reorganiza, já que nem organizados estavam, para enfrentar a nova situação. Ninguém quer assumir, nem dividir, o papel de cuidador; e o doente, já representante da patologia coletiva, amarga o descaso e a negligência do grupo. Este elemento tende a tornar crônico ou agudo seu quadro para pedir atenção. A família patológica sente que a mácula se encontra no clã. Poucos entendem e atuam adequadamente com as centenas de tipos de transtornos psíquicos existentes e possíveis de acontecer com alguém da família. Posicionamentos como: fingimento, fraqueza, dúvidas sobre a existência da doença e tormento espiritual são comumente encontrados na fala das famílias cujo indivíduo entra em crise. Diferentemente da pessoa que apresenta uma doença física, aqui o doente passa a ser visto como responsável e culpado por estar assim, e a família sente medo de ser malvista e julgada pelo grupo social. É "feio e vergonhoso" ter alguém louco na família. Por sua vez, o social também discrimina e preconceitua o doente e a família. Cada elemento que compõe o grupo patológico está mais preocupado consigo mesmo e com sua imagem, do que com o doente.
Na família organizada, o transtorno psíquico de um de seus membros, afeta além do portador, a família e, principalmente, os familiares que estão diretamente envolvidos no cuidado. Estes familiares, a partir do momento em que se deparam com esta situação, sofrem uma significativa mudança em suas vidas, tendo que se adaptar constantemente às novas formas de conduzir o dia a dia. Surge a necessidade de mais informações, conhecimentos e orientações sobre o transtorno psíquico, com o qual estão lidando. Apresentam uma postura integrativa e não desqualificadora do doente e da doença.
Logicamente que estas mudanças repercutem sobre vários aspectos do estilo de vida de cada família acometida, gerando com certeza situações inusitadas e difíceis de se lidar. As representações identificadas acerca da doença estão entrelaçadas às experiências pessoais de cada pessoa, mas refletir coletivamente sobre os problemas e elaborar os sentimentos advindos da situação propiciam a descoberta, o reconhecimento de novas possibilidades de enfretamento e a cumplicidade entre os membros para enfrentar essa adversidade.
No aspecto social a reação é semelhante nos dois casos, a família passa a ser alvo de comentários sociais sobre a loucura do seu membro, perde o status e o "valor no mercado" nas trocas dos membros para união. Passam a ser vistos de forma cautelosa pela implacável sociedade.
O diferencial aqui, também está na postura dos membros da família organizada, eles tem como preocupação e foco de atenção a recuperação do elemento comprometido. Esta pessoa tende à recuperação do seu quadro em um período menor de tempo e de um modo menos traumático.
É POSSÍVEL ENCONTRAR INDIVÍDUOS QUE DESENVOLVEM ALGUM TIPO DE PATOLOGIA COMO FORMA DE COMUNICAÇÃO E ELO AFETIVO FAMILIAR
Neurose familiar
O termo 'Neurose Familiar' é utilizado para designar famílias em que as neuroses individuais se completam, se condicionam e é fomentada reciprocamente. Este termo também evidência a influência patogênica que a estrutura familiar exerce sobre seus membros. Ela não tem uma característica sintomatológica única e exclusiva, pois é a somatória do estado crônico de vários tipos distintos de neuroses individuais.
Cada família apresenta sua característica particular e com isto "organiza e estrutura" sua neurose coletiva de forma exclusiva e diferenciada. Podemos identificar que em todas ocorre uma dificuldade de seus membros em romper com a patologia, que dá unidade ao grupo. Como chegamos a isto? Uma longa, improvável e árdua trajetória humana de tentativas de convivência social poderia ser o início da reflexão.
História da Família
Os dados provenientes de diversas etnografias, histórias, legislações e estatísticas sociais, estabelecem que a família humana é uma instituição e não uma realidade biológica fundada sobre as relações naturais de consanguinidade. Um dos primeiros estudiosos da história da família biológica foi Darwin (foto) em sua Teoria da Evolução de sistemas familiares. Outro grande pensador foi Friedrich Engels, que publicou o livro A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado
A Psicossomatização é quando um dos familiares desenvolve determinada doença física, geralmente grave, e que necessite de cuidados continuados e cirurgias. Incapacitado, o indivíduo se torna dependente do grupo, o que gera a reorganização do meio familiar comprometido ou patológico |
Cuidando do cuidador
Independentemente da linha teórica ou da abordagem utilizada pelo técnico, na terapia de suporte ou orientação familiar, e elas são inúmeras (modelos: sistêmico, psicanalítico, psicodinâmico, cognitivo, fenomenológico, etc.), devemos identificar, mapear e atuar na estruturação e dinâmica da família paciente. Nela encontramos a figura do doente, em si, e a do cuidador. Este agente foi eleito, ou mesmo se elegeu, como responsável pelos tratamentos e cuidados com o doente. As relações vinculares são determinantes e até impositivas para o desempenho deste papel dentro do núcleo familiar.
O cuidador, eclipsado pelo próprio doente, ocupa seu devido lugar na atenção dos profissionais da área de saúde. O cuidador deve ser cuidado. No perfil característico do cuidador leigo inclui o abandono e o descuido de si em prol do outro. Suas necessidades, prazeres e atividades são sistematicamente sufocados e passa a existir a necessidade de servir. A vida do cuidador é colocada em segundo plano para ele mesmo. E o que acontece? O cuidador adoece! Por estresse, esgotamento, pedido de socorro, identificação, cumplicidade ou ganhos secundários. Em função deste cenário estamos cada vez mais cuidando do cuidador.
Anderson Zenidarci é psicólogo clínico; coordenador e professor do curso de Especialização em Transtornos e Patologias Psíquicas pela FACIS; professor convidado do curso de Especialização em Saúde Hospitalar pela PUCSP; Coordenador e professor do curso de Extensão e Aprimoramento O ciclo da vida e a construção do adoecer: uma visão psicossomática pelo Centro de Estudos de Psicopatologia, Psicossomática e Áreas Afins - CEPPA - SP
Referências
WINNICOTT, D. - A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
MINUCHIN, S. - Famílias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 2006.
SARACENO, C. - Sociologia da Família. Lisboa: Estampa, 2008.
PALAZZOLI, M. S. ; CIRILLO, S. ; SELVINI, M. ; SORRENTINO, A.M. - Os jogos psicóticos na família. São Paulo: Summus Editorial, 2006.
RICHTER, H. E. - A Família como Paciente. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2006.
MELLO FILHO, J. ; BURD, M. - Doença e Família. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
CALIL, L. L. - Terapia Familiar e de Casal. São Paulo: Summus Editorial, 2007.
Fonte: Revista Psiquê